"Eu sei quem quis me matar", diz opositor russo Navalny
14 de dezembro de 2020
Reportagem investigativa revela que pelo menos oito agentes do serviço secreto russo estariam envolvidos no ataque com veneno ao crítico do Kremlin.
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O dissidente russo Alexei Navalny, envenenado na Sibéria em agosto com o agente neurotóxico Novichok, acusou nesta segunda-feira (14/12) agentes da força do Serviço Federal de Segurança da Rússia, o FSB (sucessor da KGB), de estarem por trás do ataque.
"Eu sei quem quis me matar", diz o ativista em um vídeo de quase uma hora postado no YouTube, antes de publicar os retratos dos acusados. A operação, segundo Navalny, teria sido conduzida por uma equipe de pelo menos oito agentes a mando do presidente Vladimir Putin.
Segundo o site investigativo Bellingcat, que participou da investigação em apoio ao líder oposicionista, o esquadrão especial do FSB, já havia tentado envenenar Navalny em pelo menos outras duas ocasiões. Além disso, agentes disfarçados vinham perseguindo o oposicionista em diversas viagens desde 2017.
Como evidência de que o FSB estava rastreando seus passos, o ativista citou registros telefônicos e de linhas aéreas. Segundo a reportagem, a equipe da agência de espionagem o acompanhou em mais de 30 voos distintos.
Tentativas frustradas
A primeira tentativa de envenenamento pode ter ocorrido em julho deste ano, quando Navalny viajou para Kaliningrado com sua esposa, Yulia. Na ocasião, Yulia passou muito mal repentinamente, mas se recuperou na manhã seguinte.
Navalny atribui o fracasso das duas primeiras tentativas a uma dosagem muito pequena do agente químico. Segundo ele, o esquadrão especial precisava ser cuidadoso para não provocar uma morte instantânea, que seria muito fácil de investigar.
As autoridades russas negaram repetidamente que Navalny foi envenenado com Novichok, um agente nervoso desenvolvido pela União Soviética, alegando que não havia evidências concretas para apoiar tal afirmação.
Dois dias depois de Navalny ter adoecido a ponto de quase morrer em 20 de agosto, ele foi transportado em coma induzido para Berlim, onde recebeu tratamento. Posteriormente, laboratórios na Alemanha, França e Suécia determinaram que o envenenamento se deu com Novichok.
IP/dpa/ots
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.