Detido no Iraque é responsável por unidade de desenvolvimento de armas químicas do grupo extremista e está sendo interrogado sobre o uso de gás mostarda. Americanos afirmam que ele será repassado para os iraquianos.
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Forças especiais dos Estados Unidos capturaram no norte do Iraque o responsável pela unidade de desenvolvimento de armas químicas do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI), informaram a agência de notícias Associated Press e o jornal americano The New York Times nesta quarta-feira (09/03).
O jihadista foi identificado com Sleiman Daoud al-Afari, um especialista em armas químicas e biológicas que trabalhou para o antigo ditador Saddam Hussein. Autoridades americanas disseram que ele era o líder do recém-criado setor de pesquisa e desenvolvimento de arsenal químico do EI.
Al-Afari foi capturado há cerca de um mês, logo após a chegada de uma força de operações especiais dos EUA ao Iraque. Essa foi a primeira tropa terrestre americana enviada ao país desde que os Estados Unidos se retiraram da região, em 2011.
Em seu interrogatório, Al-Afari deu detalhes sobre como o "Estado Islâmico" conseguiu carregar o gás mostarda em armamentos. Autoridades disseram que a concentração do gás não o tornava letal, mas ele poderia mutilar pessoas.
Saques são fonte de renda do "Estado Islâmico"?
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Fontes do Departamento de Defesa americano afirmaram que os Estados Unidos não pretendem deter o capturado indefinidamente e que ele será repassado para autoridades iraquianas e curdas, depois do fim do interrogatório.
Autoridades americanas confirmaram nesta quarta-feira bombardeios realizados nos últimos dias a locais onde os extremistas estocavam armas químicas no Iraque. Os ataques aéreos visavam impedir o grupo de usar gás mostarda. As informações dos alvos teriam sido repassadas por um integrante do EI que foi detido. Laboratórios e equipamentos do grupo extremistas também foram alvos.
Ataques químicos
O progresso do "Estado Islâmico" no desenvolvimento de armas químicas é limitado, mas o grupo teria conseguido fabricar gás mostarda. Testes confirmaram o uso dessa substância em ataques dos jihadistas na Síria, em agostos de 2015.
Especialistas afirmam, no entanto, que, aparentemente, os extremistas não têm capacidade para produzir esse armamento em larga-escala, o que requer não somente experiência, mas também equipamentos apropriados, materiais e uma cadeia de fornecimento.
Há relatos recentes de ataques químicos realizados pelo EI. Autoridades locais iraquianas disseram que mais de 40 pessoas sofreram asfixia e irritações na pele após um ataque dos jihadistas na terça-feira em Taza, no norte do país. Nenhuma das vítimas morreu, mas cinco permanecem internadas.
O governador da província de Kirkuk, Najmuddin Kareem, afirmou que a substância usada no ataque ainda não foi identificada. "Os jihadistas querem assustar a população. Eles querem mostram que têm armas químicas como o regime anterior", disse Kareem, ferindo-se a um ataque das forças de Hussein a uma vila curda em 1988, que deixou milhares de mortos.
Em dezembro do ano passado, Washington deu início uma nova estratégia, com uma unidade especial destinada a capturar líderes do EI e a reunir informações para ataques em operações clandestinas.
CN/ap/rtr/ots
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.