EUA devolverão migrantes brasileiros para o México
30 de janeiro de 2020
Brasileiros que chegarem pela fronteira sul e pedirem refúgio terão de aguardar o resultado dos pedidos em território mexicano, junto com milhares de migrantes de outros países. Washington já começou a enviar cidadãos.
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Migrantes brasileiros que tentarem entrar ilegalmente nos Estados Unidos através da fronteira com o México serão devolvidos para o território mexicano, onde aguardarão o processamento de seus pedidos de refúgio juntamente com milhares de pessoas de outras nacionalidades.
O anúncio foi feito pelo Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS, na sigla em inglês) nesta quarta-feira (29/01). O órgão informou que já começou a enviar brasileiros de volta ao México, destacando o crescente número de cidadãos do país que seguem esse caminho para entrar em território americano.
Segundo o governo em Washington, entre outubro de 2018 e setembro de 2019 foram detidos em torno de 17,9 mil brasileiros que tentaram a travessia ilegal da fronteira. Em comparação, entre outubro de 2017 e setembro de 2018 esse total era de cerca de 1,5 mil.
Assim, os brasileiros se juntarão a outros 55 mil migrantes que aguardam no México a decisão sobre seus pedidos de refúgio, em um processo que pode levar meses ou até anos.
Até agora, os migrantes que se apresentavam ou eram detidos na fronteira eram muitas vezes colocados em liberdade vigiada nos EUA enquanto aguardavam a determinação final das autoridades americanas, caso fossem considerados inicialmente aptos a pedir refúgio no país.
O governo do presidente americano, Donald Trump, estabeleceu no ano passado a política de forçar a permanência no México de migrantes vindos de vários países, como parte dos esforços para diminuir a imigração ilegal nos EUA. Organizações de defesa dos migrantes consideram que essa atitude elimina direitos resguardados pelas leis internacionais e dificulta os processamentos legais nas sobrecarregadas cortes de imigração americanas.
Em dezembro, o chefe da Patrulha de Fronteiras prometeu barrar o refúgio de migrantes que não fossem das regiões próximas à fronteira americana, como Brasil, Haiti e países da África.
O governo brasileiro também mudou sua postura em relação aos migrantes brasileiros que tentam a sorte nos EUA, e passou a aceitar a devolução em massa de seus cidadãos. No último fim de semana, um avião fretado pelo governo americano chegou a Belo Horizonte transportando dezenas de brasileiros deportados.
O presidente Jair Bolsonaro justificou a aceitação da medida por parte do governo brasileiro afirmando que "qualquer país do mundo onde pessoas estão lá de forma clandestina, é um direito daquele chefe de Estado, usando as leis, devolver aqueles nacionais".
"Nós temos de respeitar a lei americana", disse Bolsonaro, reiterando que não intercederia junto a Trump em favor dos brasileiros ilegais, especificamente sobre o tratamento recebido por eles das autoridades americanas – pessoas a bordo do avião relataram que os deportados voltaram ao Brasil com algemas nas mãos e nos pés.
"Qual país está dando certo? Brasil ou Estados Unidos? Eu jamais pediria. Você acha que eu vou pedir para ele descumprir a lei dele? Tenha a santa paciência. A lei americana diz isso. É só você não ir para os Estados Unidos de forma ilegal", afirmou.
Há poucos dias, o vice-diretor do DHS, Ken Cuccinelli, pediu uma postura mais decisiva do governo brasileiro para deter o fluxo de migrantes para os EUA. "Há um grande número de ilegais vindo aos EUA, e é preciso encarar isso. Precisam começar a lidar com a situação de forma mais agressiva do que no passado", pediu Cuccinelli em entrevista por telefone a jornalistas brasileiros.
Elas não dividem apenas países, mas separam pais de filhos, ricos de pobres, cristãos de muçulmanos. Conheça algumas das fronteiras mais vigiadas e controversas.
Foto: Wualex
Sérvia-Hungria: coração da rota dos Bálcãs
Numa imagem simbólica da atual crise, migrantes entram na União Europeia ao cruzarem trilhos entre a Sérvia e a Hungria. Em setembro, a fronteira foi fechada, obrigando os refugiados a buscarem novas rotas. Em agosto deste ano, a quantidade de pessoas detectadas nas fronteiras da Europa ultrapassou o número registrado em todo o ano passado: foram 350 mil, sem contar as que entraram despercebidas.
Foto: DW/J. Stonington
A ponte coreana sem volta
A fronteira entre as Coreias do Sul e do Norte está fechada e altamente militarizada há 62 anos. Esta placa marca uma "ponte sem volta", vista na foto do lado sul-coreano. Desde o fim da década de 1990, cerca de 28 mil norte-coreanos fugiram para o país vizinho. Recentemente, ambos os países concordaram em permitir que familiares se reunissem perto da fronteira.
Foto: Edward N. Johnson
A longa fronteira entre EUA e México
Muros e cercas protegem um terço de toda a fronteira, ou 1.126 quilômetros, depreciativamente chamados de "parede de tortilla" pelos americanos. Com 18.500 oficiais posicionados ao longo dela, a fronteira é uma das mais vigiadas do mundo. Mesmo assim, milhões tentam a sorte nos Estados Unidos. Em 2012, 6,7 milhões de mexicanos viviam no país vizinho como imigrantes ilegais.
Foto: Gordon Hyde
700 deportações por dia
A fronteira entre EUA e México é fonte de atritos políticos e de profundas tensões. Esta cena pacífica, no lado mexicano, ilude. A cada dia, 700 pessoas são deportadas de volta para o México. Para aqueles que passaram muitos anos em território americano, não é fácil se readaptar à velha casa.
Foto: DW/G. Ketels
Marrocos-Espanha: Pobreza e campos de golfe
Duas realidades econômicas distintas se chocam nos enclaves espanhóis de Melilla e Ceuta, que fazem fronteira com o Marrocos. Refugiados de toda a África buscam uma maneira de colocar os pés num país europeu para ali pedirem asilo. Muitos tentam pular as cercas ao redor dos enclaves. Com uma série de barreiras e o Marrocos agindo de forma mais ativa, menos cenas como esta têm ocorrido.
Foto: picture-alliance/dpa
Brasil-Bolívia: qual lado é menos verde?
De acordo com imagens de satélite, o limite do desmatamento brasileiro é definido pela fronteira com a Bolívia. Nos últimos 50 anos, o Brasil desmatou, legal e ilegalmente, 20% da Floresta Amazônica no país. Contudo, a Bolívia também está ameaçada pelo desmatamento e precisa ser estudada com mais profundidade, segundo cientistas.
Foto: Nasa
Haiti-Rep. Dominicana: Uma ilha, dois mundos
Apesar de ambos os países dividirem a mesma ilha, a realidade entre eles é bem distinta. A República Dominicana é um paraíso turístico, enquanto o Haiti é um dos países mais pobres do planeta. Logo, muitos haitianos se mudam para o país vizinho. Em 2015, o governo dominicano enrijeceu as leis de migração, fazendo com que cerca de 40 mil haitianos voltassem para casa.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Bueno
Tensão entre Egito e Israel
Com deserto de um lado e uma aglomeração urbana do outro, a fronteira entre Egito e Israel separa uma maioria islâmica de uma maioria judaica. A paz que reinou na região por mais de 30 anos foi substituída recentemente por violência, militarização e tensões diplomáticas. No fim de 2013, Israel conclui a construção de uma cerca dividindo os dois territórios.
Foto: NASA/Chris Hadfield
Paquistão-Índia: 'linha de controle'
Durante o primeiro conflito armado entre Paquistão e Índia, entre 1947 e 1949, a região da Caxemira foi dividida por uma "linha de controle" entre a parte paquistanesa, com maioria muçulmana, e a parte indiana, de maioria hindu e budista. A linha, contudo, não impediu ataques terroristas que visavam instaurar uma Caxemira islâmica – resultando na morte de cerca de 43 mil pessoas desde 1993.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Singh
Saara Ocidental: o muro marroquino
Até 1976, o Saara Ocidental era uma colônia espanhola. Para reivindicar o território, o rei do Marrocos enviou 350 mil pessoas à região. Os nativos, porém, iniciaram um movimento de independência chamado de Frente Polisário. O conflito dividiu o Saara Ocidental entre a República Árabe Saaraui Democrática e o Marrocos. Entre os dois territórios há uma barreira de areia, altamente militarizada.
Foto: Getty Images/AFP/P. Hertzog
Israel-Cisjordânia: Conflito sob pedras
Desde 2002, foram construídos muros e cercas controversas, que já atingem uma extensão de 759 quilômetros. Em áreas densamente povoadas, como nesta foto, de Jerusalém, um muro de concreto de nove metros de altura fortifica a fronteira entre Israel e a Cisjordânia. Em 2004, a Justiça decidiu que a construção de um muro nas áreas palestinas não é compatível com as leis internacionais.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sultan
Três países, uma só fronteira
Em algumas partes do mundo, as fronteiras não são demarcadas por patrulhas, cercas ou muros. Esta pedra com três faces sinaliza a divisa entre três países: Alemanha, Áustria e República Tcheca – parte do espaço Schengen. O trânsito livre entre essas fronteiras só foi limitado recentemente por causa da crise dos refugiados na Europa.