EUA acusam Arábia Saudita de recrutar espiões no Twitter
7 de novembro de 2019
Suspeitos teriam acessado dados de usuários, incluindo críticos de Riad, e os fornecido a autoridades sauditas. Homens receberiam como recompensa relógios de marca e milhares de dólares em contas secretas.
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Dois ex-funcionários do Twitter e um terceiro homem estão sendo processados na Justiça dos EUA por espionagem de contas de opositores do governo da Arábia Saudita na rede social. Eles teriam acessado dados privados de usuários para entregá-los a autoridades sauditas em troca de pagamento, informou nesta quarta-feira (06/11) o Departamento de Justiça dos EUA.
Os denunciados, Ali Alzabarah e Ahmad Abouammo, que trabalhavam para o Twitter, e Ahmed Almutairi, que trabalhava para a família real saudita, são acusados de trabalhar para a Arábia Saudita sem se registrarem como agentes estrangeiros, conforme a denúncia. Alzabarah e Almutairi são sauditas, enquanto Abouammo tem cidadania americana.
De acordo com os promotores, os ex-funcionários do Twitter recebiam como recompensa relógios de marca e dezenas de milhares de dólares depositados em contas secretas.
O processo pode colocar mais controvérsia na aliança entre EUA e Arábia Saudita e na relação amistosa nutrida pelo presidente Donald Trump com o regime saudita, apesar do histórico de violações aos direitos humanos atribuídos ao governo de Riad.
A Arábia Saudita ainda não comentou publicamente a denúncia. O rei Salman se reuniu nesta quinta-feira na capital saudita com a diretora da CIA, Gina Haspel, informou a agência de notícias estatal da Arábia Saudita. Não foram divulgados, entretanto, detalhes sobre os tópicos discutidos na reunião, da qual também participaram os ministros do Exterior e do Interior da Arábia Saudita e o embaixador dos EUA.
Segundo a denúncia, Abouammo acessou repetidamente a conta no Twitter de um conhecido crítico da família real saudita no início de 2015, tendo conseguido acesso ao e-mail, ao endereço e ao número de telefone associados à conta dele. Ele também acessou a conta de um segundo crítico saudita para obter informações privadas.
O Twitter descobriu o acesso não autorizado de Alzabarah aos dados e o colocou de licença no final de 2015. Até então, ele já havia acessado dados de mais de 6 mil contas, incluindo 33 contra as quais as autoridades sauditas haviam apresentado queixa ao Twitter, afirmam os investigadores.
Já Almutairi é acusado de agir como intermediário entre o governo saudita e os funcionários do Twitter.
Abouammo foi preso nos EUA, enquanto as autoridades acreditam que os outros dois, que estão foragidos, estejam na Arábia Saudita.
Aparentemente, eles teriam sido aliciados por um funcionário graduado do governo saudita identificado pelo jornal The Washington Post como Bader al-Asaker, conselheiro próximo do príncipe Mohammad, que agora chefia o escritório particular do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e a fundação de caridade fundada pelo monarca MiSK.
A maioria dos contatos ocorreu em 2014 e 2015, quando bin Salman ainda ascendia ao poder, de acordo com a denúncia dos promotores americanos.
O lento avanço dos direitos das mulheres na Arábia Saudita
Em 2018, país passou a permitir que mulheres obtenham carteira de motorista e dirijam sem serem acompanhadas por um tutor do sexo masculino. Conheça outras conquistas femininas na nação islâmica nas últimas décadas.
Foto: Getty Images/F.Nureldine
Escola em 1955; universidade só em 1970
As meninas nem sempre puderam frequentar escolas na Arábia Saudita. Só a partir de 1955 foi permitida a matrícula de garotas na primeira escola para meninas, Dar Al Hanan. Já a Riyadh College of Education, primeira instituição de ensino superior para mulheres, foi aberta em 1970.
Foto: Getty Images/AFP/F. Nureldine
2001: Carteira de identidade
Em 2001 foi permitido às mulheres sauditas terem carteira de identidade, para poderem provar quem são, por exemplo, em questões de herança ou de propriedade. Mas a identificação só podia ser feita com a permissão do guardião dela e era entregue a ele, em vez de diretamente à mulher. Só em 2006 as sauditas passaram a receber carteiras de identidade sem precisar da permissão do responsável por elas.
Foto: Getty Images/J. Pix
2005: Fim do casamento forçado – só no papel
Embora a Arábia Saudita tenha acabado com os casamentos forçados em 2005, eles continuam sendo negociados pelo noivo com o pai da noiva, e não com ela.
Foto: Getty Images/A.Hilabi
2009: Mulher em ministério
Em 2009, o rei Abdullah nomeou Noura al Fayez vice-ministra da Educação. A primeira mulher em um ministério saudita é encarregada de assuntos para mulheres.
Foto: Foreign and Commonwealth Office
2012: primeiras atletas olímpicas
A Arábia Saudita permitiu em 2012 que atletas do sexo feminino competissem pela equipe nacional nos Jogos Olímpicos. Uma delas foi Sarah Attar, que correu a prova de 800 metros em Londres usando uma touca. Antes dos Jogos, houve especulações de que a equipe saudita poderia ser banida por discriminação de gênero se não permitisse que as mulheres participassem.
Foto: picture alliance/dpa/J.-G.Mabanglo
2013: Mulher pode andar de sobre duas rodas
Em 2013 foi permitido às mulheres na Arábia Saudita andar de bicicleta e moto – mas apenas em áreas de lazer e desde que completamente cobertas por roupas islâmicas e acompanhadas por um parente do sexo masculino.
Foto: Getty Images/AFP
2013: Mulheres no Conselho Consultivo
Em fevereiro de 2013, o rei Abdullah indicou 30 mulheres para o Conselho Consultivo, ou Shura. A nomeação de mulheres para o conselho, que costuma ser composto apenas por homens, marcou um momento histórico. O órgão aconselha o rei em questões de política e legislação. Pouco tempo depois, mulheres receberam a permissão de se candidatar ao cargo.
Foto: REUTERS/Saudi TV/Handout
2015: Mulheres em eleições municipais
Nas eleições municipais de 2015 na Arábia Saudita, as mulheres puderam se candidatar e votar pela primeira vez. Apenas para comparar: a Nova Zelândia foi o primeiro país a permitir o voto feminino já em 1893. A Alemanha fez isso em 1919. Na votação saudita de 2015, 20 mulheres foram eleitas para cargos em nível municipal.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Batrawy
2017: Mulher na Bolsa de Valores
Em fevereiro de 2017, a Bolsa de Valores saudita nomeou a primeira presidente mulher em sua história: Sarah Al Suhaimi.
Foto: pictur- alliance/abaca/Balkis Press
2018: Mulheres na direção (de carros)
Em 26 de setembro de 2017, a Arábia Saudita anunciou que a partir de junho de 2018 as mulheres não precisariam mais da permissão de seu tutor do sexo masculino para obter uma carteira de motorista e não seria mais necessário que seu guardião as acompanhasse no veículo.