EUA cancelaram 60 mil vistos após veto de Trump, diz governo
3 de fevereiro de 2017
Número divulgado pelo Departamento de Estado contradiz declarações de um procurador do Departamento de Justiça. Em audiência, ele afirmou que 100 mil pessoas tiveram seus vistos cancelados após decreto anti-imigração.
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O Departamento de Estado americano revelou nesta sexta-feira (03/02) que quase 60 mil cidadãos de sete países de maioria muçulmana tiveram seus vistos cancelados e foram impedidos de viajar aos Estados Unidos após o veto imposto pelo presidente Donald Trump há uma semana.
O dado contradiz declarações de um procurador do Departamento de Justiça americano, divulgadas mais cedo pela imprensa local, que falavam em 100 mil vistos revogados. O número foi mencionado durante uma audiência com representantes de dois irmãos iemenitas que chegaram no sábado passado ao aeroporto de Dulles, perto de Washington, e foram enviados de volta para a Etiópia.
Durante a audiência, o juiz Leonie Brinkema perguntou ao procurador Erez Reuveni, do escritório de litígio de imigração do Departamento de Justiça, quantas pessoas foram afetadas pelo veto de Trump. Reuveni respondeu que o número de casos envolvendo residentes permanentes nos EUA era baixo, mas, ao considerar todos os vistos incluídos no decreto, "mais de 100 mil tinham sido revogados".
O advogado Simon Sandoval-Moshenberg, da organização Legal Aid Justice Center, que representa os irmãos iemenitas, disse ao jornal Washington Post que todos na corte ficaram surpreendidos com a revelação. "O número 100 mil tirou todo o ar dos meus pulmões", afirmou Sandoval-Moshenberg.
O governo logo rebateu as informações, afirmando que os vistos revogados não passavam de 60 mil. "Para efeito de comparação, emitimos 11 milhões de vistos de imigrantes e não imigrantes no ano fiscal de 2015", afirmou William Cocks, porta-voz do escritório de assuntos consulares do Departamento de Estado, insistindo que a segurança nacional é "prioridade máxima" durante a emissão de vistos.
Na sexta-feira passada, Trump decidiu suspender por pelo menos 120 dias a entrada de refugiados em território americano e por tempo indefinido o acesso de todos os migrantes provenientes da Síria. O decreto também impôs uma proibição de entrada nos EUA durante 90 dias de qualquer cidadão de sete países de maioria muçulmana: Iraque, Irã, Iêmen, Líbia, Somália e Sudão, além da Síria.
EK/afp/ap/lusa/rtr/ots
Os decretos de Donald Trump
Donald Trump estremeceu o cenário político em seus primeiros dias como presidente dos EUA com uma série de decretos e memorandos impactantes. Entenda a diferença e o significado de cada um deles.
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Forma rápida de cumprir promessas eleitorais
Com menos de duas semanas na presidência, Donald Trump emitiu 17 medidas executivas. Embora este número em si não seja significativo – no mesmo período Barack Obama assinou praticamente o mesmo número de ordens – o conteúdo dos decretos de Trump é. Parece que o novo presidente dos EUA quer implementar muitas de suas promessas de campanha – incluindo as controversas - o mais rápido possível.
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O que são ordens executivas e memorandos?
As ações executivas (EA) permitem que o presidente dos EUA dê ordens que não precisam de aprovação do Congresso a agências governamentais, contornando o processo legislativo e acelerando sua implementação. Ordens executivas são uma forma mais abrangente de EA que muitas vezes lidam com diretrizes organizacionais maiores, enquanto memorandos presidenciais ordenam agências específicas a fazer algo.
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Enfraquecer Obamacare (ordem executiva)
A primeira ordem executiva assinada por Trump foi uma para retardar partes do Affordable Care Act (Obamacare) para "minimizar encargos regulatórios". Enquanto Trump sozinho não pode revogar a legislação instituída por Obama, ele pode minar a implementação do programa de saúde enquanto a maioria republicana no Congresso se prepara para revogá-lo.
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Retirar subsídio para aborto (memorando)
Trump reinstituiu uma política que impede o financiamento federal para ONGs que fornecem aconselhamento sobre aborto e defendem o direito ao aborto. Essa diretriz tem uma longa história: foi inicialmente instaurada pelo republicano Ronald Reagan, rescindida pelo democrata Bill Clinton, reinstituída pelo republicano George W. Bush, antes de ser reativada pelo democrata Barack Obama.
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Deportação de imigrantes (ordem executiva)
Trump ordenou que os agentes de imigração expandissem o escopo das deportações. Ele visa retirar concessões federais das chamadas cidades-santuário (onde imigrantes sem documentos não são processados) e que imigrantes suspeitos de um crime sejam detidos, mesmo sem acusação. Trump pretende contratar 10 mil novos agentes e publicar um relatório sobre crimes cometidos por imigrantes sem documentação.
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Construir o muro (ordem executiva)
Numa ordem executiva assinada em 25 de janeiro, Trump solicitou "a construção imediata de um muro físico", a fim de proteger a fronteira entre México e EUA. Ele também se referiu aos imigrantes sem documentos como "deportáveis", dizendo que o Poder Executivo deve "acabar com o abuso das disposições de liberdade condicional e refúgio usadas para impedir a remoção legal de estrangeiros deportáveis."
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Veto a muçulmanos (ordem executiva)
Trump assinou este controverso decreto em 27 de janeiro. Ele proibiu pessoas de sete países de maioria muçulmana de entrar nos EUA por três meses, suspendeu indefinidamente o programa de refugiados sírios e suspendeu a admissão de refugiados por 120 dias. Protestos contra a ordem estouraram em todo o país e até mesmo os senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham criticaram a medida.
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EUA deixam TPP (memorando)
Não foi nenhuma surpresa Donald Trump ter abandonado a Parceria Transpacífico (TPP). Durante a campanha, ele criticou frequentemente o TPP e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), afirmando que outros países se beneficiaram desses acordos comerciais, em detrimento dos EUA. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump prefere lidar individualmente com os países.
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Sinal verde para oleodutos (memorando)
Três memorandos diferentes – um sobre a construção do oleoduto Dakota Access, outro sobre a continuação da construção do oleoduto Keystone e uma terceira ordem sobre o uso de materiais americanos nas obras – foram emitidos no quarto dia de Trump no governo. Obama tinha negado licenças para ambos os oleodutos após protestos em massa de ambientalistas, que temem o impacto de eventuais vazamentos.
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Expandir as Forças Armadas (memorando)
Trump cumpriu sua promessa eleitoral de investir num Exército maior ao assinar na sua primeira semana no cargo um memorando que pede mais tropas, navios de guerra e um arsenal nuclear modernizado. Quatro dias antes ele ordenou congelar a contratação de civis em agências federais por até 90 dias, para que seu governo possa desenvolver um plano de longo prazo para encolher a força de trabalho.
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Steve Bannon no NSC (memorando)
Trump ordenou uma revisão do Conselho de Segurança Nacional (NSC) para elevar o papel de Stephen Bannon. Trump retirou vários membros do painel responsável por tomar decisões de política externa, enquanto seu estrategista-chefe – conhecido por opiniões de extrema direita – servirá no comitê geralmente preenchido por generais. Isso rompe com a norma de longa data de não nomear políticos para o NSC.
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Desregulamentações (executiva e memorando)
Trump quer que agências federais eliminem ao menos duas normas para cada nova regulamentação e ordenou o congelamento de regulamentações federais, até que um chefe de departamento designado por ele possa revisá-las. Ele também pediu pela rápida aprovação de "projetos de infraestrutura de alta prioridade". Na campanha, Trump disse que o "excesso de regulamentações" feriu o comércio americano.
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Precedente presidencial
Obama emitiu um total de 277 ordens executivas – uma média de quase três por mês e um pouco menos do que seu antecessor, George W. Bush (291). Obama assinou 644 memorando presidenciais para contornar imposições no Congresso – um precedente do qual Trump aparenta estar tirando proveito, embora a maioria em ambas as Casas do Congresso seja republicana.