Câmara dos Representantes aprova plano para treinar e fornecer armas a rebeldes com objetivo de combater o "Estado Islâmico". Proposta deve agora passar pelo Senado. Obama volta a descartar envio de tropas terrestres.
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A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou nesta quarta-feira (17/09) um plano para treinar e fornecer armas a rebeldes sírios moderados, como parte da estratégia americana de combate ao grupo extremista "Estado Islâmico" (EI). A proposta deve passar ainda pelo Senado, e a aprovação é esperada para esta quinta-feira.
O plano aprovado pela Câmara deixa claro que não se trata de uma autorização para o envio de soldados para a região de conflito. O próprio presidente Barack Obama também reiterou que os EUA não enviarão tropas terrestres à região. No dia anterior, o general Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior americano, chamara atenção ao dizer que estava considerando recomendar ao Congresso o uso de tropas terrestres, caso a atual estratégia de Obama para conter os militantes falhasse.
A aprovação do plano pela Câmara dos Representantes – uma das duas câmaras do Congresso dos EUA, ao lado do Senado – veio depois de um pronunciamento do presidente americano na base das Forças Aéreas de MacDill, na Flórida. Obama disse que não há lugar onde os jihadistas possam se esconder. "Nosso alcance é longo", alertou.
A câmara aprovou a medida, sob forma de uma emenda a uma lei de finanças, por 273 votos a favor e 156 contra, indicando que o Congresso não está totalmente unido em torno do presidente no combate ao EI.
O plano impõe à administração americana que submeta ao Congresso, a cada 90 dias, um relatório de sua execução, o número de combatentes formados, a seleção dos grupos sírios beneficiados com a ajuda, e a utilização das armas e dos equipamentos fornecidos.
Os republicanos fixaram 11 de dezembro como a data para o fim do plano, com o objetivo de forçar a administração Obama a regressar ao Congresso para discutir sua estratégia contra o EI. Os representantes querem limitar o tempo de intervenção da força militar dos Estados Unidos e garantir que o país não envie tropas para a região.
Muitos acreditam que o presidente dos EUA não tenha um plano B no caso de os rebeldes sírios não conseguirem vantagem sobre o EI na região. A CIA estima que o grupo, que já conquistou vastas áreas do Iraque e da Síria, reúna entre 20 mil e 31 mil combatentes.
Num comunicado após a votação na Câmara dos Representantes, Obama disse que "um passo importante" foi dado, enquanto o país se une para confrontar a ameaça dos jihadistas.
Desde o início de agosto, os EUA já realizaram 174 ataques aéreos aos militantes do EI no Iraque. Nestas terça e quarta, as forças americanas realizaram sete ataques aéreos no Iraque, quatro deles perto da capital Bagdá.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.