EUA dizem ter identificado membro do EI que decapitou jornalistas
25 de setembro de 2014
FBI afirma saber quem é suposto executor, mas não confirma nacionalidade britânica, apesar do sotaque. Premiê iraquiano alerta sobre plano de ataques a metrôs nos EUA e em Paris, e autoridades desmentem.
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Os Estados Unidos acreditam ter identificado o homem mascarado que aparece nos vídeos que mostram a decapitação de dois jornalistas americanos e de um trabalhador humanitário britânico, anunciou James Comey, diretor do FBI nesta quinta-feira (25/09).
Entretanto, Comey disse a repórteres que não revelaria o nome do homem, membro do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI). Ele também não especificou se os EUA acreditam ou não que o próprio homem tenha executado as mortes. As decapitações não são mostradas nos vídeos.
Nos três vídeos, o homem fala inglês com sotaque britânico. Comey não confirmou ou negou a nacionalidade britânica do suspeito. Ele aparece segurando uma longa faca e parece estar cortando os três homens – os jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff e o trabalhador humanitário britânico David Haines. Os três haviam sido sequestrados na Síria.
Segundo Comey, o FBI está preocupado com outro vídeo do EI divulgado no início deste mês: "Flames of War" ("Chamas da guerra"), uma propaganda do grupo com objetivo de intimidar espectadores ocidentais e recrutar combatentes falantes de inglês. "Não há dúvida de que há alguém falando inglês com sotaque americano nesse vídeo, então, isso é um grande foco nosso no momento", disse o diretor.
No fim de agosto, o embaixador britânico em Washington, Peter Westmacott, havia dito que o Reino Unido estava prestes a identificar o militante do EI.
Além das três decapitações, os extremistas conquistaram grande parte da Síria e do Iraque. No início de agosto, o presidente dos EUA, Barack Obama, ordenou ataques aéreos contra o grupo no Iraque e, nesta semana, expandiu a campanha contra alvos do EI para a Síria.
As autoridades americanas preveem um longo conflito contra os extremistas, de no mínimo três anos, e expressaram preocupação sobre o fato de centenas de muçulmanos da Europa e dos EUA terem aderido ao grupo.
Ataques no metrô
O primeiro-ministro do Iraque, Haider al-Abadi, disse ter recebido nesta quinta-feira pela manhã informações secretas "críveis" de que militantes do EI estão planejando atacar o metrô de Paris e dos EUA. Os ataques estariam sendo planejados de dentro do Iraque por "redes" do EI.
O premiê afirma ter recebido a informação de fontes de Bagdá e concluiu que seriam razoáveis após perguntar por mais detalhes. "Perguntei por nomes, detalhes, cidades, datas. E a partir dos detalhes que recebi, sim, parece crível", disse Abadi a um pequeno grupo de repórteres em Nova York. Ao ser perguntado se os ataques seriam iminentes, ele disse não ter certeza. Ele também se negou a dizer em que local dos EUA onde um ataque poderia ocorrer.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
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Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
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Entretanto, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Caitlin Hayden, disse que a Casa Branca não havia confirmado nenhum plano de ataque aos sistemas de metrô dos EUA e de Paris. "Não confirmamos esse plano e teríamos que analisar qualquer informação de nossos parceiros iraquianos antes de tirar conclusões."
Uma fonte da administração Obama, em condição de anonimato, também afirmou que ninguém no governo sabia de um plano desse tipo. Apesar disso, a polícia de Nova York – que abriga o maior sistema de metrô do país – disse estar ciente do alerta feito pelo premiê iraquiano e em contato estreito com o FBI e outras agências para avaliar a ameaça.
O chefe da Comissão Policial de Nova York, William Bratton, disse que a presença policial nos metrôs e nas ruas da cidade havia sido aumentada após o alerta do líder iraquiano. Mas tanto Bratton quanto o prefeito Bill de Blasio afirmaram não haver nenhuma ameaça específica à cidade. "Estamos convencidos de que a população de Nova York está segura", disse De Blasio.
Os serviços de segurança da França também não têm informações que confirmem a afirmação de Abadi, disse uma fonte do governo.
Os EUA e a França realizaram ataques aéreos contra alvos do EI no Iraque, como parte da estratégia liderada pelos EUA para "degradar e destruir" o grupo radical sunita.