Cidade no norte da Síria é cenário de intensos combates entre forças do presidente Assad e rebeldes, que deixaram centenas de mortos nas últimas duas semanas. Exército sírio afirma que cumprirá trégua de 48 horas.
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Os Estados Unidos e a Rússia concordaram em estender o cessar-fogo na Síria para a cidade de Aleppo, afirmou o Departamento de Estado americano nesta quarta-feira (04/05). A região é palco de intensos combates entre forças do presidente Bashar al-Assad e rebeldes.
As conversas entre Washington e Moscou a respeito do fim das hostilidades em Aleppo foram mantidas nesta terça-feira, com objetivo de reduzir a morte de civis e a crise humanitária na região. O cessar-fogo entrou em vigor à 0h do horário local.
De acordo com o comunicado da diplomacia americana, já foi possível observar, desde o início da trégua, "uma redução generalizada da violência" na província, "mesmo que existam informações sobre o prosseguimento de combates em certos locais".
"Para garantir que isso continue de uma forma sustentável, estamos estreitamente coordenados com a Rússia para controlar e monitorar a manutenção desse novo cessar-fogo", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner.
Após as declarações, o Exército sírio afirmou que irá respeitar o cessar-fogo durante 48 horas, a partir da 1h da manhã desta quinta-feira, segundo a televisão estatal.
Imagens de uma cidade síria recuperada do "Estado Islâmico"
03:18
Na semana passada, um "regime de silêncio" foi estabelecido em dois dos principais fronts da guerra civil síria, Ghuta Oriental e Latakia, por pressão dos EUA e da Rússia. A capital regional Aleppo, porém, ficou de fora da trégua, e os combates continuaram intensos.
Aleppo, que já foi o grande centro comercial do país e é a maior cidade do norte da Síria, é cenário de uma onda de ataques que levou a centenas de mortes em doze dias de bombardeiros aéreos e ataques de artilharia.
Mais de 50 pessoas morreram – incluindo o último médico pediatra da região – num bombardeio contra um hospital na semana passada. Nesta terça-feira, uma maternidade foi atingida, deixando cerca de 30 mortos.
Enquanto a Rússia tem cooperado com o regime do presidente sírio no combate a grupos rebeldes e opositores do governo de Damasco, os EUA têm fornecido ajuda militar e treinamento para rebeldes moderados, e também ajudado a conter o avanço de grupos extremistas como o "Estado Islâmico".
Nesta quarta-feira, o enviado especial da ONU para a crise síria, Staffan de Mistura, apelou para o fim dos combates em Aleppo e alertou para um desfecho "catastrófico" caso os confrontos na região não seja interrompidos.
"A alternativa é verdadeiramente catastrófica, porque poderemos assistir ao deslocamento de 400 mil pessoas em direção à fronteira com a Turquia", declarou, após conversas em Berlim com os ministros do Exterior da França e da Alemanha.
EK/afp/efe/lusa/rtr
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.