EUA anunciam morte de líder do EI durante operação na Síria
3 de fevereiro de 2022
Missão americana em Idlib resulta na morte do chefe do "Estado Islâmico", comunica Biden. Após longo confronto, Abu Ibrahim al-Qurayshi explodiu uma bomba, causando 13 mortes, inclusive de mulheres e crianças.
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O líder da organização jihadista "Estado Islâmico" (EI) morreu durante um ataque noturno executado por forças americanas na província de Idlib, no noroeste da Síria, comunicou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta quinta-feira (03/02). O extremista detonou uma bomba, causando também diversas outras mortes, após intenso confrontos com forças americanas.
"Na noite passada, sob minha direção, as forças militares dos EUA no noroeste da Síria realizaram com sucesso uma operação de contraterrorismo para proteger o povo americano e nossos aliados, e tornar o mundo um lugar mais seguro", disse Biden em comunicado.
A operação teve como alvo Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi, que assumiu a chefia do grupo extremista em 31 de outubro de 2019, poucos dias após o então líder Abu Bakr al-Baghdadi ser morto numa operação militar americana semelhante na mesma região.
Uma autoridade americana relatou que Al-Qurayshi – também conhecido como Amir Muhammad Sa'id Abdal-Rahman al-Mawla – morreu como Al-Baghdadi. Ele detonou uma bomba quando as forças americanas se aproximaram. A explosão não matou apenas Al-Qurayshi, mas também membros de sua família, inclusive mulheres e crianças.
"Graças à habilidade e bravura de nossas Forças Armadas, tiramos do campo de batalha Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurayshi, o líder do EI", disse Biden, acrescentando que todos os soldados americanos envolvidos na operação retornaram em segurança.
Forças especiais dos EUA aterrissaram em helicópteros e atacaram uma casa na cidade de Atmeh, perto da fronteira com a Turquia – uma área com diversos acampamentos para desalojados pela guerra civil na Síria. Segundo testemunhas, os americanos entraram em confronto por duas horas com homens armados.
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Sangue e corpos por todo lado
Os moradores de Atmeh descreveram disparos contínuos e explosões. Socorristas registraram 13 mortos, entre os quais seis crianças e quatro mulheres.
A casa de dois andares, cercada por campos de oliveiras, nos arredores de Atmeh, ficou com o andar de cima completamente destruído e sangue respingado por todos os cantos. Um quarto continha um berço de madeira e um coelho de pelúcia. Um repórter em missão para a agência de notícias Associated Press e vários moradores relataram ter visto partes de corpos espalhados perto do local.
"Os primeiros momentos foram aterrorizantes, ninguém sabia o que estava acontecendo", contou Jamil el-Deddo, morador de um campo de refugiados próximo. "Estávamos preocupados que pudessem ser aeronaves sírias, que trouxeram de volta memórias de bombas de barril que costumavam ser lançadas sobre nós" – referência aos explosivos usados pelas forças do presidente Bashar al-Assad contra opositores, durante o conflito sírio.
A morte de Al-Qurayshi ocorre num momento em que o "Estado Islâmico" tenta ressurgir. O grupo jihadista tem realizado uma série de atentados na região, incluindo um ataque de dez dias para tomar uma prisão, no fim de dezembro.
A província de Idlib é amplamente controlada por combatentes apoiados pela Turquia, mas também um reduto da Al Qaeda e de vários de seus principais agentes. Outros militantes, entre os quais extremistas do rival "Estado Islâmico", também encontraram refúgio na região.
pv/av (AP, AFP)
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.