EUA emitem sinais contraditórios sobre política para Síria
9 de abril de 2017
Nikki Haley, representante dos EUA na ONU, diz que presidente sírio tem que deixar o poder. Já secretário de Estado Rex Tillerson afirma que a derrota do "Estado Islâmico" continua sendo prioridade máxima.
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A embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, exigiu neste domingo (09/04) que o presidente da Síria, Bashar al-Assad, deixe o poder, a fim de que haja uma solução estável para o país árabe.
"Observando suas ações e olhando a situação, é muito difícil ver um governo pacífico e estável com Assad", disse Haley em entrevista à CNN, acrescentando que os EUA também tentam acabar com o "Estado Islâmico" (EI) e com a "influência iraniana".
As declarações de Haley – que poderiam supor uma mudança de curso na política externa de Washington – contradizem as do secretário de Estado, Rex Tillerson, que insistiu que a derrota do EI na Síria continuava sendo prioridade máxima para Washington.
"É importante mantermos nossas prioridades claras. E acreditamos que a primeira seja a derrota do EI", declarou Tillerson em entrevista que será transmitida no fim da noite do domingo pela emissora CBS.
Tillerson afirmou também que pressionará os russos sobre sua impotência em impedir que a Síria use armas químicas. "Eu não tiro conclusões de cumplicidade, mas claramente eles têm sido incompetentes e talvez tenham sido usados pelos sírios", frisou.
Segundo o assessor de Segurança Nacional do governo Trump, o tenente-general do Exército Herbert Raymond McMaster, porém, não há contradições entre os comentários feitos por Tillerson, de que o EI deve ser derrotado primeiro, e de Haley, de que a saída de Assad é uma prioridade.
Ele explicou que, de alguma forma, as duas prioridades são paralelas. "Tem que haver um grau de atividade simultânea, como também se colocar a derrota do EI primeiro na sequência", afirmou em entrevista à emissora Fox News.
McMaster sublinhou que o ataque de mísseis de Trump foi "um sinal muito forte para Assad e seus apoiadores". Os EUA não ficarão de braços cruzados, e a Rússia deveria agora reconsiderar o apoio ao "regime assassino", concluiu o militar.
FC/efe/ap/afp/lusa
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.