O governo americano anunciou o fim do financiamento de serviços educacionais e jurídicos para crianças migrantes nos centros de detenção pelo país. O motivo alegado pelas autoridades são os cortes no orçamento que, segundo as autoridades, se fazem necessários devido a um número recorde de menores desacompanhados que chegam até a fronteira do país com o México.
Segundo reportagem do jornal americano Washington Post publicada nesta quarta-feira (05/06), o Escritório de Reassentamento de Refugiados, administrado pelo Departamento de Serviços Humanos e de Saúde (HHS, na sigla em inglês), começou a suspender o financiamento de diversas atividades consideradas "não diretamente necessárias para a proteção da vida e da segurança", que incluem práticas esportivas e aulas de inglês.
O HHS notificou aos abrigos em todo o país na semana passada que não vai mais reembolsar o pagamento de professores e outros custos, como equipamentos de recreação e apoio jurídico.
A medida pode ser uma violação de um acordo legal que exige que o governo forneça educação e atividades recreativas para crianças migrantes sob seus cuidados. O HHS, porém, afirma que não possui os recursos para financiar esses serviços devido à sobrecarga em seu sistema causada pelo aumento da chegada de migrantes ao país.
O governo afirma que há 13,2 mil crianças sob seus cuidados e que mais estão a caminho. Nesta quarta-feira, a patrulha de fronteiras dos EUA informou que 11,5 mil crianças desacompanhadas chegaram ao país apenas em maio. Após serem registradas, as crianças são transferidas para os cuidados do HHS, que contrata ONGs e empresas privadas para fornecer serviços nos abrigos.
"Temos uma crise humanitária na fronteira reforçada por um sistema falido de imigração que coloca uma enorme sobrecarga [sobre o HHS]", disse uma porta-voz do órgão. "Recursos adicionais são urgentemente necessários para cumprir as necessidades humanitárias criadas por este fluxo", alertou.
O Departamento pediu em torno de 3 milhões de dólares em fundos de emergência para garantir os cuidados básicos às crianças. Os fornecedores de serviços pagam adiantado as despesas – como salário de professores e equipamentos – para serem posteriormente reembolsados, o que não deverá mais acontecer a partir deste mês.
Especialistas alertam que o corte nos serviços poderá resultar na demissão de instrutores e na falta de supervisão das crianças. Muitas delas migraram para fugir da violência e pobreza extrema em seus países de origem. Os serviços que as crianças recebem nos abrigos são considerados parte de sua recuperação enquanto aguardam a definição de sua situação.
O combate à imigração ilegal é uma das principais bandeiras do presidente americano, Donald Trump, que chegou a declarar "emergência nacional" em razão da situação na fronteira dos EUA com o México. Recentemente, Trump ameaçou impor novas tarifas de importação sobre produtos mexicanos, caso o país vizinho não aja para impedir o fluxo migratório.
No ano passado, a estratégia de Washington de separar as crianças de seus familiares após atravessarem a fronteira, como modo de dissuadir os migrantes, gerou uma onda de repúdio e condenações em todo mundo e forçou o governo a reunir menores com seus familiares.
RC/ap/ots
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Donald Trump quer um "grande e belo muro" entre os EUA e o México para frear a migração e o narcotráfico. Em outros lugares, barreiras de concreto e metal feitas para resolver problemas tiveram variados graus de êxito.
Foto: Getty Images/J. MooreAntes de Donald Trump, Bill Clinton já mandou construir cercas na fronteira. Após os atentados de setembro de 2001, George Bush acelerou a construção. Desde então, quase 1.100 quilômetros de fronteira receberam paredes de concreto, vigas de aço e outros tipos de obstruções.
Foto: Getty Images/D. McNewDesde 2002, Israel está construindo uma barreira ao longo da Cisjordânia. O projeto, oficialmente justificado como proteção contra o terrorismo, é altamente controverso e muitas vezes chamado "muro da separação". Há mais de dez anos, a Corte Internacional de Justiça declarou que ele viola o direito internacional. Israel, no entanto, continua construindo o muro, que deverá ter 759 km de extensão.
Foto: A. Al-BazzUm muro de controle militar de mais de 700 km na região da Caxemira divide a Índia e o Paquistão desde 1971. Em muitos lugares, esta "linha de controle" é reforçada por minas e arame farpado. A barreira de arame, que em alguns locais tem 3 metros de altura, também pode ser eletrificada.
Foto: Getty Images/AFPParedes divisórias também separam classes econômicas. Como em Lima, onde uma parede de concreto de 3 m de altura separa os moradores pobres de um bairro de ricos. Aliás, "condomínios fechados" são frequentes na América Latina. Os moradores da capital do Peru chamam a parede de "muro da vergonha".
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/S. CastanedaNa capital do Iraque, um muro de 4 metros de altura e 5 km de extensão corta a cidade. Ele foi construído pelos militares dos EUA na região dominada pelos xiitas em 2007. Hoje, o muro separa quase 2 milhões de pessoas. Também em outros bairros de Bagdá, paredes de concreto separam enclaves sunitas de bairros xiitas.
Foto: Getty Images/W. KuzaieO governo britânico construiu os chamados "muros da paz" na Irlanda do Norte em 1969 para separar católicos e protestantes. Portões permitiam a passagem para o outro lado. Em caso de conflitos, eles eram fechados. Alguns moradores dizem, no entanto, que as paredes acentuaram ainda mais a divisão na mente das pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. SmiejekDesde o final da Guerra da Coreia, nos anos 1950, uma zona desmilitarizada separa a Coreia do Norte, comunista, e a Coreia do Sul, capitalista. A faixa de cerca de 4 km de largura e 250 km de comprimento é uma das áreas restritas mais vigiadas do mundo. Em alguns pontos, muros marcam a fronteira entre as duas Coreias.
Foto: Getty Images/AFP/E. JonesTambém a Europa está se isolando. Desde outubro de 2015, a Hungria está fechando sistematicamente sua fronteira para evitar refugiados. No início, a cerca ainda não era hermética. Hoje, no entanto, quase ninguém consegue mais passar para o outro lado. A Hungria também quer construir uma cerca ao longo da fronteira com a Sérvia.
Foto: picture-alliance/dpa/S. UjvariNos enclaves espanhóis de Ceuta e Mellila, no Marrocos, há fortificações especialmente altas. Para superá-las, é preciso passar por até três cercas. Para complicar, há detectores de movimento, câmeras infravermelhas e um arame farpado que penetra fundo na pele. Mesmo assim, muitos se arriscam e acabam se ferindo.
Foto: picture-alliance/dpa/A. SempereNa fronteira com a Síria, de onde muitos estão fugindo da guerra civil, a Turquia está construído um muro de 511 km de extensão. No final de fevereiro, o governo de Ancara anunciou que metade já está pronta. O muro de 3 metros de altura tem arame farpado e torres de vigilância. Várias vezes, a União Europeia criticou a Turquia por fazer controles muito brandos em suas fronteiras.
Foto: picture alliance/AA/R. Maltas