EUA pode fechar embaixada em Cuba após "ataques acústicos"
18 de setembro de 2017
Secretário de Estado americano diz que Washington considera medida após 21 diplomatas e familiares sentirem efeitos de supostos ataques. Cuba nega envolvimento e se dispõe a ajudar a esclarecer o caso.
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Os Estados Unidos consideram a hipótese de fechar sua recém-aberta embaixada em Cuba em razão de supostos "ataques acústicos" ao local, afirmou neste domingo (18/09) o secretário de Estado americano, Rex Tillerson.
Em entrevista à emissora CBS, Tillerson disse que a possibilidade está sendo avaliada pela Casa Branca em resposta aos incidentes sonoros, que teriam ocorrido a partir do final do ano passado, provocando problemas de saúde em 21 pessoas – a maioria diplomatas.
A questão será discutida nesta terça-feira numa reunião entre representantes dos dois países. O secretário de Estado americano disse que ainda não há explicação para os incidentes, que considera "muito sérios" levando em conta as lesões sofridas por algumas pessoas.
Em agosto, Washington afirmou que 16 membros da "comunidade da embaixada" haviam apresentado sintomas associados aos misteriosos ataques acústicos. Desde então, o Departamento de Estado aumentou para 21 o número de pessoas afetadas. O órgão providenciou o retorno de alguns deles aos EUA.
Cronologia da relação entre Cuba e EUA
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De acordo com a Associação do Serviço Diplomático dos EUA, relatos médicos apontam que os 21 funcionários e membros de suas famílias afetados sofreram consequências como lesões cerebrais traumáticas, perdas de audição e dificuldades de concentração.
A emissora CNN informou que uma "sofisticada arma sônica" teria sido ativada dentro ou fora das residências dos diplomatas, provocando "sensações físicas imediatas", que incluíam náuseas, dores de cabeça e perda de audição. O último registro de um suposto ataque acústico ocorreu no dia 21 de agosto, segundo uma fonte anônima de Washington citada pela agência Associated Press.
Alguns dos atingidos relataram terem ouvido um ruído alto e ensurdecedor. Outros relataram vibrações ou ruídos que seriam audíveis em apenas algumas partes dos cômodos, o que levou os investigadores a suspeitarem de um potencial ataque acústico. Algumas pessoas não perceberam nada de estranho, mas, posteriormente, desenvolveram os sintomas.
Diplomacia ameaçada
Os comentários de Tillerson são a maior indicação até o momento de que o governo americano poderia estar preparando uma forte resposta diplomática, que poderia pôr em risco a histórica reaproximação entre os EUA e Cuba.
As duas nações decidiram em 2015 reabrir embaixadas em Washington e Havana, após meio século de animosidades. O ex-presidente americano Barack Obama e o líder cubano, Raúl Castro, anunciaram a medida, acompanhada do fim de algumas restrições de viagens e comércio entre os dois países, o que desagradou os setores mais conservadores do governo cubano. O presidente americano, Donald Trump, agiu para reverter alguns dos avanços na reaproximação.
O governo cubano nega qualquer envolvimento ou responsabilidade pelo suposto ataque e se colocou à disposição para ajudar os americanos a esclarecerem o caso.
RC/efe/ap
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.