EUA interceptam foguetes lançados contra aeroporto de Cabul
30 de agosto de 2021
Em meio à corrida contra o tempo para concluir retirada americana do Afeganistão, ao menos cinco projéteis disparados contra aeroporto são derrubados por sistema antimísseis dos EUA. "Estado Islâmico" reivindica ataques.
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Os Estados Unidos interceptaram e derrubaram foguetes disparados contra o aeroporto de Cabul na manhã desta segunda-feira (30/08), onde militares americanos correm contra o tempo para concluir sua retirada do Afeganistão dentro do prazo previsto, até esta terça, selando o fim de 20 anos de guerra no país.
O braço afegão do grupo "Estado Islâmico" reivindicou a autoria dos ataques. "Os soldados do califado miraram o aeroporto internacional de Cabul com seis foguetes", afirmou o chamado "Estado Islâmico Khorasan" (EI-K) em comunicado, afirmando que pessoas ficaram feridas.
Uma fonte do governo dos EUA citada pela agência de notícia Reuters e pelo New York Times afirmou que ao menos cinco foguetes foram derrubados por um sistema antimísseis e que inicialmente não foram registradas vítimas.
Segundo a fonte, que falou em condição de anonimato, o aeroporto permanece aberto. A Casa Branca também confirmou que as operações no local seguem ininterruptas.
Relatos da mídia afegã afirmaram que os projéteis partiram da parte traseira de um veículo. De acordo com a agência de notícias Pajhwok, foguetes atingiram diferentes partes de Cabul.
Segundo um comunicado emitido pela Casa Branca, após ser informado do disparo dos projéteis, o presidente Joe Biden reforçou sua ordem para que comandantes militares do país façam "tudo o que for necessário" para proteger as forças americanas.
Como aponta o New York Times, a interceptação dos projéteis evidencia a precariedade da situação no aeroporto e o perigo de um iminente vácuo de segurança no Afeganistão após o fim da mais longa guerra já travada pelos Estados Unidos.
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Corrida conta o tempo
Washington já retirou cerca de 114 mil pessoas do Afeganistão – incluindo estrangeiros e afegãos em risco – numa operação iniciada um dia antes de Cabul ser tomada pelo Talibã, em 15 de agosto. Os EUA e países aliados devem concluir a retirada do país até o fim de agosto em cumprimento do prazo acordado com os militantes islamistas.
Os esforços para sair do país se tornaram mais urgentes após ataques reivindicados pelo braço afegão do "Estado Islâmico” (EI) ocorridos na quinta-feira, deixando ao menos 169 afegãos e 13 militares dos EUA mortos. O número de soldados americanos no aeroporto caiu para menos de 4 mil no fim de semana.
Neste domingo, um ataque com drone lançado pelos EUA matou um homem-bomba em seu veículo, o qual o Pentágono afirmou que estava se preparando para cometer um atentado com o aeroporto de Cabul em nome do "Estado Islâmico Khorasan", inimigo tanto do Ocidente quanto do Talibã.
O Comando Central dos EUA afirmou estar investigando relatos de vítimas civis após o ataque com drone. "Sabemos que houve explosões subsequentes substanciais e poderosas, resultantes da destruição do veículo e indicando que havia uma grande quantidade de material explosivo em seu interior, a qual poderia ter causado mortes adicionais", disse.
A ameaça do "Estado Islâmico" forçou as forças americanas e o Talibã a cooperaram para garantir a segurança no aeroporto. No sábado, combatentes talibãs escoltaram afegãos de ônibus até o terminal de passageiros, entregando-os para militares dos EUA para que fossem retirados do país.
Duas fontes do governo americano afirmaram à Reuters que os esforços de evacuação continuariam nesta segunda, dando prioridade a pessoas sob risco extremo. Mas dezenas de milhares de afegãos que tentam desesperadamente fugir do domínio talibã devem ser deixados para trás.
Promessa de vingança
Neste domingo, Biden participou de uma cerimônia na base aérea de Dover, no estado de Delaware, em homenagem aos 13 integrantes das Forças Armadas americanas mortos nos ataques suicidas de quinta-feira. Eles tinham entre 20 e 31 anos de idade.
A retirada das últimas tropas marcará o fim da intervenção militar liderada pelos Estados Unidos no Afeganistão iniciada no fim de 2001, após os ataques perpetrados pela Al Qaeda nos Estados Unidos em 11 de setembro daquele ano. Os EUA e aliados derrubaram o então governo talibã (1996-2001), que tinha abrigado o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, morto pelas forças dos EUA no Paquistão em 2011.
Agora, o Talibã prometeu um regime mais moderado do que o anterior, marcado por uma interpretação rígida da sharia, a lei islâmica, com violações de direitos básicos e opressão às mulheres. Mas muitos afegãos temem uma volta ao passado.
lf (Reuters, AFP, AP, ots)
A intervenção dos EUA no Afeganistão
Há 20 anos, após o 11 de Setembro, os EUA enviavam seus primeiros soldados ao país. Reveja os principais acontecimentos desde então: da operação Liberdade Duradoura à retomada do país pelos fundamentalistas do Talibã.
Foto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance
Operação Liberdade Duradoura
Em outubro de 2001, menos de um mês após aos ataques de 11 de Setembro, o presidente George W. Bush lança no Afeganistão a operação Liberdade Duradoura, depois que o regime Talibã se recusa a entregar Osama bin Laden. Em semanas, os americanos derrubam o Talibã, que ocupava o poder desde 1996. Cerca de mil soldados são enviados ao país em novembro, aumentando para 10 mil um ano depois.
Foto: picture-alliance/DoD/Newscom/US Army Photo
Talibã se reagrupa
A invasão do Iraque em 2003 se torna a maior preocupação dos EUA e desvia a atenção do Afeganistão. O Talibã e outros grupos islamistas se reagrupam em seus redutos no sul e leste do Afeganistão. Em 2008, Bush concorda em enviar soldados adicionais ao país em meio a pedidos por uma estratégia efetiva contra o Talibã. Em meados de 2008, há 48.500 soldados americanos no país.
Foto: picture alliance/Photoshot
Obama é eleito
Em sua campanha, Barack Obama promete encerrar as guerras no Iraque e no Afeganistão. Mas nos primeiros meses de sua presidência, em 2009, há um aumento no número de soldados no Afeganistão para cerca de 68 mil. Em dezembro, o número cresce ainda mais, para 100 mil, com o objetivo de conter o Talibã e fortalecer instituições afegãs.
Foto: AP
Morte de Bin Laden
Osama bin Laden, líder da Al Qaeda que esteve por trás dos ataques de 11 de Setembro, é morto em maio de 2011 em seu esconderijo, durante uma operação de forças especiais americanas no Paquistão.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo com Afeganistão
O Afeganistão assina em setembro de 2014 um acordo bilateral de segurança com os EUA e texto similar com a Otan: 12.500 soldados estrangeiros, dos quais 9.800 norte-americanos, permaneceriam no país em 2015. Mas a situação de segurança piora. Em meio à ressurgência do Talibã, Obama diminui a velocidade de retirada em 2016, afirmando que 8.400 soldados permaneceriam no Afeganistão.
Foto: Reuters
Bombardeio de hospital em Kunduz
Em outubro de 2015, no auge do combate entre insurgentes islâmicos e o Exército afegão, apoiado por forças da Otan, um ataque aéreo dos EUA atinge um hospital dirigido pela organização Médicos Sem Fronteiras na província de Kunduz. O ataque deixa 42 mortos, inclusive 24 pacientes e 14 membros da ONG.
Foto: Getty Images/AFP
"Mãe de todas as bombas"
Em abril de 2017, forças americanas atingem posições do "Estado Islâmico" (EI) no Afeganistão com a maior bomba não nuclear já usada pelo país em combate, matando 96 jihadistas. Em julho, é morto o novo líder do EI no país.
Foto: Reuters/U.S. Department of Defense
"Estamos diante de um impasse"
Em fevereiro de 2017, um relatório do governo dos EUA mostra que as perdas entre as forças de segurança afegãs subiram 35% em 2016 em relação ao ano anterior. Pouco depois, o general americano à frente das forças da Otan, John Nicholson (esq., ao lado do secretário da Defesa John Mattis), alerta que precisa de mais milhares de soldados: “Acredito que estamos diante de um impasse."
Foto: Reuters/J. Ernst
Trump anuncia nova estratégia
Em 21 de agosto de 2017, o presidente Donald Trump anuncia nova estratégia para o Afeganistão, fazendo da caça a terroristas a principal prioridade. Trump não especifica um aumento do número de soldados como esperado, mas diz que os objetivos incluem "obliterar" o Estado Islâmico, "esmagar" a Al Qaeda e impedir o Talibã de dominar o Afeganistão.
Foto: picture-alliance/Pool via CNP/MediaPunch/M. Wilson
EUA negociam com rebeldes
Em julho de 2018, sob o governo do presidente Donald Trump, os EUA entram em negociação com o Talibã, sem envolver o governo afegão eleito ou os parceiros da Otan.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Photo/Qatar Ministry of Foreign Affairs
Trump cancela encontro com Talibã
Em setembro de 2019, o presidente Trump cancela na última hora uma reunião marcada em sigilo com líderes do Talibã e do Afeganistão, após o grupo islamista assumir a autoria de um ataque em Cabul que matou um soldado americano e outras 11 pessoas.
Foto: Getty Images/M. Wilson
EUA e Talibã assinam acordo de paz
Em fevereiro de 2020, sob o regime Trump, os governos dos EUA e do Afeganistão anunciam a retirada completa das tropas americanas e de outros países da Otan. O pacto assinado pelo negociador especial dos EUA para a paz, Zalmay Khalilzad, e pelo líder político talibã mulá Abdul Ghani Baradar, prevê que o número de militares estrangeiros seria reduzido gradualmente, ao longo de 14 meses.
Foto: AFP/G. Cacace
Biden anuncia retirada total das tropas
Em 14 de abril de 2021, o presidente Joe Biden comunica à população americana que a guerra mais longa do país terá fim, com as tropas dos EUA e da Otan se retirando inteiramente do Afeganistão até 11 de setembro, 20º aniversário dos ataques terroristas em Nova York.
Foto: Andrew Harnik/AFP/Getty Images
EUA e Otan iniciam retirada
EUA e Otan iniciam formalmente, em 1º de maio de 2021, a retirada de todas as suas tropas do Afeganistão. A previsão era retirar até 11 de setembro entre 2.500 e 3.500 soldados americanos e cerca de outros 7 mil soldados da Otan. Estima-se que os EUA tenham gasto mais de 2 trilhões de dólares no país, em 20 anos, de acordo com o projeto Costs of War da Universidade Brown.
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Americanos entregam base ao governo afegão
Em 2 de julho de 2021, tropas dos EUA partem da base aérea de Bagram, ponto focal da guerra, e entregam o local ao governo afegão. Permanecem no país asiático alguns poucos soldados, numa pequena base na capital Cabul.
Foto: Rahmat Gul/AP/picture alliance
Talibã toma capitais regionais
Aproveitando o vácuo deixado pela retirada das tropas de paz internacionais do Afeganistão, guerrilheiros do Talibã tomam, no inicio de agosto de 2021, capitais regionais como Sheberghan, Kunduz e Zaranj, num duro golpe para o governo afegão, que lutava para defender as cidades mais importantes da ofensiva do grupo extremista.
Foto: Abdullah Sahil/AP Photo/picture alliance
EUA retiram seus cidadãos do Afeganistão
Em meados de agosto, Estados Unidos e outros países começam a retirar seus cidadãos do Afeganistão, enquanto forças militares americanas se esforçam para proteger e manter funcionando o aeroporto de Cabul. Com todos os voos comerciais cancelados, milhares de afegãos invadem a pista do aeroporto desesperados, tentando embarcar em qualquer aeronave que fosse decolar.
Foto: Wakil Kohsar/AFP
Talibã ocupa palácio presidencial
O Talibã toma a capital Cabul, em 15 de agosto de 2021, dissolvendo o governo e estendendo seu controle sobre todo o Afeganistão. A capital era um dos últimos redutos ainda sob a autoridade do presidente Ashraf Ghani. Assim como ocorreu com dezenas de outras cidades, ele é tomada sem resistência efetiva das tropas governamentais. Ghani foge do país.
Foto: Zabi Karim/AP/picture alliance
Biden defende retirada das tropas
Um dia depois da tomada de Cabul, o presidente dos EUA, Joe Biden, defende a decisão de pôr fim à presença americana no Afeganistão e condena líderes e políticos afegãos que abandonaram o país, abrindo caminho para a tomada de poder pelo Talibã. Biden culpa ainda o ex-presidente Donald Trump, por ter fortalecido o grupo rebeldes e deixado os talibãs em sua melhor situação militar desde 2001.