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EUA mantêm isolamento na proteção do clima global

27 de maio de 2017

Presidente Trump deixou em aberto se acatará os termos do Acordo de Paris. Líderes mundiais e ONGs lamentam impasse. Também no livre-comércio e na migração, posição americana frustra expectativas de avanço.

Trump gesticula em Taormina, na ilha da Sicília, ladeado pelos presidentes da Tunísia, Beji Caid Essebsi (esq.), e do Níger, Mahamadou Issoufou
Trump gesticula em Taormina, na ilha da Sicília, ladeado pelos presidentes da Tunísia, Beji Caid Essebsi (esq.), e do Níger, Mahamadou IssoufouFoto: Reuters/J. Ernst

Numa declaração divulgada neste sábado (27/05), os líderes do Grupo dos Sete (G7) admitem que os Estados Unidos ainda "estão revendo suas políticas sobre a mudança climática e o Acordo de Paris, e portanto não estão em posição de aderir ao consenso nesses tópicos".

Mais tarde, o presidente dos EUA escreveu no portal de mensagens Twitter que "vou tomar minha decisão final sobre o Acordo de Paris na próxima semana". Os líderes dos todos os outros seis países – Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido –, presentes à cúpula em Taormina, Itália, ratificaram seu comprometimento com o pacto que entrou em vigor em 4 de novembro de 2016.

Para alguns observadores do encontro, o isolamento americano representa uma situação bastante inusitada, que também pode ser resumida na frase "Donald Trump contra todos, na proteção do clima".

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, descreveu como "muito insatisfatórias" as conversações sobre o clima, acrescentando que "não há indicação se os EUA permanecerão no acordo ou não". A chefe de governo disse que no pacto de Paris não deve haver concessões, pois não se trata de "um acordo qualquer", e sim "do acordo-chave que configura a globalização atual".

Indagado na noite da véspera sobre o posicionamento de Trump, o diretor do Conselho Econômico Nacional americano, Gary Cohn, presente no encontro na cidade siciliana, adiantou que "as visões dele estão evoluindo, ele veio para aprender e ficar mais esperto". Segundo o consultor de Segurança Nacional, H.R. McMaster, o chefe de Estados tomará sua decisão baseado "no que é melhor para o povo americano".

"Trump em descompasso com o resto do mundo"

Alguns diplomatas europeus também tentaram dar uma interpretação positiva da situação. Um funcionário francês saudou o fato de que "Trump se propôs a um diálogo, fez perguntas, escutou argumentos e vai permanecer no jogo".

Por sua vez, a organização ambiental Greenpeace lamentou o impasse, esperando que Trump vá confirmar seu comprometimento com a proteção do clima na cúpula do G20 marcada para julho, na cidade alemã de Hamburgo.

"Europa, Canadá e Japão se levantaram hoje e tomaram uma posição, revelando mais uma vez o quanto Trump está em descompasso com o resto do mundo, na mudança do clima", comentou a diretora executiva da Greenpeace International, Jennifer Morgan, acrescentando que a revolução da energia limpa é irrefreável. "Os líderes devem agora manter sua resolução e assegurar que o G20 sinalize ambição climática ainda maior."

Vago sobre protecionismo, duro com imigração

O documento final da cúpula do G7 em Taormina, que contou apenas seis páginas, deixou patente que o presidente dos EUA também resistiu a pressão para se posicionar em questões cruciais como o livre-comércio e a migração.

Premiê alemã Merkel (dir.): mensagem velada contra protecionismo de Trump?Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappe

Apesar de resistência inicial e da explícita agenda trumpista "America first", a delegação americana aceitou que a declaração incluísse um apelo ao combate do protecionismo. Segundo um alto funcionário da Casa Branca, na sexta-feira Trump teria dito aos demais seis líderes que os EUA simplesmente tratarão os outros países da mesma forma como forem tratados.

A premiê Merkel comentou: "Juntos, vamos manter nossos mercados abertos e combater o protecionismo, assegurando, ao mesmo tempo, que práticas comerciais desleais sejam confrontadas com rigor." Para um diplomata europeu, que pediu para permanecer anônimo, foi um "passo adiante" o fato de que "no fim, nós convencemos [os EUA] a incluírem a luta contra o protecionismo no comunicado final".

Um esboço vazado para a imprensa sugere que os sete chefes de Estado e governo acordaram sobre uma declaração, que se crê tenha sido fortemente influenciada por Trump, reforçando os direitos dos governos de coibirem a imigração.

Para a ONG britânica humanitária Oxfam, o "escândalo da cúpula" é "que líderes do G7 venham logo aqui, na Sicília, à beira do mar onde 1.400 pessoas se afogaram, só neste ano, e viajem para casa hoje à noite sem ter feito nada de sério a respeito".

Nos últimos quatro anos, centenas de milhares de migrantes africanos atravessaram o Mar Mediterrâneo para buscar refúgio de guerras e pobreza, indo parar na pitoresca ilha. A Itália esperava poder convencer seus companheiros de G7 sobre as vantagens da imigração legal como meio para reduzir o número das perigosas travessias em barcos precários, mas a sugestão foi descartada pelos americanos e os britânicos.

Demonstrativamente, Trump nem mesmo se dignou a colocar os fones de ouvido para acompanhar a tradução simultânea da exposição do premiê italiano e anfitrião da cúpula, Paolo Gentiloni, sobre as atuais crises na África.

AV/afp,ap,rtr,dpa

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