EUA ordenam que 15 diplomatas cubanos saiam do país
3 de outubro de 2017
Washington justifica decisão com "fracasso" de Cuba em proteger funcionários americanos na embaixada em Havana, em referência aos supostos ataques acústicos. Tillerson garante que relações com país serão mantidas.
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Os Estados Unidos informaram nesta terça-feira (03/10) que ordenaram a expulsão de 15 funcionários da embaixada cubana em Washington, em resposta aos supostos ataques acústicos sofridos por diplomatas americanos em Havana. Eles terão sete dias para deixar o país.
O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, justificou em nota que a decisão vai "garantir a equidade em nossas respectivas operações diplomáticas".
Na semana passada, o governo americano ordenou a retirada de metade dos funcionários de sua embaixada em Havana, justamente em reação aos "ataques acústicos". A redução em Washington, anunciada nesta terça-feira, igualaria, então, o número de diplomatas em ambas embaixadas.
Tillerson acrescentou que as decisões foram tomadas "devido ao fracasso de Cuba em tomar medidas adequadas para proteger nossos diplomatas de acordo com suas obrigações com a Convenção de Viena", no que diz respeito à proteção de funcionários diplomáticos.
O secretário de Estado, no entanto, garantiu que as relações diplomáticas com o governo cubano serão mantidas, apesar das medidas recentes. "Continuamos cooperando com Cuba, enquanto damos seguimento às investigações sobre os ataques", afirmou o chefe da diplomacia americana.
Segundo a imprensa dos EUA, a decisão afeta quase dois terços dos funcionários da embaixada cubana em Washington – o que não foi confirmado pelo secretário de Estado.
Uma lista com os 15 nomes foi entregue nesta terça-feira pelo Departamento de Estado ao embaixador cubano em Washington, José Ramón Cabañas, segundo informou um alto funcionário do órgão, em condição de anonimato.
Ataques acústicos
Diplomatas americanos passaram a apresentar problemas de saúde inexplicáveis nos últimos meses, após ataques que teriam originado de algum tipo de dispositivo acústico. O Departamento de Estado afirma que 22 funcionários da embaixada americana em Havana foram afetados.
Essas pessoas, segundo relatos médicos, apresentaram uma série de sintomas físicos, incluindo dor de ouvido, dor de cabeça, perda de audição, tontura, fadiga, problemas cognitivos e dificuldade para dormir e se concentrar.
Alguns dos afetados relataram que ouviram um ruído alto e ensurdecedor. Outros falaram em vibrações ou ruídos que seriam audíveis em apenas algumas partes dos cômodos, o que levou os investigadores a suspeitarem de um potencial ataque acústico.
Investigações tentam apontar agora o que estaria por trás dos incidentes. Os Estados Unidos não responsabilizaram diretamente o governo cubano, que nega qualquer envolvimento com o suposto ataque. Havana se colocou à disposição para ajudar os americanos a esclarecer o caso.
Diplomacia ameaçada
O anúncio desta terça-feira é mais um episódio da crise entre Havana e Washington gerada pelos supostos ataques, que pode pôr em risco a histórica reaproximação entre os dois países. Em setembro, o governo americano disse considerar, inclusive, fechar sua recém-aberta embaixada em Cuba em razão dos acontecidos.
O ex-presidente americano Barack Obama iniciou o processo de reaproximação com Cuba em dezembro de 2014, após mais de cinco décadas de relações diplomáticas rompidas. A embaixada americana em Havana foi reaberta, e uma série de medidas foram adotadas para atenuar o embargo econômico imposto à ilha em 1962.
Em março de 2016, Obama fez uma visita histórica a Cuba, a primeira de um presidente americano em 88 anos. Em agosto do mesmo ano, foram retomados os voos comerciais entre os dois países. Desde a posse do presidente Donald Trump, no entanto, Washington tem agido para reverter alguns dos avanços da reaproximação.
EK/dpa/rtr/afp/efe/dw
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.