Biden afirma que única saída para as décadas de conflito é criação de um Estado palestino ao lado de Israel. Recente escalada de violência na região deixou mais de 250 mortos.
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Enquanto dezenas de milhares de palestinos voltam as suas casas para avaliar a devastação provocada pelo conflito entre Israel e o Hamas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu na noite desta sexta-feira (21/05) esforços para reconstruir a Faixa de Gaza.
Falando da Casa Branca, Biden disse que organizará, com outros países que queiram colaborar, um "grande" pacote de ajuda para a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que administra partes da Cisjordânia ocupada por Israel, e fará esforços para garantir que o grupo radical islâmico Hamas não seja capaz de reabastecer seu arsenal militar.
Durante 11 dias de conflito, prédios na Faixa de Gaza foram atingidos por uma sucessão de ataques aéreos e mísseis israelenses, lançados em resposta aos foguetes disparados pelo Hamas. Na sexta-feira, entrou em vigor um cessar-fogo mediado pelo Egito.
Biden acrescentou que, durante um telefonema com o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, deixou claro que os EUA garantirão que haja segurança e desenvolvimento econômico na Cisjordânia.
"É essencial que os palestinos da Cisjordânia estejam seguros, que Abbas seja reconhecido como líder do povo palestino. O Hamas é uma organização terrorista, já reconhecemos isto, mas não significa que não devemos estar em Gaza, reconstruindo Gaza para todo o povo inocente", disse.
Biden também afirmou que a única saída para as décadas de conflito entre israelenses e palestinos são dois Estados. "Precisamos de uma solução de dois Estados. É a única resposta", disse.
A solução de dois Estados, com um Estado palestino soberano ao lado de Israel, tem sido a pedra angular de décadas de diplomacia internacional com o objetivo de encerrar o conflito israelense-palestino.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, planeja visitar a região nos próximos dias "para discutir os esforços de recuperação e trabalhar juntos para construir um futuro melhor para israelenses e palestinos", segundo comunicado do órgão.
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Famílias buscam pertences nos escombros
A agência da ONU para refugiados palestinos informou que a maioria dos 66 mil palestinos que haviam buscado abrigo durante o conflito já começou a voltar para casa.
Enquanto famílias reviram os escombros em busca de pertences, equipes de resgate trabalham com poucos recursos na busca por sobreviventes – 10 pessoas foram resgatadas com vida e cinco corpos foram retirados dos prédios desabados.
No total, o conflito deixou em Gaza ao menos 243 mortos, incluindo 66 crianças e dezenas de combatentes do Hamas, e mais de 1.900 feridos. Em Israel, 12 pessoas foram mortas, incluindo uma criança.
Conflitos em Jerusalém
Na sexta-feira, Biden também pediu o fim da violência entre as comunidades israelense e árabe em Jerusalém, que voltou a escalar após o cessar-fogo. "Penso que é muito importante que acabe esta violência entre comunidades em Jerusalém, entre os extremistas dos dois lados. Precisa acabar", disse.
Apesar da trégua mediada pelo Egito, nesta sexta-feira voltaram a ocorrer confrontos entre policiais israelenses e fiéis palestinos na Esplanada das Mesquitas, localizada na Cidade Velha de Jerusalém, no leste ocupado da cidade. Confrontos no local sagrado duas semanas atrás foram, em parte, responsáveis pelo início dos ataques.
Perguntado sobre críticas feitas por setores mais progressistas do Partido Democrata que pedem do presidente americano uma postura mais rígida em relação ao conflito, Biden respondeu que não mudou seu compromisso com Israel.
"É um compromisso com a segurança de Israel, ponto. Absolutamente nenhuma mudança", disse o mandatário, que defendeu a solução de dois Estados como a única saída para o conflito do Oriente Médio.
Segundo o presidente americano, Benjamin Netanyahu prometeu que respeitaria o cessar-fogo e que o primeiro-ministro de Israel "nunca quebrou" as suas promessas com ele.
le/bl (afp, efe, dpa, reuters)
A longa história do processo de paz no Oriente Médio
Por mais de meio século, disputas entre israelenses e palestinos envolvendo terras, refugiados e locais sagrados permanecem sem solução. Veja um breve histórico sobre o conflito.
Foto: PATRICK BAZ/AFP/Getty Images
1967: Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU
A Resolução 242 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada em 22 de novembro de 1967, sugeria a troca de terras pela paz. Desde então, muitas das tentativas de estabelecer a paz na região referiram-se a ela. A determinação foi escrita de acordo com o Capítulo 6 da Carta da ONU, segundo o qual as resoluções são apenas recomendações e não ordens.
Foto: Getty Images/Keystone
1978: Acordos de Camp David
Em 1973, uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria lutou contra Israel no Yom Kippur ou Guerra de Outubro. O conflito levou a negociações de paz secretas que renderam dois acordos 12 dias depois. Esta foto de 1979 mostra o então presidente egípcio Anwar Sadat, seu homólogo americano Jimmy Carter e o premiê israelense Menachem Begin após assinarem os acordos em Washington.
Foto: picture-alliance/AP Photo/B. Daugherty
1991: Conferência de Madri
Os EUA e a ex-União Soviética organizaram uma conferência na capital espanhola. As discussões envolveram Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os palestinos – mas não da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) –, que se reuniam com negociadores israelenses pela primeira vez. Embora a conferência tenha alcançado pouco, ela criou a estrutura para negociações futuras mais produtivas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Hollander
1993: Primeiro Acordo de Oslo
Negociações na Noruega entre Israel e a OLP, o primeiro encontro direto entre as duas partes, resultaram no Acordo de Oslo. Assinado nos EUA em setembro de 1993, ele exigia que as tropas israelenses se retirassem da Cisjordânia e da Faixa de Gaza e que uma autoridade palestina autônoma e interina fosse estabelecida por um período de transição de cinco anos. Um segundo acordo foi firmado em 1995.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Sachs
2000: Cúpula de Camp David
Com o objetivo de discutir fronteiras, segurança, assentamentos, refugiados e Jerusalém, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, convidou o premiê israelense Ehud Barak e o presidente da OLP Yasser Arafat para a base militar americana em julho de 2000. No entanto, o fracasso em chegar a um consenso em Camp David foi seguido por um novo levante palestino, a Segunda Intifada.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Edmonds
2002: Iniciativa de Paz Árabe
Após Camp David, seguiram-se encontros em Washington e depois no Cairo e Taba, no Egito – todos sem resultados. Mais tarde, em março de 2002, a Liga Árabe propôs a Iniciativa de Paz Árabe, convocando Israel a se retirar para as fronteiras anteriores a 1967 para que um Estado palestino fosse estabelecido na Cisjordânia e em Gaza. Em troca, os países árabes concordariam em reconhecer Israel.
Foto: Getty Images/C. Kealy
2003: Mapa da Paz
Com o objetivo de desenvolver um roteiro para a paz, EUA, UE, Rússia e ONU trabalharam juntos como o Quarteto do Oriente Médio. O então primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas aceitou o texto, mas seu homólogo israelense Ariel Sharon teve mais reservas. O cronograma previa um acordo final sobre uma solução de dois estados a ser alcançada em 2005. Infelizmente, ele nunca foi implementado.
Foto: Getty Iamges/AFP/J. Aruri
2007: Conferência de Annapolis
Em 2007, o então presidente dos EUA George W. Bush organizou uma conferência em Annapolis, Maryland, para relançar o processo de paz. O premiê israelense Ehud Olmert e o presidente da ANP Mahmoud Abbas participaram de conversas com autoridades do Quarteto e de outros Estados árabes. Ficou acordado que novas negociações seriam realizadas para se chegar a um acordo de paz até o final de 2008.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Thew
2010: Washington
Em 2010, o enviado dos EUA para o Oriente Médio, George Mitchell, convenceu o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, a implementar uma moratória de 10 meses para assentamentos em territórios disputados. Mais tarde, Netanyahu e Abbas concordaram em relançar as negociações diretas para resolver todas as questões. Iniciadas em setembro de 2010, as negociações chegaram a um impasse dentro de semanas.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Milner
Ciclo de violência e cessar-fogo
Uma nova rodada de violência estourou dentro e ao redor de Gaza no final de 2012. Um cessar-fogo foi alcançado entre Israel e os que dominavam a Faixa de Gaza, mas quebrado em junho de 2014, quando o sequestro e assassinato de três adolescentes em mais violência. O conflito terminou com um novo cessar-fogo em 26 de agosto de 2014.
Foto: picture-alliance/dpa
2017: Conferência de Paris
A fim de discutir o conflito entre israelenses e palestinos, enviados de mais de 70 países se reuniram em Paris. Netanyahu, porém, viu as negociações como uma armadilha contra seu país. Tampouco representantes israelenses ou palestinos compareceram à cúpula. "Uma solução de dois Estados é a única possível", disse o ministro francês das Relações Exteriores Jean-Marc Ayrault, na abertura do evento.
Foto: Reuters/T. Samson
2017: Deterioração das relações
Apesar de começar otimista, o ano de 2017 trouxe ainda mais estagnação no processo de paz. No verão do hemisfério norte, um ataque contra a polícia israelense no Monte do Templo, um local sagrado para judeus e muçulmanos, gerou confrontos mortais. Em seguida, o plano do então presidente dos EUA, Donald Trump, de transferir a embaixada americana para Jerusalém minou ainda mais os esforços de paz.
Foto: Reuters/A. Awad
2020: Tiro de Trump sai pela culatra
Trump apresentou um plano de paz que paralisava a construção de assentamentos israelenses, mas mantinha o controle de Israel sobre a maioria do que já havia construído ilegalmente. O plano dobrava o território controlado pelos palestinos, mas exigia a aceitação dos assentamentos construídos anteriormente na Cisjordânia como território israelense. Os palestinos rejeitaram a proposta.
Foto: Reuters/M. Salem
2021: Conflito eclode novamente
Planos de despejar quatro famílias palestinas e dar suas casas em Jerusalém Oriental a colonos judeus levaram a uma escalada da violência em maio de 2021. O Hamas disparou foguetes contra Israel, enquanto ataques aéreos militares israelenses destruíram prédios na Faixa de Gaza. A comunidade internacional pediu o fim da violência e que ambos os lados voltem à mesa de negociações.
Foto: Mahmud Hams/AFP
2023: Terrorismo do Hamas e retaliações de Israel
No início da manhã de 7 de outubro, terroristas do grupo radical islâmico Hamas romperam barreiras em alguns pontos da Faixa de Gaza, na fronteira com Israel, e, em território israelense, feriram e mataram centenas de pessoas, além de sequestrarem mais de uma centena. Devido a isso, Israel declarou "estado de guerra" e iniciou uma série de bombardeios, deixando partes da Cidade de Gaza em ruínas.