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EUA e Irã sinalizam disposição de cooperar na crise do Iraque

16 de junho de 2014

Tradicionais adversários estudam aproximação para intervir em defesa do governo do primeiro-ministro Nuri al-Maliki. Kerry diz não descartar "nada que seja construtivo".

Foto: Reuters

Os Estados Unidos consideram a hipótese de estabelecer conversações com o Irã, no intuito de estabelecer uma cooperação com seu tradicional adversário político para ajudar o governo do Iraque em sua batalha contra os insurgentes sunitas.

Declarações nesse sentido foram dadas nesta segunda-feira (16/06) pelo secretário de Estado John Kerry, dois dias depois de o presidente do Irã, Hassan Rohani, ter demonstrado abertura para uma possível cooperação com os EUA.

Nos últimos dias, o EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) vêm conseguindo se sobrepor ao Exército iraquiano e tomou algumas das principais cidades no norte do país. Nesta segunda-feira (16/06), relatos de moradores confirmam a ocupação da cidade de Tal Afar. A organização islamista almeja chegar até a capital Bagdá e depor o governo do primeiro-ministro Nuri al-Maliki.

O EIIL almeja a criação de um novo califado no Iraque e na Síria, onde combate o governo do presidente Bashar al-Assad, que é apoiado pelo Irã. O EIIL têm o apoio de parte da minoria sunita iraquiana, que considera o xiita Al-Maliki uma marionete do Irã e dos EUA. O levante ameaça desmembrar o Estado iraquiano, o que poderia desencadear mais conflitos no já conturbado Oriente Médio.

Kerry sinaliza cooperação

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou nesta segunda-feira que está aberto a cooperar com o Irã e confirmou que ataques com aeronaves não tripuladas (drones) seriam uma opção para deter o avanço dos insurgentes sunitas.

Ao ser perguntado pelo site de notícias Yahoo News se os EUA estariam dispostos a estabelecer uma cooperação militar com os iranianos, Kerry respondeu: "não descarto nada que possa ser construtivo". Ainda assim, foi prudente ao declarar "vamos esperar para ver o que o Irã está ou não disposto a fazer".

Rohani diz que cooperação é possível se EUA devem estar de fato interessados em combater "os terroristas"Foto: Reuters

As conversas entre as duas partes poderão acontecer ainda nesta semana, paralelamente a uma reunião entre diplomatas dos dois países para tratar do programa nuclear iraniano.

Kerry declarou ainda que o presidente Obama faz uma avaliação cuidadosa de todas as opções disponíveis, inclusive os ataques com drones, e que os EUA estão "profundamente comprometidos com a integridade do Iraque como país".

Obama já havia descartado enviar tropas ao Iraque, ainda que leve em conta outras opções militares. Um porta-aviões americano já está posicionado no Golfo Pérsico.

"Este é um ataque à estabilidade da região. É, obviamente, um desafio para a existência do próprio Iraque", declarou Kerry.

Uma ação conjunta entre Washington e Teerã, em nome do apoio ao Iraque, aliado de ambos, seria um grande avanço na diplomacia entre os dois países. As hostilidades entre os dois países remontam à revolução iraniana de 1979, que instaurou o governo dos aiatolás no país. Esse compromisso, se confirmado, evidencia o alto grau de preocupação com a insurgência no Iraque.

Colaboração inédita

Rohani já havia dito que Teerã levaria em consideração uma colaboração com os americanos se perceber que o governo em Washington está de fato interessado em controlar o que chamou de "grupos terroristas".

O presidente vem promovendo uma abertura gradual ao Ocidente, como nas negociações que resultaram num acordo inédito sobre o controle do programa nuclear iraniano, em troca do alívio de sanções impostas por Washington. Mas uma cooperação aberta contra uma ameaça mútua seria algo novo.

Teerã já havia acusado os EUA e seus aliados na região de fomentar a militância sunita através do apoio aos rebeldes na Síria, país onde o EIIL despontou como um dos grupos insurgentes dominantes, em meio à guerra que já dura três anos. Rouhani lembrou que já havia alertado anteriormente o Ocidente sobre o "perigo de apoiar um grupo terrorista e inconsequente".

Militante do EIIL em posto de controle em MossulFoto: Reuters

Prisões na Espanha

Nove pessoas foram presas na Espanha e na Alemanha, suspeitas de cooperarem com o EIIL na Europa. O ministério do Interior da Espanha declarou que a polícia deteve oito indivíduos em Madri, na manhã desta segunda-feira, sob suspeita de recrutarem militantes jihadistas para o grupo islamista.

De acordo com o comunicado, o líder do grupo teria sido prisioneiro em Guantánamo – a prisão militar dos EUA em Cuba – após ter sido capturado no Afeganistão em 2001. O ministério não divulgou a nacionalidade dos suspeitos.

Em Berlim, a polícia prendeu no sábado um francês de 30 anos suspeito de "apoiar uma organização terrorista", segundo afirmou o porta-voz da promotoria pública. O suspeito, cujo nome não pôde ser revelado, teria aparecido em vídeos de propaganda do Isis. Uma corte decretará sua extradição para a França nos próximos dias.

RC/rtr/ap/afp/dpa

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