EUA perderiam guerra contra China e Rússia, diz relatório
Davis Van Opdorp rk
15 de novembro de 2018
Comissão que avalia a estratégia de Defesa de Donald Trump diz que americanos estão perdendo vantagens no âmbito militar e que, hoje, é questionável a habilidade dos americanos de defenderem a si e a seus aliados.
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Os Estados Unidos enfrentam uma "grave crise na segurança e na Defesa nacional", segundo um relatório publicado nesta quarta-feira (14/11) por uma comissão que investiga a estratégia militar do presidente Donald Trump.
A Comissão de Estratégia de Defesa Nacional, composta por um painel de 12 ex-funcionários democratas e republicanos selecionados pelo Congresso, avaliou a Estratégia de Defesa Nacional (NDS, na sigla em inglês) do governo Trump, apresentada em janeiro passado.
A estratégia pedia uma remodelação do Exército americano, com mais foco na concorrência entre grandes potências mundiais. O relatório sugere que, se os Estados Unidos entrarem em guerra com países como China e Rússia, poderiam não ganhar.
"O Exército americano poderia sofrer baixas numa dimensão inaceitavelmente alta e perderia muitos recursos financeiros em seu próximo conflito. Pode lutar para vencer, ou talvez perca, uma guerra contra a China ou a Rússia", afirma a comissão. "Os Estados Unidos, particularmente, correm risco de sobrecarga se suas Forças Armadas forem forçadas a combater em duas ou mais frentes simultaneamente".
O texto diz ainda que a superioridade militar dos EUA "erodiu para níveis perigosos" e que sua habilidade para defender a si, seus aliados e seus interesses externos vem se tornando "cada vez mais duvidosa".
A comissão, que revisou documentos sigilosos e entrevistou funcionários do Pentágono (sede do Departamento de Defesa americano), aprovou os objetivos estratégios da Casa Branca, elogiando a NDS como "um primeiro passo construtivo", mas questionou como as metas da Defesa serão alcançadas.
O relatório destaca que o governo Trump "com frequência demais, se apoia em suposições questionáveis e análises fracas" e não fornece "abordagens claras de como ser bem-sucedido competindo em tempos de paz ou em conflitos bélicos" contra os rivais militares dos EUA.
"Acreditamos que a NDS coloca o Departamento de Defesa e o país na direção certa, mas que não explica adequadamente como devemos chegar lá", diz o texto. "Sem uma estratégia que seja mais integrada e que inclua todo o governo, diferentemente do que vem sendo evidenciado até agora, é improvável que os Estados Unidos consigam reverter o impulso de seus rivais dentro de um espectro evolutivo e complexo de competição."
O documento menciona as recentes agressões da Rússia no Leste Europeu, suas operações cibernéticas e as alterações que fez no seu arsenal nuclearcomo ameaças que os Estados Unidos e seus aliados na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) precisam abordar. Nos últimos anos, as forças russas anexaram a Península da Crimeia, atuaram para desestabilizar a Ucrânia, reforçaram suas capacidades militares no Ártico e conduziram os maiores exercícios militares de sua história em setembro passado, com cerca de 300 mil soldados.
Apesar de não ter ido ao ponto de criticar abertamente a Otan, assim como Trump fez durante seu mandato até agora, a comissão destacou a necessidade da aliança de fortalecer suas capacidades militares.
"Para bloquear uma Rússia revanchista, os Estados Unidos e seus aliados na Otan precisam reconstruir as capacidades e competências das forças militares na Europa", afirmam os especialistas que redigiram a análise.
O texto também apresenta reflexões sobre os riscos representados por "organizações ameaçadoras transnacionais" – especificamente grupos terroristas islâmicos no Oriente Médio –, dizendo que o envolvimento dos EUA na região "não desaparece apenas por desejo".
"Enquanto o terrorismo for exportável, enquanto o Oriente Médio continuar sendo um grande produtor de petróleo, e enquanto os Estados Unidos tiverem aliados-chave e parceiros na região, os interesses americanos no Oriente Médio continuarão profundos", diz o documento.
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Há 20 anos, após o 11 de Setembro, os EUA enviavam seus primeiros soldados ao país. Reveja os principais acontecimentos desde então: da operação Liberdade Duradoura à retomada do país pelos fundamentalistas do Talibã.
Foto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance
Operação Liberdade Duradoura
Em outubro de 2001, menos de um mês após aos ataques de 11 de Setembro, o presidente George W. Bush lança no Afeganistão a operação Liberdade Duradoura, depois que o regime Talibã se recusa a entregar Osama bin Laden. Em semanas, os americanos derrubam o Talibã, que ocupava o poder desde 1996. Cerca de mil soldados são enviados ao país em novembro, aumentando para 10 mil um ano depois.
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Talibã se reagrupa
A invasão do Iraque em 2003 se torna a maior preocupação dos EUA e desvia a atenção do Afeganistão. O Talibã e outros grupos islamistas se reagrupam em seus redutos no sul e leste do Afeganistão. Em 2008, Bush concorda em enviar soldados adicionais ao país em meio a pedidos por uma estratégia efetiva contra o Talibã. Em meados de 2008, há 48.500 soldados americanos no país.
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Obama é eleito
Em sua campanha, Barack Obama promete encerrar as guerras no Iraque e no Afeganistão. Mas nos primeiros meses de sua presidência, em 2009, há um aumento no número de soldados no Afeganistão para cerca de 68 mil. Em dezembro, o número cresce ainda mais, para 100 mil, com o objetivo de conter o Talibã e fortalecer instituições afegãs.
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Morte de Bin Laden
Osama bin Laden, líder da Al Qaeda que esteve por trás dos ataques de 11 de Setembro, é morto em maio de 2011 em seu esconderijo, durante uma operação de forças especiais americanas no Paquistão.
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Acordo com Afeganistão
O Afeganistão assina em setembro de 2014 um acordo bilateral de segurança com os EUA e texto similar com a Otan: 12.500 soldados estrangeiros, dos quais 9.800 norte-americanos, permaneceriam no país em 2015. Mas a situação de segurança piora. Em meio à ressurgência do Talibã, Obama diminui a velocidade de retirada em 2016, afirmando que 8.400 soldados permaneceriam no Afeganistão.
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Bombardeio de hospital em Kunduz
Em outubro de 2015, no auge do combate entre insurgentes islâmicos e o Exército afegão, apoiado por forças da Otan, um ataque aéreo dos EUA atinge um hospital dirigido pela organização Médicos Sem Fronteiras na província de Kunduz. O ataque deixa 42 mortos, inclusive 24 pacientes e 14 membros da ONG.
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"Mãe de todas as bombas"
Em abril de 2017, forças americanas atingem posições do "Estado Islâmico" (EI) no Afeganistão com a maior bomba não nuclear já usada pelo país em combate, matando 96 jihadistas. Em julho, é morto o novo líder do EI no país.
Foto: Reuters/U.S. Department of Defense
"Estamos diante de um impasse"
Em fevereiro de 2017, um relatório do governo dos EUA mostra que as perdas entre as forças de segurança afegãs subiram 35% em 2016 em relação ao ano anterior. Pouco depois, o general americano à frente das forças da Otan, John Nicholson (esq., ao lado do secretário da Defesa John Mattis), alerta que precisa de mais milhares de soldados: “Acredito que estamos diante de um impasse."
Foto: Reuters/J. Ernst
Trump anuncia nova estratégia
Em 21 de agosto de 2017, o presidente Donald Trump anuncia nova estratégia para o Afeganistão, fazendo da caça a terroristas a principal prioridade. Trump não especifica um aumento do número de soldados como esperado, mas diz que os objetivos incluem "obliterar" o Estado Islâmico, "esmagar" a Al Qaeda e impedir o Talibã de dominar o Afeganistão.
Foto: picture-alliance/Pool via CNP/MediaPunch/M. Wilson
EUA negociam com rebeldes
Em julho de 2018, sob o governo do presidente Donald Trump, os EUA entram em negociação com o Talibã, sem envolver o governo afegão eleito ou os parceiros da Otan.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Photo/Qatar Ministry of Foreign Affairs
Trump cancela encontro com Talibã
Em setembro de 2019, o presidente Trump cancela na última hora uma reunião marcada em sigilo com líderes do Talibã e do Afeganistão, após o grupo islamista assumir a autoria de um ataque em Cabul que matou um soldado americano e outras 11 pessoas.
Foto: Getty Images/M. Wilson
EUA e Talibã assinam acordo de paz
Em fevereiro de 2020, sob o regime Trump, os governos dos EUA e do Afeganistão anunciam a retirada completa das tropas americanas e de outros países da Otan. O pacto assinado pelo negociador especial dos EUA para a paz, Zalmay Khalilzad, e pelo líder político talibã mulá Abdul Ghani Baradar, prevê que o número de militares estrangeiros seria reduzido gradualmente, ao longo de 14 meses.
Foto: AFP/G. Cacace
Biden anuncia retirada total das tropas
Em 14 de abril de 2021, o presidente Joe Biden comunica à população americana que a guerra mais longa do país terá fim, com as tropas dos EUA e da Otan se retirando inteiramente do Afeganistão até 11 de setembro, 20º aniversário dos ataques terroristas em Nova York.
Foto: Andrew Harnik/AFP/Getty Images
EUA e Otan iniciam retirada
EUA e Otan iniciam formalmente, em 1º de maio de 2021, a retirada de todas as suas tropas do Afeganistão. A previsão era retirar até 11 de setembro entre 2.500 e 3.500 soldados americanos e cerca de outros 7 mil soldados da Otan. Estima-se que os EUA tenham gasto mais de 2 trilhões de dólares no país, em 20 anos, de acordo com o projeto Costs of War da Universidade Brown.
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Americanos entregam base ao governo afegão
Em 2 de julho de 2021, tropas dos EUA partem da base aérea de Bagram, ponto focal da guerra, e entregam o local ao governo afegão. Permanecem no país asiático alguns poucos soldados, numa pequena base na capital Cabul.
Foto: Rahmat Gul/AP/picture alliance
Talibã toma capitais regionais
Aproveitando o vácuo deixado pela retirada das tropas de paz internacionais do Afeganistão, guerrilheiros do Talibã tomam, no inicio de agosto de 2021, capitais regionais como Sheberghan, Kunduz e Zaranj, num duro golpe para o governo afegão, que lutava para defender as cidades mais importantes da ofensiva do grupo extremista.
Foto: Abdullah Sahil/AP Photo/picture alliance
EUA retiram seus cidadãos do Afeganistão
Em meados de agosto, Estados Unidos e outros países começam a retirar seus cidadãos do Afeganistão, enquanto forças militares americanas se esforçam para proteger e manter funcionando o aeroporto de Cabul. Com todos os voos comerciais cancelados, milhares de afegãos invadem a pista do aeroporto desesperados, tentando embarcar em qualquer aeronave que fosse decolar.
Foto: Wakil Kohsar/AFP
Talibã ocupa palácio presidencial
O Talibã toma a capital Cabul, em 15 de agosto de 2021, dissolvendo o governo e estendendo seu controle sobre todo o Afeganistão. A capital era um dos últimos redutos ainda sob a autoridade do presidente Ashraf Ghani. Assim como ocorreu com dezenas de outras cidades, ele é tomada sem resistência efetiva das tropas governamentais. Ghani foge do país.
Foto: Zabi Karim/AP/picture alliance
Biden defende retirada das tropas
Um dia depois da tomada de Cabul, o presidente dos EUA, Joe Biden, defende a decisão de pôr fim à presença americana no Afeganistão e condena líderes e políticos afegãos que abandonaram o país, abrindo caminho para a tomada de poder pelo Talibã. Biden culpa ainda o ex-presidente Donald Trump, por ter fortalecido o grupo rebeldes e deixado os talibãs em sua melhor situação militar desde 2001.