EUA investigam perda auditiva em diplomatas em Havana
10 de agosto de 2017
Funcionários da embaixada americana na ilha teriam sido expostos a mecanismo sonoro clandestino. Cuba nega envolvimento no caso, que pode esfriar relações diplomáticas.
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Uma série de incidentes estranhos que causou graves perdas auditivas num grupo de diplomatas americanos em Havana estremeceu as recém retomadas relações entre os Estados Unidos e Cuba. Em retaliação, os EUA expulsaram dois diplomatas cubanos da embaixada de Cuba em Washington em maio, anunciou o Departamento de Estado nesta quarta-feira (09/08).
Os misteriosos sintomas foram atribuídos a um mecanismo sonoro clandestino. Segundo a rede de televisão americana CNN, os funcionários teriam sido vítimas de um "ataque acústico", que desencadeou indícios físicos parecidos aos de uma concussão.
Os primeiros casos teriam sido identificados no fim de 2016, segundo a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Heather Nauert, que não quis dar maiores detalhes e apenas mencionou "uma variedade de sintomas físicos" e nada sobre perda de audição. "Ainda não há respostas definitivas", afirmou Nauert, que disse também que os casos estão sendo investigados.
Cuba negou qualquer procedimento contra diplomatas dos Estados Unidos. Segundo um comunicado do Ministério das Relações Exteriores cubano, o governo prometeu ajudar a esclarecer os fenômenos. O texto diz ainda que Cuba reforçou a segurança em torno da embaixada americana e das residências de diplomatas do país na ilha.
A decisão de expulsar os diplomatas cubanos em retaliação ao incidente é "injustificada e sem fundamento", afirmou o governo cubano. Já Nauert argumentou que "Cuba tem a obrigação de tomar medidas para proteger diplomatas sob a Convenção de Viena".
No final de 2016, uma série de diplomatas americanos começou a sofrer perdas inexplicáveis de audição, segundo pessoas que conhecem detalhes da investigação do caso e que falaram a agências noticiosas sob condição de anonimato.
Vários dos funcionários da embaixada tinham acabado de chegar à representação americana em Cuba, que reabriu em 2015 após a retomada, impulsionada pelo ex-presidente americano Barack Obama, das relações diplomáticas entre Washington e Havana.
Alguns deles apresentaram sintomas tão severos que foram obrigados a cancelar suas missões e retornar aos Estados Unidos. Após meses de investigações, oficiais americanos concluíram que os diplomatas foram expostos a um mecanismo que operou numa escala acústica inaudível e que foi instalado dentro ou fora de suas residências. Ainda não se sabe se o mecanismo foi usado num ataque deliberado ou se o aparelho tinha algum outro propósito.
Cuba emprega um aparato de segurança estatal que mantém várias pessoas sob vigilância. Diplomatas dos EUA estão entre aqueles que são monitorados mais de perto.
Pessoas familiarizadas com as investigações afirmaram que os investigadores também estão considerando a possibilidade de os incidentes serem de responsabilidade de um terceiro país, como a Rússia, que poderia ter agido sem o conhecimento das autoridades cubanas.
RK/dpa/ap/afp
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.