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EUA já se posicionam para garantir quinhão no mercado iraniano

Antje Passenheim, de Washington (ca)11 de novembro de 2013

Irã e potênciais ocidentais ainda negociam acordo de aproximação, mas representantes do setor econômico americano já se preparam para eventual queda das sanções. Eles olham para um mercado de 80 milhões de consumidores.

Foto: A.Al-Saadi/AFP/GettyImages

Uma notícia divulgada nesta segunda-feira (11/11) deverá elevar os ânimos de empresários em países ocidentais. Autoridades iranianas anunciaram que Teerã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aprovaram um cronograma de trabalhos conjuntos.

Segundo o chefe da organização de energia nuclear do Irã, Ali Akbar Salehi, isso foi possível por meio dos avanços nas negociações em diversos setores, apesar de nada de concreto ter saído do encontro entre o Irã e o chamado Grupo dos 5+1 (cinco potências com poder de veto no Conselho de Segurança mais a Alemanha), encerrado neste domingo em Genebra.

Ainda é cedo, portanto, para se falar de normalidade nas relações entre o Irã e os países ocidentais, mas recentes declarações do presidente Barack Obama também agradaram à comunidade de negócios em ambos os lados da mesa de negociações.

Obama disse que os EUA podem cogitar um afrouxamento moderado das sanções, ressalvando, no entanto, que a estrutura delas permanecerá inalterada até ficar claro que o Irã vai mesmo se ater às regras do jogo. "Nós podemos fazer um teste e não precisamos, no momento, retirar nenhuma sanção", declarou Obama.

Mas, para o presidente da organização independente Conselho Nacional Iraniano-Americano, Trita Parsi, justamente isso é necessário. Quanto mais cedo as sanções contra o Irã forem suspensas, melhor, argumenta.

"O maior perigo é que as sanções sejam relaxadas muito lentamente", disse o fundador da organização que representa os interesses dos iranianos residentes nos Estados Unidos. "Assim, os iranianos teriam a impressão de que o Ocidente não estaria cumprindo sua promessa. E isso poderia levar ao fracasso das negociações."

Empresários ocidentais já estariam de sobreaviso. "Até onde eu sei, o Irã já está estendendo os seus tentáculos no mundo empresarial americano", afirmou Alex Vatanka, especialista em Irã do Instituto do Oriente Médio em Washington. "A esperança é que os lobistas americanos defendam as propostas iranianas junto a representantes do governo, argumentando que as sanções devem ser suspensas para que o comércio possa começar."

Ali Akbar Salehi e Yukiya Amano: chefe da agência iraniana de energia nuclear e da AIEA assinam acordoFoto: Getty Images/Afp/Atta Kenare

Penas duras

As sanções impostas por Washington contra o Irã já duram, em parte, mais de 30 anos. Devido ao suposto apoio a terroristas e à suposta ambição por armas de destruição em massa, em 1995 o então presidente Bill Clinton impôs um embargo comercial ao país asiático. Na administração Obama, as restrições comerciais foram ampliadas. Desde 2011, por exemplo, elas afetam também a indústria petroquímica iraniana.

Agora, com a perspectiva de que elas sejam afrouxadas, chefes das grandes petrolíferas já estariam procurando um contato mais próximo com o Irã, afirma a mídia americana. Segundo as reportagens, eles se encontraram com o ministro iraniano do Petróleo, Bijan Zanganeh, à margem da recente Assembleia-Geral das Nações Unidas. Os americanos não querem que empresas europeias como Shell e Total assumam a totalidade da exploração de petróleo no Irã.

Zanganeh, por sua vez, afirmou que o afrouxamento de sanções poderia significar um ingresso de 55 bilhões de dólares somente com as exportações de petróleo.

Na opinião de Vatanka, o mercado iraniano não seria lucrativo somente para empresas de gás e petróleo. Também seria possível ganhar dinheiro com o setor de telecomunicações e aviação ou com bens de consumo ocidentais, que os iranianos estão ansiosos para comprar.

Carros, por exemplo. A General Motors já está se colocando em posição de largada. De acordo com o jornal francês Le Figaro, a montadora de Detroit pretende iniciar uma parceria com a fabricante de automóveis iraniana Khodro. Assim, a empresa americana tiraria a concorrente francesa Renault desse mercado.

Segundo especialistas, americanos querem impedir que europeus assumam exploração de petróleo no IrãFoto: picture-alliance/dpa

De olho nos americanos

Segundo Vatanka, as empresas americanas estariam em vantagem em Teerã. Apesar de grandes firmas alemãs, francesas, britânicas ou italianas serem importantes, a prioridade em Teerã é trazer de volta ao país o maior número possível de empresas americanas.

O Irã tem em vista principalmente aquelas que faziam negócios em larga escala no país antes da revolução de 1979. "A esperança é que essas empresas, que podem ganhar dinheiro no Irã, exerçam em Washington um contrapeso frente aos grupos lobistas que trabalham contra o Irã", diz Vatanka.

Mas a corrida pelos negócios no Irã não começou somente no setor automotivo. Com uma população de quase 80 milhões de pessoas, o país possui o maior mercado consumidor do Oriente Médio.

Tanto europeus quanto americanos já estão se posicionando para garantir o seu quinhão nesse mercado bilionário que se anuncia caso as sanções venham, de fato, a ser abolidas. Mas os europeus podem sair perdendo, já que decepcionaram os iranianos, argumenta Vatanka.

Segundo o especialista, o Irã tem a impressão de ter sido prejudicado no passado. "Eles [os iranianos] pensavam que havia uma diferença entre fazer negócios com os europeus e com os americanos. Agora acham que, sob a liderança dos americanos, os europeus lhe deram as costas, sem ter seguido um caminho próprio."

Assim, a pergunta em Teerã é: "Por que devemos acreditar que temos alguma vantagem com os europeus se a única potência que nos interessa politicamente, em questões nucleares ou em outros assuntos, são os Estados Unidos?"

Ainda não se sabe se as sanções serão de fato afrouxadas. No Congresso dos EUA já cresce o número de vozes que querem dar continuidade às sanções. Não só a Casa Branca alerta que isso arruinaria todas as possibilidades de um consenso em torno da questão nuclear.

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