EUA abrem caminho para retorno do Boeing 737 MAX aos céus
18 de novembro de 2020
Modelo permaneceu quase dois anos sem voar após dois acidentes revelarem falhas no projeto. Fiasco provocou prejuízo bilionário para a Boeing. Anac afirma que liberação de voos no Brasil ainda está sendo avaliada.
Anúncio
Reguladores dos Estados Unidos autorizaram, nesta quarta-feira (18/11), o retorno do Boeing 737 MAX aos céus, quase dois anos depois de ordenarem que todos os modelos ficassem em terra, devido a dois acidentes que deixaram 346 mortos em cinco meses. As ações da Boeing subiram cerca de 6% depois do anúncio.
O modelo não voltará a voar de forma imediata em todo o mundo, já que as autoridades do setor aéreo de outros países ainda devem realizar suas próprias certificações.
Entre esses países está o Brasil. Nesta quarta-feira, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que a liberação para retorno das operações das aeronaves 737-8 MAX no Brasil ainda depende do término dos trabalhos de seu próprio processo de validação das modificações do projeto. A companhia área Gol, no entanto, já anunciou que espera retomar os voos dos seus 737 MAX em 30 dias.
Mesmo nos EUA, o retorno não deve ser imediato. A Agência Federal de Aviação americana (FAA, na sigla em inglês) informou, em comunicado, que ainda deve aprovar a formação necessária para os pilotos antes de qualquer voo do 737 MAX sobre o espaço aéreo dos EUA.
A formação deve se concentrar no software de controle de voo MCAS do 737 MAX, que os pilotos dos voos da Lion Air em 29 de outubro de 2018 e da Ethiopian Airlines em 10 de março de 2019, que terminaram em tragédia, tiveram dificuldades para controlar.
"Foi um longo e exaustivo caminho até essa decisão", disse o diretor da FAA, Steve Dickson. "Mas desde o início, nós dissemos que levaríamos o tempo necessário para fazer direito. Nunca nos guiamos pelo tempo. Seguimos um processo metódico", acrescentou Dickson, que chegou a pilotar o 737 MAX num voo de teste em setembro.
As companhias aéreas também terão de fazer trabalhos de manutenção nas aeronaves, que estão paradas há mais de 20 meses. A American Airlines já programou um voo para o fim de dezembro.
Já os aparelhos estocados na sede da Boeing deverão ser examinados pela FAA antes de serem enviados para os clientes.
O CEO da Boeing, David Calhoun, afirmou que a decisão de hoje constitui "uma etapa importante". "Estes acontecimentos e as lições que aprendemos com eles remodelaram nosso negócio, que se concentrou mais em nossos valores fundamentais de segurança, qualidade e integridade", declarou Calhoun em comunicado, no qual também disse estar pronto para trabalhar com os reguladores do mundo inteiro.
Familiares das vítimas dos dois voos acidentados criticaram a decisão, segundo um comunicado da Clifford Law Offices, escritório de advocacia que representa os parentes. "O forte sigilo da FAA significa que não podemos acreditar que o Boeing 737 MAX seja seguro", disse Michael Stumo, cuja filha morreu no acidente da Ethiopian Airlines.
Um relatório publicado em setembro por um painel da Câmara dos Representantes dos EUA classificou os acidentes da Lion Air e da Ethiopian Airlines como "o culminar horrível de uma série de suposições técnicas erradas dos engenheiros da Boeing, uma falta de transparência por parte da gerência da Boeing e uma supervisão extremamente insuficiente por parte da FAA".
O 737 MAX retorna justamente num momento em que o setor se encontra muito afetado pela pandemia de coronavírus, situação que levou a Boeing a perder 393 pedidos de aeronaves nos primeiros dez meses do ano.
A Boeing também estima que a crise gerada pelo 737 MAX lhe custou cerca de 20 bilhões de dólares (R$ 106 bilhões): 11,3 bilhões de dólares pelos custos diretos e indiretos associados com a produção e a suspensão de sua fabricação durante vários meses, e 8,6 bilhões de dólares relacionados às indenizações oferecidas às companhias aéreas.
A crise também levou a Boeing a rescindir em abril de 2020 o acordo de compra da área de aviação comercial da brasileira Embraer, que previa a criação de holding de 5 bilhões de dólares que teria controle da gigante americana.
JPS/afp/rtr/ots
Tragédias aéreas que chocaram o mundo
O avião é um dos meios de transporte mais seguros do mundo, mas desastres aéreos, quando acontecem, costumam envolver um grande número de vítimas. Relembre acidentes dos últimos 70 anos que entraram para a história.
Foto: picture-alliance/C. Daughty
Tragédia mata time base da seleção italiana
Há 70 anos, em 4 de maio de 1949, o avião que levava o time do Torino, então tetracampeão italiano, após um amistoso contra o Benfica, em Lisboa, se chocou contra a Basílica de Superga, em Turim. O acidente matou as 31 pessoas a bordo, incluindo 18 jogadores e cinco integrantes da comissão técnica. O Torino era considerado a melhor equipe de futebol do mundo e formava a base da seleção italiana.
Foto: picture-alliance/dpa
Milagre após 73 dias perdidos nos Andes
Em 13 de outubro de 1972, 45 pessoas – jogadores de um clube de rugby e familiares –partiram de Montevidéu em um avião da Força Aérea Uruguaia rumo ao Chile. A aeronave caiu nos Andes, causando na hora a morte de 12 pessoas e de outras 17 nos dias seguintes. No entanto, 16 homens sobreviveram a 73 dias na neve e foram resgatados após dois deles terem deixado o acampamento para pedir socorro.
Foto: AFP/Getty Images
O maior número de vítimas da aviação
Em 27 de março de 1977, um Boeing 747 da KLM vindo de Amsterdã colidiu com um Jumbo da PanAm que partiu de Los Angeles na pista do aeroporto de Los Rodeos, em Tenerife, nas Ilhas Canárias. A explosão matou 583 pessoas, o maior número de vítimas fatais da história da aviação. Os aviões tinham sido desviados para Los Rodeos devido a um ataque a bomba no aeroporto de Las Palmas, em Gran Canária.
Foto: Getty Images/AFP
Bomba derruba aeronave no Oceano Atlântico
A explosão de uma bomba no compartimento de cargas de um Boeing 747 causou a queda do vôo 182 da Air India no Oceano Atlântico, em 23 de junho de 1985, quando ele sobrevoava a costa da Irlanda, na rota entre Montreal e Nova Déli. As 329 pessoas a bordo morreram. O ataque foi vinculado a extremistas sikhs.
Foto: Getty Images/AFP/A. Durand
O maior número de vítimas em um único avião
O acidente com o maior número de vítimas a bordo de um único avião aconteceu com o voo 123 da Japan Airlines, que fazia a rota entre Tóquio e Osaka. O Boeing 747-SR46 colidiu com o Monte Takamagahara, a 100 quilômetros de Tóquio, em 12 de agosto de 1985. Entre os 520 mortos estava o famoso cantor Kyū Sakamoto. Quatro mulheres sobreviveram, sendo duas delas crianças.
Foto: picture alliance/dpa/Toshiki Ohira
Avião atinge espectadores de show aéreo
Três aviões da esquadrilha acrobática italiana Flechas Tricolores (Frecce Tricolori) se chocaram em pleno voo durante um show de acrobacias aéreas na base militar americana em Ramstein, no sudoeste da Alemanha, em 28 de agosto de 1988. Um dos jatos caiu sobre a multidão de espectadores, matando 70 pessoas e deixando mais de mil feridas.
Foto: picture-alliance/dpa/Füger
Choque causa morte de crianças e adolescentes
Uma colisão entre um Tupolew 154 da companhia russa Bashkirian Airlines, que vinha de Moscou, e um jato da empresa alemã DHL, que viajava do Bahrein a Bruxelas, matou 71 pessoas na noite de 1º de julho de 2002 sobre a cidade de Überlingen, na Alemanha, às margens do Lago de Constança. Entre as vítimas, estavam 49 crianças e adolescentes que viajavam de férias para a Espanha.
Foto: AP
Colisão mata 154 no Brasil
Um choque no ar com um jato Legacy provocou a queda de um Boeing da Gol em 29 de setembro de 2006, a 692 quilômetros de Cuiabá (MT), matando as 154 pessoas a bordo. O voo 1907 havia saído de Manaus, faria escala em Brasília e seguiria para o Rio. O Legacy, que viajava para os Estados Unidos quando bateu, conseguiu pousar na Serra do Cachimbo, no Pará. As sete pessoas a bordo saíram ilesas.
Foto: Força Aérea Brasileira/Divulgação
Acidentes mortais da Latam
Em 17 de julho de 2007, um Airbus A320 da Latam (antiga TAM) que vinha de Porto Alegre não conseguiu parar na pista de Congonhas, atravessou uma avenida e colidiu com um prédio da TAM Express, causando 199 mortes (187 a bordo e 12 em solo). Onze anos antes, um Foker 100 que seguia para o Rio havia caído 24 segundos depois de decolar de Congonhas, matando as 96 pessoas a bordo e três em solo.
Foto: AP
Brasileiros na tragédia da Air France
Em 31 de maio de 2009, um Airbus 330-203 da Air France que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris caiu no Atlântico, matando as 228 pessoas a bordo, sendo 59 brasileiros. Partes da fuselagem e corpos foram encontrados quase dois anos depois. A investigação concluiu que a causa foi uma combinação de erros dos pilotos com problemas ocorridos por congelamento nos sensores de velocidade.
Foto: picture-alliance/dpa
Míssil russo derruba Boeing na Ucrânia
Um míssil russo abateu o voo MH17 da Malaysia Airlines, causando a queda do Boeing 777 que sobrevoava a Ucrânia, em 17 de julho de 2014. As 298 pessoas a bordo morreram, a maioria holandesas – o voo havia partido de Amsterdã com destino a Kuala Lumpur. Os investigadores concluíram que o míssil Bouk-Telar foi disparado de uma brigada antiaérea em Kursk, na Rússia, perto da fronteira com a Ucrânia.
Foto: imago/Itar-Tass
Acidente causado por piloto da Germanwings
Uma tragédia em 24 de março de 2015 chocou a Alemanha. Um Airbus A320 da Germanwings que fazia a rota Barcelona-Düsseldorf caiu nos Alpes Franceses, matando os 144 passageiros e seis tripulantes. O desastre foi causado intencionalmente pelo copiloto, Andreas Lubitz, que omitiu da companhia tendências suicidas. Andreas trancou o piloto fora da cabine e chocou a aeronave contra as montanhas.
O presidente da Polônia Lech Kaczynski morreu em 10 de abril de 2010, quando o Tupolev 1954 em que ele estava caiu perto do aeroporto de Smolensk, na Rússia, matando também outras 96 pessoas, entre elas autoridades do primeiro escalão do governo. A comitiva polonesa viajava para a Rússia para participar de uma cerimônia em memória ao massacre de prisioneiros poloneses na Segunda Guerra Mundial.
Foto: AP
Tragédia da Chapecoense
Em 28 de novembro de 2016, o avião da LaMia que levava o time da Chapecoense, dirigentes e jornalistas caiu quando voava de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para Medellín, na Colômbia, matando 71 das 77 pessoas a bordo. A equipe disputaria a final da Copa Sul-Americana contra o colombiano Atlético Nacional. A investigação revelou uma série de erros, como falta de combustível.