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EUA registram mais de 100 mil casos de covid-19 em um dia

5 de novembro de 2020

País é o primeiro no mundo a ultrapassar a marca. Alta nos casos coloca em alerta autoridades de saúde, que temem mais dezenas de milhares de mortes se nada for feito.

Fachada de local onde são realizados testes de covid-19. Em frente, duas pessoas usando máscara, um homem e uma mulher, que parece ser profissional da área da saúde.
EUA são o país mais afetado pela pandemia, com quase 9,5 milhões de casos de covid-19Foto: Nam Y. Huh/AP Photo/picture-alliance

No mesmo dia em que as atenções do mundo estavam voltadas para a disputa voto a voto na corrida entre Donald Trump e Joe Biden à Casa Branca, os Estados Unidos se tornaram nesta quarta-feira (04/11) o primeiro país do mundo a ultrapassar a marca de 100 mil novas infecções diárias por covid-19.

De acordo com a Universidade Johns Hopkins, foram registrados 102.831 novos casos de coronavírus e 1.097 mortes em 24 horas. Em números absolutos, os Estados Unidos são o país mais afetado pela pandemia, com quase 9,5 milhões de casos confirmados e mais de 233 mil mortes.

Os casos têm aumentado e batido recordes diários em todo o país desde meados de outubro, especialmente no norte e no Meio-Oeste. Estados como Missouri, Nebraska e Oklahoma atingiram nesta quarta-feira o nível mais alto de internações hospitalares por covid-19. Colorado, Idaho, Indiana, Maine, Michigan, Minnesota, Rhode Island, Washington e Wisconsin reportaram recorde no número de casos diários.

Além disso, as hospitalizações no país ultrapassaram 50 mil pela primeira vez em três meses. Na Dakota do Sul, a proporção de testes com resultado positivo é superior a 50% e em Iowa e Wyoming, a 40%. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), taxas acima de 5% são preocupantes.

Autoridades de saúde em alguns estados já emitiram avisos alertando sobre preocupações com a capacidade dos hospitais, à medida que o inverno se aproxima, juntamente com a temporada de gripe.

Especialistas em saúde pública temem consequências potencialmente assustadoras a curto prazo. O mandato atual do presidente Donald Trump termina apenas em 20 de janeiro. Até lá, se nada for feito, mais 100 mil mortes poderão ser registradas nos Estados Unidos em razão do coronavírus, alertou Robert Murphy, diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade Northwestern.

"Está é uma situação extremamente terrível como país. Cada métrica que temos está tendendo na direção errada. Este é um vírus que continuará a se disseminar a uma velocidade acelerada e não vai parar por conta própria'', disse Leana Wen, especialista em saúde pública da Universidade George Washington.

No entanto, para Susan Bailey, presidente da Associação Médica Americana, há ações que a população pode tomar para ajudar a mudar essa trajetória.

"Independentemente do resultado da eleição, todo mundo nos Estados Unidos precisa se esforçar", disse Bailey. "Muitos de nós ficaram meio relaxados com relação ao distanciamento físico, sem lavar as mãos com a frequência de antes, talvez sem usar máscara com a mesma fidelidade. Todos nós precisamos perceber que as coisas estão piorando e temos que ser mais cuidadosos do que nunca."

Visões opostas na corrida eleitoral

A pandemia e a crise econômica provocada por ela, que resultou na perda de milhões de empregos nos EUA, foram os principais temas da campanha eleitoral, com Trump e Biden com visões drasticamente opostas sobre a situação.

Trump ignorou os apelos de seus principais conselheiros de saúde, que emitiram alertas cada vez mais urgentes sobre a necessidade de medidas preventivas. Em vez disso, ele minimizou a doença, promoveu comícios com aglomeração e raramente foi visto com máscara. Trump defende que a economia não pode parar novamente devido a bloqueios, afirmando que o "remédio não pode ser pior do que a doença".

Em contraste, Biden raramente foi visto em público sem máscara e concentrou as últimas semanas de campanha a atacar a gestão de Trump sobre a pandemia, afirmando que muitas vidas poderiam ter sido salvas, caso uma outra abordagem tivesse sido tomada. O democrata defende que, se necessário, novos bloqueios devem ser feitos para conter a doença.

"O presidente Trump já deixou claro qual é sua estratégia para a covid-19. É fingir que não existe um vírus contagioso ao nosso redor", aponta Leana Wen, da Universidade George Washington.

Em vez de apelar para a prevenção, Trump tem promovido tratamentos e vacinas, que não estarão amplamente disponíveis para todos os americanos até pelo menos meados de 2021, observa a especialista em saúde pública.

Autoridades de saúde federais acreditam que uma vacina poderia obter autorização de uso de emergência antes do final do ano. No entanto, o primeiro estoque limitado de doses seria distribuído às populações mais vulneráveis, como os profissionais de saúde da linha de frente.

O cronograma, no entanto, depende de uma vacina segura e eficaz, o que ainda pode demorar. "A vacina deve avançar na velocidade da ciência", disse Joshua Sharfstein, vice-reitor da escola de saúde pública da Universidade Johns Hopkins.

Votos por correspondência

A pandemia impactou as eleições americanas não só por dominar os debates, mas por fazer o país bater o recorde de votos antecipados. Mais de 100 milhões de pessoas votaram pelo correio ou de forma antecipada em seções eleitorais para evitar aglomerações no dia do pleito. Foi o maior índice de todos os tempos. A modalidade foi amplamente defendida pelos democratas, mas criticada pelos republicanos.

Trump há semanas vem questionando o modelo de votação por correspondência e acusando a eleição de fraude, embora sem apresentar provas. Na quarta-feira, quando vários votos por correspondências ainda não haviam sido apurados, Trump ameaçou judicializar o processo eleitoral. Sua campanha já entrou com ações para barrar a contagem de votos em três estados: Michigan, Pensilvânia e Geórgia. Nos dois últimos, o presidente largou na frente, mas sua vantagem começou a diminuir significativamente conforme os sufrágios eram computados. 

As declarações do presidente inflamaram ainda mais a já polarizada política americana. Com o aumento das tensões, cerca de 200 apoiadores de Trump, alguns armados com rifles e revólveres, se reuniram em frente a um centro eleitoral em Phoenix, no Arizona.

Em algumas cidades, manifestantes foram às ruas em protestos, exigindo que todos os votos sejam contados. A polícia prendeu manifestantes anti-Trump na cidade de Nova York e em Portland, no Oregon.

O resultado final da eleição pode levar dias, pois muitos votos por correspondência ainda não chegaram aos locais de contagem, em alguns estados.

A comissão eleitoral do estado de Nevada disse que só divulgará novos dados na tarde de quinta-feira (14h em Brasília). Nevada tem seis votos no Colégio Eleitoral e pode ser decisivo para Biden atingir o número de delgados necessário para sagrar-se presidente. Por enquanto, 86% das urnas foram apuradas, com uma leve vantagem para o democrata. 

LE/ots/rtr/afp

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