Representação cubana em Washington será reaberta durante cerimônia para 500 convidados. Hasteamento da bandeira americana em Havana deverá acontecer em agosto.
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Estados Unidos e Cuba reabrem suas embaixadas em Havana e Washington nesta segunda-feira (20/07), marcando um novo capítulo nas relações diplomáticas entre os dois países. Há sete meses, eles iniciaram um histórico processo de reaproximação, depois de mais de meio século de hostilidades.
Washington e Havana retomaram oficialmente suas relações à 0h01 (2h01 em Brasília) desta segunda-feira. Nessa hora, as seções de interesses dos dois países, abertas em 1977, passaram a ser formalmente embaixadas.
O ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, presidirá, na manhã norte-americana, o hasteamento da bandeira cubana pela primeira vez, após 54 anos, em uma mansão que voltará a servir como embaixada de Havana em Washington. O evento, de grande caráter simbólico, terá a presença de mais de 500 pessoas, incluindo membros do Congresso dos Estados Unidos.
Não foram enviados convites aos parlamentares anticastristas mais radicais. A delegação americana será liderada pela subsecretária de Estado, Roberta Jacobson. O evento será seguido de uma reunião no Departamento de Estado, entre o secretário John Kerry e Rodríguez.
Enquanto os cubanos realizam uma cerimônia na embaixada dos Estados Unidos, a embaixada americana em Havana também será reaberta. No entanto, nenhuma bandeira será hasteada no local até a visita oficial de Kerry, que deve acontecer em agosto. "Gostaríamos que o secretário estivesse aqui para supervisionar estes eventos importantes", disse um dos funcionários do Departamento de Estado.
Com a reabertura das embaixadas, os atuais chefes das respectivas seções de interesses, José Ramón Cabañas (Cuba) e Jeffery DeLaurentis (EUA), passarão a ser encarregados de negócios, enquanto os dois governos iniciam o processo de nomeação de embaixadores.
Reaproximação histórica
O restabelecimento oficial das relações diplomáticas entre os dois países, após mais de meio século de tensões herdadas da Guerra Fria, marca o fim da primeira fase do processo de reaproximação, iniciado em 17 de dezembro de 2014.
No final de maio, Washington levantou o principal obstáculo ao reatamento de relações diplomáticas ao retirar Cuba da "lista negra" dos estados que apoiam o terrorismo.
O restabelecimento das embaixadas foi definido em 1º de julho e pode iniciar o fim de severas restrições estabelecidas entre os dois países, que romperam relações em 1961. As diferenças não desaparecem por completo e se espera que a normalização plena das relações aconteça lentamente.
Kerry e Rodríguez se reuniram pela primeira vez em abril, na Cúpula das Américas, no Panamá, onde os presidentes Barack Obama e Castro também se encontraram.
O presidente Raúl Castro insiste que as relações bilaterais só serão normalizadas quando o embargo econômico imposto à ilha em 1962 chegar ao fim. Além disso, o chefe de Estado cubano exige também que os Estados Unidos devolvam o território "ilegalmente ocupado" da base naval de Guantánamo. Só o Congresso americano pode acabar com o embargo econômico à Cuba.
MP/rtr/ap/dpa/efe/lusa
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.