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Jogo diplomático

3 de fevereiro de 2011

Governo Obama age nos bastidores para iniciar logo a transição e evitar que o poder caia nas mãos dos radicais islâmicos: um complexo jogo diplomático em torno do maior país árabe, peça-chave na questão do Oriente Médio.

Simpatizantes do governo e oposicionistas em confrontoFoto: picture-alliance/dpa

Até o discurso televisivo do presidente Hosni Mubarak, na noite desta terça-feira (01/02), o Ocidente, em especial os Estados Unidos, parecia manter uma postura distante em relação aos protestos populares no Egito, que então já duravam uma semana.

Foi só após o anúncio de Mubarak – de que não concorreria a um novo mandato – que a situação mudou. O presidente Barack Obama imediatamente se postou diante das câmeras e declarou que a transição de poder no Egito deveria começar – e logo.

Na verdade, a declaração de Mubarak foi o resultado de uma dramática pressão diplomática. Um enviado especial dos Estados Unidos comunicara a ele que, na visão de Washington, seus tempos como presidente do Egito haviam chegado ao fim.

Depois de 30 anos, os EUA se afastavam de um de seus principais aliados, peça-chave no complicado xadrez do Oriente Médio. Mubarak sempre foi um aliado do Ocidente, parceiro na luta contra o terrorismo e precursor no mundo árabe da paz com Israel.

A cautela do governo Obama se justifica: os EUA temem que uma intervenção às claras no Egito crie sentimentos antiamericanos no país e acabe favorecendo os radicais islâmicos. Assim, tentam conduzir a situação com sensibilidade diplomática.

Hosni Mubarak disse que não tentará se reelegerFoto: dapd

Ação nos bastidores

Agora, o que os Estados Unidos têm é pressa para que a situação no Egito se defina logo a seu favor. "Agora o tempo é o inimigo", afirma Richard Haass, o presidente do Council on Foreign Relations, um centro de pesquisas sediado em Washington. Não há nada que os americanos temam mais que um vácuo no poder que possa vir a ser preenchido pelos radicais islâmicos.

A prática dos Estados Unidos agora é agir nos bastidores para influenciar a sucessão no Egito, de forma a conduzir o país numa direção aceitável para o Ocidente. Fazem parte dessa conduta as negociações com possíveis candidatos para uma transição pacífica, como o ganhador do Prêmio Nobel Mohamed El Baradei.

O governo de Obama quer, de forma consciente, também se distanciar da política para o Oriente Médio do seu antecessor, George W. Bush, cuja postura em relação ao Iraque afetou negativamente a imagem dos Estados Unidos no mundo árabe.

Ex-aliado

Mas Obama não pode escapar ao fato de que os Estados Unidos apoiaram durante anos o governo autocrático de Mubarak – e também financeiramente, com uma quantia de aproximadamente 1,5 bilhão de dólares anuais.

Sem essas contribuições financeiras Mubarak não teria conseguido se manter no poder até hoje. E a soma era destinada ao país porque o Egito provara ser um parceiro confiável numa região de vital interesse para o Ocidente, devido às reservas de petróleo e ao seu significado estratégico.

Papel da Europa

Para Wolfgang Ischinger, ex-embaixador da Alemanha em Washington, a União Europeia pode desempenhar um papel importante nos movimentos pró-democracia nos países árabes. "Não há continente com mais experiência e competência para lidar com a mudança da ditadura para a democracia", disse Ischinger.

O ex-embaixador dirige a Conferência sobre Segurança de Munique, que acontece neste final de semana. A situação no Egito será um dos temas dominantes na conferencia.

O diplomata alemão também é da opinião de que o Ocidente deve evitar uma intervenção clara no país africano. Principalmente a Alemanha deve adotar cautela, opina, devido à responsabilidade histórica do país em relação a Israel.

Durante sua visita a Israel nesta semana, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, agradeceu ao presidente Mubarak por sua contribuição no processo de paz no Oriente Médio. Com Mubarak, o Egito se engajou na discussão em prol de um equilíbrio entre os interesses de Israel e dos palestinos, disse Merkel.

O que vem depois

Especialistas no Ocidente não ousam fazer uma previsão confiável de como a situação no Egito continuará a se desenvolver. Rolf Mützenich, político alemão especialista em Oriente Médio, avalia que, provavelmente, forças islâmicas como a Irmandade Muçulmana devem se fortalecer com as eleições democráticas.

No entanto, os protestos populares não são um levante islamista, como lembra Mützenich, mas foram causados por um desejo de modernização da sociedade e democracia.

Autores: Daniel Scheschkewitz / Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler

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