EUA acusam Rússia de "obstrução cínica" a tratado nuclear
28 de agosto de 2022
Bloqueio a revisão do tratado de não proliferação (TNP) visaria apenas evitar reconhecimento de risco radiológico em Zaporíjia afirma porta-voz. Moscou classifica menção em documento final como "descaradamente política".
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Os Estados Unidos denunciaram neste domingo (28/08) a Rússia por "obstrucionismo cínico", ao impedir "sozinha" a adoção de uma declaração conjunta na Organização das Nações Unidas, em seguida a quatro semanas de trabalhos de revisão do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
"Após semanas de negociações intensas, porém produtivas, a Rússia decidiu de forma isolada bloquear o consenso sobre o documento final", declarou o porta-voz adjunto do Departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, em comunicado de imprensa.
O único objetivo de Moscou teria sido "bloquear elementos de linguagem que apenas reconhecem os riscos radiológicos na central nuclear de Zaporíjia", ocupada pelo exército russo na Ucrânia, prosseguiu Patel.
A central de Zaporíjia, a maior da Europa, situada na linha de frente dos combates no sul ucraniano, foi ocupada pelas tropas russas no início de março. Kiev e Moscou acusam-se mutuamente de efetuar bombardeios perto do complexo nuclear, colocando-o, assim, em perigo.
A empresa operadora das centrais nucleares ucranianas, Energoatom, alertou no sábado que Zaporíjia está funcionando com risco de fuga de elementos radioativos e de incêndio.
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Áustria denuncia outras potências nucleares
Como acontece a cada cinco anos, representantes dos 191 países signatários do TNP, que visa impedir a disseminação de armas nucleares, e promover o desarmamento completo e a cooperação para a utilização pacífica da energia nuclear, estavam reunidos desde 1º de agosto em conferência na sede das Nações Unidas em Nova York, para a revisão do tratado.
No entanto a Rússia impediu a adoção de uma declaração conjunta na sexta-feira, acusando o rascunho do texto final de conter "certos parágrafos descaradamente políticos".
O esboço em questão expressava "grave apreensão" quanto a atividades militares em torno de usinas ucranianas, entre as quais Zaporíjia, assim como pela perda do controle sobre os sítios por parte da Ucrânia, com impacto negativo para a segurança.
"Apesar do obstrucionismo cínico da Rússia, o fato de todas as outras partes apoiarem o documento final demonstra o papel essencial do tratado na prevenção da proliferação nuclear", saudou o porta-voz Patel.
No sábado, contudo, a Áustria, país neutro e sem centrais nucleares, condenara a atitude das outras grandes potências nucleares, além da Rússia: "Ao contrário dos compromissos de desarmamento consagrados no TNP, os cinco Estados com armas nucleares – Estados Unidos, França, China, Reino Unido e Rússia – estão aumentando ou aperfeiçoando seus arsenais."
av (Lusa,AFP)
Os últimos habitantes de Chernobyl
Os arredores da cidade ucraniana continuam inabitáveis 32 anos depois do acidente nuclear. Mas algumas pessoas já voltaram para suas casas. O cotidiano delas foi fotografado por Alina Rudya.
Foto: DW/A. Rudya
O otimismo de Baba Gania
Baba (mulher, senhora) Gania (e) tem 86 anos. Há dez, ela é viúva e, há 25, cuida da irmã Sonya, portadora de deficiência mental. "Não tenho medo da radiação. Cozinho os cogumelos até sair tudo", explica. A fotógrafa ucraniana Alina Rudya a visitou várias vezes: "É a pessoa mais calorosa e gentil que eu conheço", diz.
Foto: DW/A. Rudya
Casas vazias, indício de fuga apressada
Gania e a irmã vivem em Kupuvate, um vilarejo na área restrita que foi delimitada num raio de 30 km ao redor das ruínas da usina nuclear de Chernobyl. Depois da explosão do reator, em abril de 1986, 350 mil pessoas precisaram deixar a região. A maioria das casas em Kupuvate ficou vazia. Gania usa essa casa nas proximidades para guardar o seu caixão e o da irmã.
Foto: DW/A. Rudya
A volta dos mortos
"Na verdade, o cemitério de Kupuvate se parece com qualquer outro cemitério dos vilarejos da Ucrânia", conta Alina Rudya. "Muitas pessoas hoje enterradas aqui tiveram de abandonar a região depois da catástrofe e passaram a vida fora da área de radiação nuclear. Eles só voltaram depois de morrer", relata.
Foto: DW/A. Rudya
O último desejo de Baba Marusia
Os poucos que ficaram cuidam dos restos mortais dos familiares – como Baba Marusia, que veio até o túmulo da mãe. A filha vive em Kiev com o marido e duas crianças. "Fico feliz de ter ficado aqui", diz Baba Marusia. "Aqui é minha casa. Quero ser enterrada aqui." E acrescenta: "Mas do lado da minha mãe, não do meu marido."
Foto: DW/A. Rudya
Samosely: voltando para ficar
"Samosely" é como são chamados os habitantes que voltaram e vivem ilegalmente dentro da área de exclusão de Chernobyl. Galyna Ivanivna é um deles. "Minha vida passou como um raio. Tenho 82 anos e parece que nunca vivi. Quando era mais jovem, sonhava em viajar pelo mundo inteiro. Mas eu nunca consegui ir além de Kiev", recorda.
Foto: DW/A. Rudya
Vivendo no próprio mundo
Ivan Ivanovich e sua mulher também fazem parte das poucas centenas de habitantes que mudaram de volta para a área contaminada por radiação nuclear nos anos 1980. Entre os turistas que visitam a região, Ivan se tornou uma espécie de celebridade. "Ele conhece inúmeras histórias que oscilam entre verdade e imaginação", explica Alina Rudya.
Foto: DW/A. Rudya
Testemunhas mudas do passado
Uma semana antes do aniversário de 32 anos da catástrofe de Chernobyl, no dia 26 de abril, Alina Rudya foi à vila de Opachichi. Segundo ela, apenas uma mulher idosa ainda vive aqui – os outros habitantes já morreram. Suas casas vazias ficam abertas como testemunho mudo, mas eloquente, do ocorrido, através de fotos, calendários, cartas, toalhas bordadas e móveis.
Foto: DW/A. Rudya
Despedida a prestação
Marusia observa o marido, Ivan, dormindo. Ele teve um AVC recentemente e sofre de demência. "Às vezes, ele acorda à noite e sai procurando o seu trator. Trabalhou com o veículo por 42 anos." Ela diz que o desejo de morrer está vindo lentamente para ela. "Não quero ser um fardo para meus filhos e netos", afirma.
Foto: DW/A. Rudya
Prevenidos para a morte
Antes de ficar doente, Ivan, marido de Marusia, ainda construiu dois caixões para estar preparado para a própria morte e a morte da mulher. Os caixões ficam num galpão, diretamente ao lado da bicicleta velha. "O de baixo é meu, e o de cima é o do meu marido", explica Marusia.
Foto: DW/A. Rudya
Os últimos "samosely"
Apenas poucos samosely ainda vivem na zona de exclusão. Alina Rudya, que também nasceu perto de Chernobyl, os visitou várias vezes e fez retratos de alguns para um projeto fotográfico de longo prazo que ela quer publicar em livro. "Visitar os vilarejos abandonados está ficando cada vez mais triste. Toda vez que eu venho, alguém morreu, porque quase todos têm mais de 70 anos", explica.