Presidente americano afirma que país "não será aterrorizado" e reitera apelo por leis de armas mais rígidas. Declaração se segue à alegação de que "Estado Islâmico" teria inspirado tiroteio em San Bernardino.
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O presidente americano, Barack Obama, prometeu neste sábado (05/12) que os investigadores vão "chegar ao fundo" para saber como e por que um casal devotadamente religioso perpetrou um massacre no sul da Califórnia, matando 14 pessoas.
O autointitulado grupo terrorista "Estado Islâmico", que controla territórios no Iraque e na Síria e prega uma forma extrema e violenta do islã, reivindicou neste sábado que o casal envolvido no massacre, o americano Syed Rizwan Farook, de 28 anos, e sua esposa, a paquistanesa Tashfeen Mali (29), eram seguidores do movimento jihadista.
Depois do ataque à festa de fim de ano de funcionários do departamento de saúde de San Bernardino, os dois morreram em troca de tiros com a polícia da cidade, cerca de 60 quilômetros a leste de Los Angeles.
"Dois seguidores do 'Estado Islâmico' atacaram alguns dias atrás um centro em San Bernardino", anunciou neste sábado a rádio online al-Bayan, mantida pelo grupo terrorista.
O presidente americano informou que os investigadores estão procurando possíveis ligações com jihadistas no Oriente Médio. "É absolutamente possível que esses dois agressores tenham sido radicalizados para cometer este ato de terrorismo", declarou Obama.
O FBI (a polícia federal americana), no entanto, aposta que os assassinos tenham sido inspirados pelo grupo jihadista, mas que não trabalhavam sob ordens do EI. James Comey, diretor da agência, afirmou que as evidências apontam para a "radicalização de assassinos e de potencial inspiração" por um grupo terrorista estrangeiro.
"Baseados na informação e nos fatos disponíveis, estamos investigando estes atos terríveis como terrorismo", declarou David Bowdich, diretor-assistente do FBI em Los Angeles. CNN e outros meios de comunicação relataram mensagens postadas no Facebook onde Malik teria jurado fidelidade ao autoproclamado califa e líder do "Estado Islâmico", Abu Bakr al-Baghdadi.
O FBI afirmou que os vários sinais de preparativos avançados – como um verdadeiro arsenal e esconderijo de munição – mostram que houve um considerável planejamento prévio antes de o casal atacar a festa dos funcionários do departamento de saúde da cidade.
Mas não foi descoberta até agora nenhuma prova sugerindo que os assassinos fariam "parte de um grupo maior organizado ou de uma célula", informou Comey na sexta-feira. "Não existe nenhuma indicação de que eles façam parte de uma rede."
Obama apela por leis de armas mais rígidas
Na residência do casal, as autoridades americanas disseram que recuperaram dois rifles de assalto, duas pistolas semiautomáticas, 6.100 cartuchos de munição e 12 bombas caseiras.
Em seu discurso, Obama atribuiu grande parte da culpa pelos massacres às frouxas leis de armas de fogo do país, que permitem a civis comprar rifles e pistolas de alta potência com pouca supervisão ou regulação.
"Sabemos que os assassinos em San Bernardino usaram armas de assalto do tipo militar – armas de guerra – para matar tantas pessoas quanto pudessem", esclareceu o presidente. "É mais um lembrete trágico de que aqui nos EUA é muito fácil para pessoas perigosas ter acesso a uma arma."
As autoridades disseram que os rifles e pistolas semiautomáticos e milhares de cartuchos de munição encontrados com o casal morto foram comprados legalmente.
CA/rtr/afp/dw
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.