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EUA compram Wella e "Água de Colônia"

Neusa Soliz19 de março de 2003

A Procter & Gamble americana comprou a Wella por 6,5 bilhões de euros, para desbancar a L'Oreal. Uma das empresas da Wella é a 4711, que criou e produz até hoje a legítima "Água de Colônia".

Logotipo do fabricante alemão de xampus, perfumes e artigos para cabelereirosFoto: AP

Se fosse pela direção da Wella, a empresa não teria sido vendida à Procter & Gamble (P&G). Seu preferido era o grupo alemão Henkel, que adquiriu 7% das ações da Wella recentemente. Os visionários na Alemanha sonhavam com um grande grupo de cosméticos made in Germany, unindo Wella, Henkel e Beiersdorf, o fabricante dos cremes Nivea. Mas os acionistas majoritários, herdeiros do fundador da Wella, Franz Ströher, optaram pela firma americana por uma razão muito simples: sua oferta era melhor.

O preço da fusão

A P&G pagou 92,25 euros pela ação ordinária, 22% a mais do que a sua cotação (75,50 euros na terça-feira 18/03). E com isso garantiu 50,7% do capital da empresa com sede em Darmstadt. Os proprietários levaram cerca de 3,2 bilhões de euros. Pelas ações preferenciais, que não dão direito a voto, os americanos só querem pagar 61,50 euros, apenas 15 centavos a mais do que a cotação.

O presidente da Wella, Heiner Gürtler, manifestou-se "decepcionado" com a enorme diferença. Na sua opinião, a empresa vale bem mais do que o preço pago. Incluídos no preço total de 6,5 bilhões de euros estão dívidas de 1,1 bilhão de euros. A diretoria nem foi consultada. Gürtler também não esconde o que pensa da transação: "Do ponto de vista empresarial, a aquisição não era um passo necessário".

Decepções e novas chances

A Wella fabrica desde xampus e perfumes até tesouras, secadores e móveis para cabelereirosFoto: bilderbox

Com mais de 120 anos de tradição, a Wella conquistou uma execelente posição no mercado mundial, em produtos para o cabelo e cabelereiros (é a segunda do ranking mundial), cosméticos (é a quarta ) e perfumes (é a sexta). Um aumento de 11% do faturamento no difícil ano de 2002 e um acréscimo maior ainda do lucro operacional comprovam que ela teria condições de manter sua independência. Foi justamente o seu bom desempenho econômico que despertou a cobiça dos tubarões do mercado. Se o comprador fosse o grupo Henkel, fabricante de sabões, xampus (Schwarzkopf) e cosméticos, pelo menos ela ficaria em mãos "alemãs".

Com a perda da independência da Wella, ao ser engolida pela Procter & Gamble, os funcionários temem o eventual fechamento de fábricas e cortes de empregos, que fusões costumam acarretar. Embora a diretoria da P&G ainda não tenha se manifestado sobre seus planos, o grupo americano "sinalizou que Darmstadt poderá continuar sendo o centro mundial dos negócios voltados para os cabelereiros e Colônia teria a chance de assumir uma posição de liderança na parte de perfumes ", indicou Heiner Gürtler.

Perfumes e xampus para todos os gostos

Foto: AP

Em Colônia, a Wella tem a subsidiária Cosmopolitan Cosmetics, com as marcas 4711 - a famosa Kölnisches Wasser que deu origem à expressão "água de Colônia" - e Gucci. Esses e seus outros perfumes para mulheres, Rochas e Escadas, são um bom complemento às marcas para homens, Hugo Boss e Lacoste, da P&G.

Com seus produtos para cabelo e perfumes, a Wella - com um faturamento anual de 3,4 bilhões de euros, 12 fábricas na Alemanha, 17 mil funcionários e representada em 150 países - é o reforço ideal para a Procter & Gamble disputar a liderança mundial com a L'Oreal francesa, a atual número 1, e a Unilever holandesa. O grupo americano pretende assumir completamente o controle da Wella. "Mas com a parte que temos agora poderemos conseguir nosso objetivo", disse Martin Nüchtern, da P&G em Frankfurt, ressaltando que ambas empresas se complementam, uma é forte na Europa, a outra nos EUA.

A aquisão da Wella está longe de ser a última nessa área. "O processo de concentração começou tarde no nosso setor e está agora a todo vapor", analisa Bernd Stroemer, da Federação das Indústrias de Cosméticos e Artigos de Higiene. Ainda há 23 empresas multinacionais que são membros da confederação européia do ramo. Segundo Stroemer, somente a metade tem chance de se firmar a longo prazo.