Centenas de soldados são mobilizados para reforçar as tropas da coalizão liderada por Washington em território sírio, visando iminente ofensiva contra o EI em Raqqa. Forças incluem oficiais da Marinha e Rangers.
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Os Estados Unidos ordenaram o envio de mais soldados para a Síria para reforçar uma ofensiva contra o "Estado Islâmico" (EI) na cidade de Raqqa – principal reduto jihadista no país e capital não oficial do autodenominado califado –, confirmaram autoridades americanas nesta quinta-feira (09/03).
Segundo o jornal New York Times, essas forças adicionais incluem membros da infantaria da Marinha e das forças especiais dos Rangers, que já chegaram ao país. A missão desses soldados, de acordo com o veículo, será ajudar no preparo das forças sírias para a iminente investida em Raqqa.
"Estamos preparando apoio logístico e de artilharia para permitir uma ofensiva bem-sucedida na autoproclamada capital do EI", afirmou, ao mesmo jornal, o coronel John Dorrian, porta-voz da coalizão liderada pelos Estados Unidos para combater o grupo terrorista na Síria e no Iraque.
Dorrian disse que, por motivos de segurança, não será divulgado o número exato de soldados americanos na Síria, bem como sua localização nessa ofensiva, mas confirmou que "cerca de 400 soldados adicionais foram mobilizadas temporariamente para permitir a derrota do EI em Raqqa". Segundo ele, trata-se de reforço temporário, e o número de soldados permanentes dos EUA na Síria continua sendo de cerca de 500.
Em audiência no Senado americano, o general do Comando Central militar dos EUA Joseph Votel também confirmou o envio desses soldados, segundo agências de notícias internacionais.
Na luta contra o EI na Síria, Washington tem como principal parceiro as Forças Democráticas Sírias (FDS), que incluem milícias curdas. A aliança não agrada a Turquia, que, por sua vez, opera na Síria com a prioridade de evitar que os curdos controlem o norte do país ao longo de sua fronteira.
Desde novembro do ano passado, a coalizão liderada pelos Estados Unidos vem trabalhando para isolar o "Estado Islâmico" em Raqqa, onde as Forças Armadas americanas estimam haver entre 3 mil e 4 mil combatentes do grupo terrorista.
À agência de notícias Reuters, Dorrian garantiu que os esforços para cercar a cidade estão indo "muito bem" e podem ser concluídos em algumas semanas. Nos últimos dias, as FDS bloquearam a rodovia que liga Raqqa à província de Deir ez-Zor, última importante saída do reduto jihadista.
EK/rtr/efe/afp/ots
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.