EUA proíbem concerto de orquestra alemã na fronteira
22 de maio de 2017
Orquestra Sinfônica de Dresden tem permissão negada para se apresentar em solo americano em protesto a muro proposto por Trump. Diretor musical afirma que concerto será mantido e realizado do lado mexicano da fronteira.
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Autoridades dos Estados Unidos negaram à Orquestra Sinfônica de Dresden, na Alemanha, a permissão de realizar, no lado americano da fronteira com o México, um concerto em protesto à construção de um muro entre os dois países, proposta pelo presidente americano, Donald Trump.
O diretor musical da orquestra, Markus Rindt, disse que as autoridades locais citaram preocupações com a segurança e com a preservação de aves como razões para a decisão de impedir a apresentação. Com temática política, o concerto deveria ser realizado no Parque da Amizade, que atravessa a fronteira entre San Diego e Tijuana.
A apresentação está planejada para 3 de junho no local onde o presidente dos EUA, Donald Trump, planeja construir um muro fronteiriço, como um protesto contra a divisão, o extremismo e o nacionalismo mundo afora. O concerto será realizado agora no lado mexicano do parque, afirmou Rindt à agência de notícias alemã DPA.
Rindt salientou que a decisão dos EUA só se aplica à apresentação no Parque da Amizade e apelou a músicos para organizarem seus próprios protestos. "Todo mundo está convidado a participar e compartilhar vídeos de seus próprios protestos com a hashtag #teardownthiswall (derrube este muro)", disse.
Orquestra alemã quer tocar na fronteira entre EUA e México
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"Queremos protestos pacíficos, ações artísticas originais, jogos de voleibol usando o muro como rede – ao menos nos locais em que não é tão alto –, música, dança e performances de todos os tipos. Queremos fazer uma declaração de que os muros não são a solução para os problemas deste mundo", disse Rindt.
Numa entrevista anterior à DW, em abril, o diretor musical afirmou que se as autoridades dos EUA decidissem não "dar a permissão para que músicos toquem em nosso concerto no Parque da Amizade, teríamos realmente que levantar questões difíceis sobre o estado da liberdade artística nos Estados Unidos".
O concerto planejado não tinha apenas a intenção de destacar os planos de Trump para a fronteira americana com o México, mas foi concebido para "chamar a atenção para o sofrimento de refugiados no Mar Mediterrâneo e ao longo de muitas fronteiras deste mundo, também na Europa".
A Orquestra Sinfônica de Dresden é conhecida por combinar música contemporânea com questões sociopolíticas. Em 2016, ela apresentou um controverso projeto de concerto envolvendo alemães, turcos e armênios em memória do genocídio armênio, incomodando autoridades da Turquia.
Residentes de Dresden, no leste da Alemanha, a maioria dos músicos da orquestra cresceu atrás de um muro, pois a cidade fazia parte da República Democrática Alemã (RDA), a antiga Alemanha Oriental. A queda do muro de Berlim em 1989 reunificou a Alemanha após décadas de divisão, marcando o fim da Guerra Fria.
PV/dpa/dw
Muros e cercas do mundo
Donald Trump quer um "grande e belo muro" entre os EUA e o México para frear a migração e o narcotráfico. Em outros lugares, barreiras de concreto e metal feitas para resolver problemas tiveram variados graus de êxito.
Foto: Getty Images/J. Moore
Muro americano cresce
Antes de Donald Trump, Bill Clinton já mandou construir cercas na fronteira. Após os atentados de setembro de 2001, George Bush acelerou a construção. Desde então, quase 1.100 quilômetros de fronteira receberam paredes de concreto, vigas de aço e outros tipos de obstruções.
Foto: Getty Images/D. McNew
"Muro da separação"
Desde 2002, Israel está construindo uma barreira ao longo da Cisjordânia. O projeto, oficialmente justificado como proteção contra o terrorismo, é altamente controverso e muitas vezes chamado "muro da separação". Há mais de dez anos, a Corte Internacional de Justiça declarou que ele viola o direito internacional. Israel, no entanto, continua construindo o muro, que deverá ter 759 km de extensão.
Foto: A. Al-Bazz
"Linha de controle"
Um muro de controle militar de mais de 700 km na região da Caxemira divide a Índia e o Paquistão desde 1971. Em muitos lugares, esta "linha de controle" é reforçada por minas e arame farpado. A barreira de arame, que em alguns locais tem 3 metros de altura, também pode ser eletrificada.
Foto: Getty Images/AFP
Dividindo classes
Paredes divisórias também separam classes econômicas. Como em Lima, onde uma parede de concreto de 3 m de altura separa os moradores pobres de um bairro de ricos. Aliás, "condomínios fechados" são frequentes na América Latina. Os moradores da capital do Peru chamam a parede de "muro da vergonha".
Na capital do Iraque, um muro de 4 metros de altura e 5 km de extensão corta a cidade. Ele foi construído pelos militares dos EUA na região dominada pelos xiitas em 2007. Hoje, o muro separa quase 2 milhões de pessoas. Também em outros bairros de Bagdá, paredes de concreto separam enclaves sunitas de bairros xiitas.
Foto: Getty Images/W. Kuzaie
Um muro para a paz?
O governo britânico construiu os chamados "muros da paz" na Irlanda do Norte em 1969 para separar católicos e protestantes. Portões permitiam a passagem para o outro lado. Em caso de conflitos, eles eram fechados. Alguns moradores dizem, no entanto, que as paredes acentuaram ainda mais a divisão na mente das pessoas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Smiejek
Entre o Norte e o Sul
Desde o final da Guerra da Coreia, nos anos 1950, uma zona desmilitarizada separa a Coreia do Norte, comunista, e a Coreia do Sul, capitalista. A faixa de cerca de 4 km de largura e 250 km de comprimento é uma das áreas restritas mais vigiadas do mundo. Em alguns pontos, muros marcam a fronteira entre as duas Coreias.
Foto: Getty Images/AFP/E. Jones
Fortaleza Europa
Também a Europa está se isolando. Desde outubro de 2015, a Hungria está fechando sistematicamente sua fronteira para evitar refugiados. No início, a cerca ainda não era hermética. Hoje, no entanto, quase ninguém consegue mais passar para o outro lado. A Hungria também quer construir uma cerca ao longo da fronteira com a Sérvia.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Ujvari
Ceuta e Mellila
Nos enclaves espanhóis de Ceuta e Mellila, no Marrocos, há fortificações especialmente altas. Para superá-las, é preciso passar por até três cercas. Para complicar, há detectores de movimento, câmeras infravermelhas e um arame farpado que penetra fundo na pele. Mesmo assim, muitos se arriscam e acabam se ferindo.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sempere
Turquia e Síria
Na fronteira com a Síria, de onde muitos estão fugindo da guerra civil, a Turquia está construído um muro de 511 km de extensão. No final de fevereiro, o governo de Ancara anunciou que metade já está pronta. O muro de 3 metros de altura tem arame farpado e torres de vigilância. Várias vezes, a União Europeia criticou a Turquia por fazer controles muito brandos em suas fronteiras.