Secretário de Defesa americano diz que decisão é "gesto de boa vontade" e pede que Coreia do Norte volte para negociações sobre seu programa nuclear. Regime norte-coreano acusa EUA de manter "política hostil".
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Os Estados Unidos e a Coreia do Sul decidiram cancelar as manobras militares conjuntas planejadas para dezembro como um "gesto de boa vontade" para promover o diálogo com a Coreia do Norte sobre a desnuclearização do país, afirmou neste domingo (17/11) o secretário de Defesa americano, Mark Esper, em comunicado.
Há anos, a Coreia do Norte critica os exercícios militares conjuntos, alegando que eles seriam preparativos para uma invasão do país. Pyongyang estabeleceu ainda um prazo de até o final do ano para que Washington apresente uma nova proposta nas negociações sobre o programa nuclear norte-coreano.
Essas não são as primeiras manobras que os dois países modificam ou cancelam para favorecer o processo diplomático aberto com Pyongyang no ano passado. Os EUA e Seul cancelaram exercícios militares na sequencia da cúpula entre o presidente americano, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong Um, em Cingapura, em junho de 2018.
Apesar de os países darem sinais de que manteriam o exercício programado para o fim de 2019, na última sexta-feira, o próprio Esper havia dito em Seul que os exercícios militares conjuntos poderiam se tornar mais flexíveis para ajudar no processo diplomático.
O anúncio do cancelamento foi feito durante uma entrevista coletiva realizada durante a reunião de oficiais da Defesa sediada pela Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que reuniu, além de Esper, o ministro da Defesa da Coreia do Sul.
"Tomamos essa decisão como um gesto de boa vontade em contribuir para um ambiente propício à diplomacia e à paz", disse o secretário de Defesa dos EUA, no comunicado divulgado pela agência sul-coreana Yonhap. "Esperamos que a República Popular Democrática da Coreia [nome oficial da Coreia do Norte] demonstre a mesma boa vontade", acrescentou Esper, ao pedir para Pyongyang "voltar à mesa das negociações sem condições prévias ou dúvidas".
Seul e Washington tinham planejado realizar uma versão reduzida dos exercícios aéreos do Vigilant Ace no mês que vem, algo que desencadeou críticas da Coreia do Norte, apesar da escala das manobras ter sido reduzida.
O ministro da Defesa da Coreia do Sul, Jeong Kyeong-doo, afirmou que não há um cronograma para o retorno dos exercícios militares. "Isso fará parte da consulta em andamento e decidiremos por meio desta estreita coordenação entre ambos os lados", destacou.
Após o anúncio, Pyongyang saudou o adiamento da manobra num comunicado divulgado pelo Ministério do Exterior do país. O texto, porém, critica Washington e sua "política hostil" contra o regime norte-coreano. "Os EUA não têm intenção de trabalhar sinceramente conosco para resolver os problemas", ressalta a nota.
O anúncio tem como objetivo impulsionar o processo de desnuclearização, que está parado desde a fracassada cúpula realizada em Hanói, no Vietnã, em fevereiro, onde os EUA consideraram insuficiente a oferta norte-coreana em relação ao desmantelamento de seus ativos nucleares. Com isso, o governo americano se recusou a suspender as sanções econômicas ao país asiático.
No mês passado, aconteceu uma reunião de trabalho em Estocolmo, na Suécia, mas o encontro foi encerrado com os norte-coreanos acusando Washington de não oferecer nada de novo e de manter ativa sua "política hostil". Recentemente, Pyongyang realizou uma série de lançamentos de mísseis, incluindo um que teria sido disparado por um submarino.
De acordo com especialistas, na ausência de progressos, a Coreia do Norte pode optar, a partir do Ano Novo, realizar novos testes de armas, especialmente mísseis de alcance intermediário, como estratégia para pressionar os Estados Unidos e seus aliados na região.
Família governa a Coreia do Norte desde a fundação do país, há quase sete décadas, com um culto quase divino às personalidades de Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.
Foto: picture alliance / dpa
Um jovem líder
Kim Il-sung, o primeiro e "eterno" presidente da Coreia do Norte, assumiu o poder em 1948 com o apoio da União Soviética. O calendário oficial do país começa no seu ano de nascimento, 1912, designando-o de "Juche 1", em referência ao nome da ideologia estatal. O primeiro ditador norte-coreano tinha 41 anos ao assinar o armistício que encerrou a Guerra da Coreia (foto).
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Idolatria
Após a guerra, a máquina de propaganda de Pyongyang trabalhou duro para tecer uma narrativa mítica em torno de Kim Il-sung. A sua infância e o tempo que passou lutando contra as tropas japonesas nos anos 1930 foram enobrecidas para retratá-lo como um gênio político e militar. No congresso partidário de 1980, Kim anunciou que seria sucedido por seu filho, Kim Jong-il.
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No comando até o fim
Em 1992, Kim Il-sung começou a escrever e publicar sua autobiografia, "Memórias – No transcurso do século." Ao descrever sua infância, o líder norte-coreano afirmou que ao 6 anos participou de sua primeira manifestação contra os japoneses e, aos 8, envolveu-se na luta pela independência. As memórias permaneceram inacabadas com a sua morte, em 1994.
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Nos passos do pai
Depois de passar alguns anos no primeiro escalão do regime, Kim Jong-il assumiu o poder após a morte do pai. Seus 16 anos de governo foram marcados pela fome e pela crise econômica num país já empobrecido. Mas o culto de personalidade em torno dele e de seu pai, Kim Il-sung, cresceu ainda mais.
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Nasce uma estrela
Historiadores acreditam que Kim Jong-il nasceu num campo militar no leste da Rússia, provavelmente em 1941. Mas a biografia oficial afirma que o nascimento dele aconteceu na montanha sagrada coreana de Paekdu, exatamente 30 anos após o nascimento de seu pai, em 15 de abril de 1912. Segundo uma lenda, esse nascimento foi abençoado por uma nova estrela e um arco-íris duplo.
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Problemas familiares
Kim Jong-il teve três filhos e duas filhas com três mulheres, até onde se sabe. Esta foto de 1981 mostra Kim Jong-il sentado ao lado de seu filho Kim Jong-nam, fruto de um caso com a atriz Song Hye-rim (que não aparece na foto). A mulher à esquerda é Song Hye-rang, irmã de Song Hye-rim, e os dois adolescentes são filhos de Song Hye-rang. Kim Jong-nam foi assassinado em 2017.
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Procurando um sucessor
Em 2009, a mídia ocidental informou que Kim Jong-il havia escolhido seu filho mais novo, Kim Jong-un, para assumir a liderança do regime. Os dois apareceram juntos numa parada militar em 2010, um ano antes da morte de Kim Jong-il.
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Juntos
Segundo Pyongyang, a morte de Kim Jong-il em 2011 foi marcada por uma série de acontecimentos misteriosos. A mídia estatal relatou que o gelo estalou alto num lago, uma tempestade de neve parou subitamente e o céu ficou vermelho sobre a montanha Paekdu. Depois da morte de Kim Jong-il, uma estátua de 22 metros de altura do ditador foi erguida próxima à de seu pai (esq.) em Pyongyang.
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Passado misterioso
Kim Jong-un manteve-se fora de foco antes de subir ao poder. Sua idade também é motivo de controvérsia, mas acredita-se que ele tenha nascido entre 1982 e 1984. Ele estudou na Suíça. Em 2013, ele surpreendeu o mundo ao se encontrar com Dennis Rodman, antiga estrela do basquete americano, em Pyongyang.
Foto: picture-alliance/dpa
Um novo culto
Como os dois líderes antes dele, Kim Jong-un é tratado como um santo pelo regime estatal totalitário. Em 2015, a mídia sul-coreana reportou sobre um manual escolar que sustentava que o novo líder já sabia dirigir aos 3 anos. Em 2017, foi anunciado pela mídia estatal que um monumento em homenagem a ele seria construído no Monte Paekdu.
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Um Kim com uma bomba de hidrogênio
Embora Kim tenha chegado ao poder mais jovem e menos conhecido do público que seu pai e seu avô, ele conseguiu manter o controle do poder. O assassinato de seu meio-irmão Kim Jong-nam, em 2017, serviu para cimentar sua reputação externa de ditador impiedoso. O líder norte-coreano também expandiu o arsenal de armas do país.