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EUA desistem de apoiar entrada do Brasil na OCDE

10 de outubro de 2019

Em carta à organização, Washington defende candidatura de Argentina e Romênia e rejeita pedido de incluir mais países. Governo Bolsonaro chegou a fazer concessões aos americanos em troca de apoio.

Bolsonaro ao lado de Trump em Washington
Quando recebeu Bolsonaro em Washington, Trump prometeu apoiar candidatura brasileiraFoto: Getty Images/AFP/B. Smialowski

Os Estados Unidos desistiram de apoiar a inclusão do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). Após declarar publicamente apoio à candidatura brasileira, o próprio governo americano rejeitou um pedido para discutir a ampliação do clube dos países industrializados e emergentes, segundo uma reportagem publicada nesta quinta-feira (10/10) pela agência Bloomberg.

A agência teve acesso a uma carta enviada pelo secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em 28 de agosto, ao secretário-geral da OCDE, Angel Gurria. No documento, Pompeo rejeita um pedido para incluir mais países na organização e destaca que Washington apoiava apenas as candidaturas da Argentina e da Romênia.

"Os Estados Unidos continuam preferindo a ampliação em ritmo contido, levando em consideração a necessidade de pressionar por planos de governança e sucessão", destaca a carta.

O documento contradiz a postura pública dos Estados Unidos sobre a questão. Durante a visita do presidente Jair Bolsonaro a Washington em março, seu homólogo americano, Donald Trump, prometeu apoiar a entrada do Brasil na OCDE. Em maio, após uma reunião ministerial da organização em Paris, os EUA voltaram a declarar apoio à candidatura brasileira. Já em julho, foi a vez do secretário americano do Comércio, Wilbur Ross, fazer declaração semelhante durante uma viagem a São Paulo.

De acordo com uma fonte oficial ouvida pela Bloomberg, os Estados Unidos apoiam a ampliação da OCDE e uma eventual inclusão do Brasil, mas no momento estão trabalhando para a entrada da Argentina e da Romênia na organização, tendo em vista reformas econômicas e o compromisso com o livre mercado destes países.

A OCDE confirmou ao site que recebeu a candidatura de seis países e que a adesão destes depende de um consenso entre os países-membros da organização, porém, não deu mais detalhes.

Após a revelação da carta, a embaixada dos Estados Unidos em Brasília disse, em nota, que os EUA mantém o apoio à inclusão do Brasil na OCDE, porém, destacou que não foi estabelecido um prazo para isso.

"Apoiamos a expansão da OCDE a um ritmo controlado que leve em conta a necessidade de pressionar as reformas de governança e o planejamento de sucessão", afirma a nota. "Todos os 36 países membros da OCDE devem concordar, por consenso, com o calendário e a ordem dos convites para iniciar o processo de adesão", acrescenta o texto.

Apesar do documento enviado à organização indicar outra coisa, Pompeo tentou minimizar a carta, alegando que ela não representa exatamente a posição dos Estados Unidos. "Somos apoiadores entusiastas da entrada do Brasil nesta instituição e os EUA farão um forte esforço para apoiar a adesão do Brasil", acrescentou.

O apoio dos Estados Unidos à candidatura brasileira na organização foi um dos primeiros pontos abordados na aproximação entre Bolsonaro e Trump. Durante uma visita a Washington, o mandatário brasileiro abriu mão de receber um tratamento especial na Organização Mundial do Comércio (OMC), que inclui prazos para cumprir acordos e maior flexibilidade em negociações comerciais, em troca do lobby americano pelo Brasil na organização.

O governo brasileiro chegou até mesmo aumentar a cota para importações de etanol sem tarifa, passando-o de 600 milhões de litros para 750 milhões de litros por ano como parte do esforço para se aproximar dos EUA. A medida agradou os americanos, principais exportadores do produto para o Brasil.

Na época da visita, muitos duvidavam que os americanos cumpririam sua promessa de apoiar os brasileiros no ingresso no clube dos países industrializados e emergentes. O Brasil apresentou sua candidatura em maio de 2017 e contava com o apoio prometido por Trump para fazer parte do grupo, pois a aprovação de Washington é fundamental para a entrada na OCDE.

O comprometimento do presidente americano chegou ainda a ser visto como um importante triunfo internacional para o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e para Bolsonaro.

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia sido informado há cerca de 40 dias que os Estados Unidos indicaram a Argentina para o clube, deixando o Brasil de fora. A Romênia foi uma indicação de países europeus. "Eles nos disseram que, por questão estratégica, não poderiam indicar o Brasil neste momento, mas não é uma rejeição no mérito. É uma questão de timing, porque há outros países na frente, como a Argentina", disse o ministro ao site O Antagonista.

O apoio dos EUA parecia tão certo para os membros do governo brasileiro e da família do presidente que o deputado Eduardo Bolsonaro, que preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, chegou a publicar há poucos dias no Twitter uma mensagem sobre a criação de um Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-OCDE. Em maio, Eduardo também escreveu "EUA APOIAM BRASIL PARA OCDE. Brasil e EUA nunca tiveram uma relação tão boa". 

Essa é a segunda vez em poucas semanas que as expectativas do governo Bolsonaro em relação aos EUA não se materializam. Em julho, membros do governo chegaram a espalhar para a imprensa que Trump poderia indicar um de seus filhos para chefiar a embaixada dos EUA em Brasília, como parte de um arranjo que incluiria a indicação do deputado Eduardo para a representação brasileira em Washington. Em setembro, no entanto, os americanos indicaram  Todd Chapman, um diplomata de carreira, para o posto em Brasília.

Após a divulgação da negativa americana, o secretário de Política Externa Comercial e Econômica, Norberto Moretti, ligado ao Itamaraty, afirmou que o governo Bolsonaro ainda se mantém firme na tentativa de fazer o Brasil ser aceito como membro da OCDE.

"O processo não é simples, não é meramente técnico, é também político, mas não há nenhuma dúvida de que o governo se mantém firme na decisão de continuar no processo de aproximação", disse o secretário, durante participação no Fórum de Investimentos Brasil 2019, segundo o jornal O Estado de S.Paulo.

CN/ots

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