EUA e UE selam acordo para diminuir dependência do gás russo
25 de março de 2022
Joe Biden e Ursula von der Leyen anunciam nova parceria em Bruxelas. Americanos vão mandar 15 bilhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito adicionais para a União Europeia ainda este ano.
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Estados Unidos e União Europeia selaram um acordo para diminuir a dependência do bloco do gás importado da Rússia. Além da redução da importação de gás russo, a ideia de americanos e europeus é trabalhar em conjunto com o objetivo de acelerar os processos transitórios para o aumento da produção de energias renováveis.
O anúncio foi feito nesta sexta-feira (25/03) pelo presidente americano, Joe Biden, que está em viagem pela Europa, e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Bruxelas, na Bélgica. Ainda nesta sexta, Biden visitará a Polônia, a fim de observar de perto a situação dos refugiados provindos da Ucrânia.
Para assegurar o compromisso e o repasse extra de 15 bilhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito para a União Europeia ainda este ano, os Estados Unidos devem trabalhar junto a parceiros internacionais. Desta forma, o montante não seria importado apenas diretamente dos EUA à UE.
A Comissão Europeia, por outro lado, deve atuar junto aos países que compõem o bloco a fim de assegurar-lhes o recebimento extra de 50 bilhões de metros cúbicos de gás até 2030. Somente no ano passado, a UE comprou em torno de 22 bilhões de metros cúbicos dos Estados Unidos.
Ao todo, somente em 2021, a UE importou cerca de 80 bilhões de metros cúbicos de gás natural liquefeito. Não está claro, porém, se os 15 bilhões de metros cúbicos extras vão justamente fechar com os 80 bilhões do ano passado ou se ultrapassarão o montante, chegando a 95 milhões de metros cúbicos no total.
O acordo deve gerar investimentos de infraestrutura, a exemplo de terminais e conexões entre EUA e UE. Ao mesmo tempo, a ideia é, com a transição gradual para o aumento da produção e do uso de energia renovável (como solar ou eólica), diminuir as emissões de gases de efeito estufa provenientes das estruturas atuais de gás, como o vazamento de metano.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que o bloco pretende eliminar a dependência do gás russo até 2027, e classificou o acordo como "um grande passo” rumo a esse objetivo.
Já o presidente americano comentou que EUA e UE estão unindo esforços para reduzir a dependência da Europa do gás russo: "Não devemos subsidiar o ataque brutal de Putin à Ucrânia”, destacou.
Alemanha quer reduzir dependência o mais rápido possível
Nesta sexta-feira, no entanto, o país anunciou que pretende diminuir de maneira rápida e significativa a dependência de gás e carvão até o próximo outono, no fim deste ano.
Em um comunicado, o Ministério da Economia da Alemanha informou que "até o meio do ano, as importações russas de petróleo para a Alemanha devem diminuir pela metade, e queremos uma ‘quase independência' até o final do ano”.
"Até o outono, podemos nos tornar totalmente independentes do carvão russo", diz o mesmo documento, acrescentando, ainda, que a Alemanha pode ficar "‘bastante independente'” até meados de 2024.
gb (Reuters, Lusa, ots)
Como países europeus reagem à alta da energia
Estados da UE estão investindo bilhões de euros para amortecer o impacto da disparada dos preços do gás e eletricidade sobre o consumidor. Aqui, alguns exemplos.
Foto: Frank Rumpenhorst/dpa/picture alliance
França: medo de novos protestos
Como, em 2018 e 2019, um imposto ecológico gerou violentos protestos na França, em 2022 o governo pretende limitar em 4% o aumento dos preços de eletricidade. A empresa estatal EDF foi forçada a fornecer energia mais barata aos consumidores privados, enquanto Paris arca com 8 bilhões de euros (48 bilhões de reais) de prejuízos.
Foto: Anne-Christine Poujoulat/AFP/Getty Images
Itália: Draghi sempre disposto a ajudar
Como presidente do Banco Central Europeu ou como premiê italiano, Mario Draghi não hesita em empregar as verbas públicas para facilitar a vida dos cidadãos. Em setembro de 2021, Roma investiu 3 bilhões de euros contra a pobreza causada pela alta dos preços da energia, assumindo as contas de gás e eletricidade de pequenas firmas e famílias mais carentes. O IVA foi reduzido de mais de 20% para 5%.
Foto: ALBERTO PIZZOLI/AFP
Alemanha: uma ajuda só, e olhe lá
A Alemanha não tem se mostrado tão generosa como alguns de seus vizinhos. O governo federal está liberando auxílios únicos para as unidades residenciais mais pobres, a fim de amortecer o impacto da energia mais cara. Calcula-se que a iniciativa custará 130 milhões de euros aos cofres públicos.
Foto: H. Blossey/blickwinkel/picture alliance
Espanha: protegendo os consumidores
Em meados de 2021, Madri cortou pela metade o imposto de valor agregado (IVA) sobre a eletricidade, deixando-o em 10%. Em setembro, a taxa espanhola foi a mais baixa da União Europeia, com 0,5%. O governo quer evitar que as famílias mais pobres tenham sua eletricidade cortada. As companhias que lucram com o salto dos preços do gás foram instadas a devolver aos consumidores os ganhos excedentes.
Foto: Jonas Martiny/DW
Grécia: subsídios, apesar de cofres vazios
Os preços do gás dobraram na Grécia em apenas um ano, enquanto a eletricidade e o óleo para calefação subiram 35%. Embora o país esteja com os cofres vazios, devido à crise de endividamento de 2010, segue concedendo polpudos subsídios para abrandar a presente espiral de preços. Apenas em janeiro de 2022, Atenas alocou 400 milhões de euros para esse fim.
O governo polonês já reduziu o IVA sobre combustíveis, e desde 1º de fevereiro está inteiramente suspenso para os gêneros alimentícios. Embora grande parte da gasolina dos postos da Polônia venha de refinarias da Alemanha, os alemães que vivem perto da fronteira ainda podem economizar pelo menos 20% enchendo os tanques no país vizinho.
Foto: Jörg Carstensen/dpa/picture alliance
República Tcheca: novo governo, velhos planos
Ainda não está claro até que ponto o novo primeiro-ministro tcheco, Petr Fiala, implementará os planos de seu antecessor, o bilionário populista Andrej Babis. Segundo estes, os impostos sobre gás e eletricidade seriam primeiramente reduzidos, e depois eliminados, até 2023. Certos consumidores se opõem ao Acordo Verde da UE, culpando-o, em parte, pela disparada dos custos da energia.