Etnias da Namíbia processam Alemanha por crimes coloniais
6 de janeiro de 2017
Povos herero e nama exigem compensações por desapropriações de terra e pelo massacre ocorrido no início do século 20, quando país africano era uma colônia alemã.
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Representantes dos povos herero e nama da Namíbia entraram com um processo contra a Alemanha num tribunal de Nova York pedindo compensações por desapropriações de terra e pelo massacre ocorrido no início do século 20, quando o país no sudoeste africano ainda era uma colônia alemã.
Os chefes herero, Vekuii Rokoro, e nama, David Frederik, exigem ainda que representantes de seus grupos estejam envolvidos nas negociações entre os governos da Alemanha e da Namíbia.
A queixa se baseia no argumento de que um quarto do território dos herero e nama foi desapropriado pelos colonos alemães entre 1885 e 1903 com o consentimento das autoridades coloniais. Os colonos teriam ainda estuprado mulheres e meninas e submetido a população a trabalhos forçados.
Após a eclosão de uma revolta em 1904, o general do império alemão Lothar von Trotha liderou uma campanha de extermínio que resultou na morte de mais de 100 mil hereros e namas. Os representantes das duas etnias exigem compensações pelas morte ocorridas durante a ocupação alemã. Eles afirmam que agem em nome de hereros e namas em todo o mundo. Em outubro, Rukoro anunciara, durante uma visita a Berlim, que o povo da Namíbia iria exigir compensações e que nenhuma das etnias aceitaria um pedido de desculpas que não incluísse reparações.
Até recentemente, o governo alemão defendia que "os eventos históricos" só poderiam ser considerados genocídio depois da entrada em vigor da Convenção da ONU para a Prevenção e Repressão de Genocídios, de 1951. Porém, em 2016, o Bundestag (parlamento) aprovou uma resolução que classifica como genocídio o massacre de armênios pelo antigo Império Otomano, o que irritou o governo da Turquia.
Segundo o jornal Frankfurter Rundschau, o governo alemão ressaltou que, no contexto de um debate histórico-político, o termo genocídio pode ser empregado no sentido "não jurídico", significando que isso não implicaria consequências legais para a Alemanha.
RC/afp/rtr
Namíbia, um olhar pós-colonial e pessoal
País da África foi colônia alemã de 1884 a 1915 e território sul-africano até 1990. Como é a Namíbia após 25 anos de independência? Trabalhadores e estudantes respondem com fotografias.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Marama Kavita
Câmeras descartáveis para todos
Num projeto experimental, em 2007 a pesquisadora de teatro Evelyn Annuss e a artista Barbara Loreck, ambas alemãs, distribuíram câmeras fotográficas descartáveis a centenas de namibianos, com o convite: "Fotografem-se! Como é seu país depois da época colonial alemã, da ocupação e da libertação?" Esta foto é de Paulus Jacobs, da cidade portuária de Lüderitz.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Paulus Jacobs
Mudança de planos
"Nossa intenção, na verdade, era que eles encenassem para a câmera o que consideram 'germanness', ou 'alemãozice'", conta Evelyn Annuss. "Mas o resultado foi totalmente diferente: as pessoas não se interessaram tanto pela história colonial, e sim por encenar o próprio dia a dia diante da câmera." Clemensia Haragaes fotografou o bairro de Katutura, na capital Windhoek.
Como num jogo de telefone sem fio, as câmeras circularam pela Namíbia. O resultado foram mais de 5 mil imagens. Os namibianos mostraram não dar muito valor aos direitos autorais. "Tentamos descobrir quem havia feito quais fotos, mas muitas vezes não foi possível, porque as pessoas não tiveram interesse em se identificar." Para Evelyn Annuss, um projeto artístico no melhor sentido do termo.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Memory Biwa
De Windhoek à Suíça
As fotografias foram expostas pela primeira vez na National Art Gallery de Windhoek, em 2009. Por ocasião dos 25 anos da independência da Namíbia, em 21 de março de 2015, o centro de documentação Basler Afrika Bibliographien e a embaixada namibiana na Suíça voltam a exibi-las na Basileia e em Genebra. Entre elas, esta imagem feita por Memory Biwa.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Memory Biwa
Vida simples em local nobre
Emolduradas e expostas na galeria nacional de arte, as imagens cotidianas ganharam expressão fortemente artística. "Foi extremamente importante para as pessoas conquistar esse local, pois a maioria dos fotógrafos vem de antigas 'townships' ou bairros pobres." Esta foto foi tirada por Marama Kavita.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Marama Kavita
Teatro do cotidiano
Muitos trabalhos evocam instantâneos teatrais ou cenas de filme. "As pessoas se fantasiaram e se encenaram de uma certa maneira", conta a pesquisadora Annuss. Suas fotos diferem muito dos supostamente autênticos motivos de cartão postal ou dos registros de miséria apelativamente compostos, que marcam a imagem da Namíbia na Alemanha. Aqui, Anke Langmaak apresenta o Carnaval em Windhoek.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Anke Langmaak
Multiplicidade namibiana
Um grupo de mulheres da etnia herero se posiciona diante de iglus. Uma jovem fantasiada de turista posa diante da imagem de um veado que ruge. Crianças de olhos azuis festejam o carnaval em Windhoek: cenas cotidianas de pontos de vista sempre novos. Marama Kavita retrata aqui o Dia dos Herreros em Okahandja.
Foto: baslerafrika.ch/Evelyn Annuss/Marama Kavita
"Olha só como tu me vês!"
As autoras do projeto não escondem sua surpresa, pois os fotógrafos contrariaram todas as suas expectativas e projeções sobre a vida na Namíbia, como que dizendo: "Vou te mostrar como tu me vês!" Esta visão é de Cesilie Benjamin. A exposição "Stagings made in Namibia" pode ser também visitada através de um catálogo publicado pela editora B_Books.