Governo americano alega falta de reformas e corta todos os recursos que repassa à Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos. Decisão pode afetar serviços oferecidos a milhões de pessoas.
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O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou nesta sexta-feira (31/08) que decidiu cortar todos os recursos que repassa à Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), o que impactará os serviços oferecidos a milhões de pessoas.
"Os EUA já não dedicarão mais fundos para a operação irremediavelmente defeituosa", afirmou, em comunicado, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert.
A porta-voz disse que o governo "analisou minuciosamente o tema e determinou que os EUA não farão contribuições adicionais à UNRWA", embora tenha afirmado que o país está "profundamente preocupado" com o impacto que a medida terá sobre "os palestinos inocentes, especialmente os estudantes".
Os EUA eram o maior doador da UNRWA, cujo financiamento é feito de forma quase exclusiva de contribuições voluntárias dos Estados membros das Nações Unidas. Em janeiro, o governo do presidente americano, Donald Trump, já havia congelado 65 milhões dos 125 milhões de dólares que deveria repassar à agência, alegando a necessidade de reformas, mas sem especificá-las.
Heather destacou que o governo Trump vinha questionando o sistema de financiamento da UNRWA ao considerar que Washington assumia um "peso desproporcional" e, ao não ter visto mudanças "suficientes" em seu funcionamento, decidiu cancelar suas contribuições.
A UNRWA oferece serviços sociais, de saúde e educação a cerca de 5 milhões de refugiados palestinos na Jordânia, Líbano, Síria, Cisjordânia e na Faixa de Gaza. A maioria deles são descendentes de pessoas que fugiram na guerra de 1948, que levou à criação do Estado de Israel.
Um porta-voz do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, afirmou que a decisão americana é um "ataque flagrante" contra os palestinos e as decisões da ONU. "Tal punição não mudará o fato de que os Estados Unidos não têm mais um papel na região e não fazem parte da solução", destacou Nabil Abu Rdainah.
Os EUA fornecem tradicionalmente cerca de um terço do orçamento da UNRWA, que em 2017 chegou a 1,1 bilhão de dólares, um número que contrasta com os quase 4 bilhões de dólares em ajuda militar anual que Washington proporciona a Israel. Em 2016, os Estados Unidos doaram 355 milhões de dólares à agência.
A UNRWA enfrenta uma crise de caixa desde que o corte feito pelos EUA em janeiro. Antes do anúncio do governo Trump, o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, afirmou nesta sexta-feira que a Alemanha aumentará suas contribuições à agência e disse que a perda desta organização pode desencadear uma reação em cadeia incontrolável.
A relação entre o governo Trump e as autoridades palestinas se deteriorou desde que o presidente americano reconheceu Jerusalém como capital de Israel, em dezembro do ano passado, já que a cidade é reivindicada pela Palestina como sede administrativa e religiosa do seu futuro Estado.
As negociações de paz entre Israel e palestinos entraram em colapso em 2014, em parte devido aos assentamentos israelenses construídos em territórios palestinos ocupados e à oposição israelense a uma tentativa de união entre os movimentos palestinos Fatah e Hamas.
CN/efe/rtr/afp
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Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao mesmo tempo um dos maiores focos de conflitos. Judeus, muçulmanos e cristãos veem Jerusalém como cidade sagrada.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Qaq
Cidade de Davi
Segundo o Velho Testamento, no ano 1000 a.C., Davi, rei de Judá e Israel, conquistou Jerusalém dos jebuseus, uma tribo cananeia. Ele mudou a sede de seu governo para Jerusalém, que se tornou capital e centro religioso do reino. De acordo com a Bíblia, Salomão, o filho de Davi, construiu o primeiro templo para Yaweh, o deus de Israel. Jerusalém tornou-se assim o centro do Judaísmo.
Foto: Imago/Leemage
Reino dos persas
O rei Nabucodonosor 2º, da Babilônia, conquistou Jerusalém em 597 e novamente em 586 a.C., segundo a Bíblia. Ele destruiu o templo e aprisionou o rei Joaquim de Judá e a elite judaica, levando-os para a Babilônia. Quando o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia, permitiu que os judeus voltassem do exílio para Jerusalém e reconstruíssem o templo.
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Sob o poder de Roma e Bizâncio
A partir de 63 d.C., Jerusalém passou ao domínio de Roma. A resistência se formou rapidamente entre a população, eclodindo uma guerra no ano 66. O conflito terminou quatro anos depois, com a vitória dos romanos e uma nova destruição do templo em Jerusalém. Os romanos e os bizantinos dominaram a Palestina por 600 anos.
Foto: Historical Picture Archive/COR
Conquista pelo árabes
Durante a conquista da Grande Síria, as tropas islâmicas chegaram até a Palestina. Por ordem do califa Umar, em 637, Jerusalém foi sitiada e conquistada. Durante a época da supremacia muçulmana, vários rivais se revezaram no domínio da região. Jerusalém foi ocupada várias vezes e trocou diversas vezes de soberano.
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No tempo das Cruzadas
O mundo cristão passou a se sentir cada vez mais ameaçado pelos muçulmanos seljúcidas, que governavam Jerusalém desde 1070. Em consequência, o papa Urbano 2º convocou as Cruzadas. Ao longo de 200 anos, os europeus conduziram cinco Cruzadas para conquistar Jerusalém, algumas vezes com êxito. Por fim, em 1244, os cristãos perderam de vez a cidade, que caiu novamente sob domínio muçulmano.
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Os otomanos e os britânicos
Após a conquista do Egito e da Arábia pelos otomanos, em 1535, Jerusalém se tornou sede de um distrito governamental otomano. As primeiras décadas de domínio turco representaram impulsos significativos para a cidade. Com a vitória dos britânicos sobre as tropas turcas em 1917, a região – e também Jerusalém – passou ao domínio britânico.
Foto: Gemeinfrei
Cidade dividida
Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos renunciaram ao mandato sobre a região. A ONU aprovou a divisão da área, a fim de abrigar os sobreviventes do Holocausto. Isso levou alguns países árabes a iniciarem uma guerra contra Israel, em que conquistaram parte de Jerusalém. Até 1967, a cidade esteve dividida em lado israelense e lado jordaniano.
Foto: Gemeinfrei
Israel reconquista o lado oriental
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias contra Egito, Jordânia e Síria, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental. Paraquedistas israelenses chegaram ao centro histórico e, pela primeira vez desde 1949, ao Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus. Jerusalém Oriental não foi anexada a Israel, apenas integrada de forma administrativa.
Desde esta época, Israel não impede os peregrinos muçulmanos de entrarem no terceiro principal santuário islâmico do mundo. O Monte do Templo está subordinado a uma administração muçulmana autônoma. Muçulmanos podem tanto visitar como também rezar no Domo da Rocha e na mesquita de Al-Aqsa, que fica ao lado.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gharabli
Status não definido
Até hoje, Jerusalém continua sendo um obstáculo no processo de paz entre Israel e os palestinos. Em 1980, Israel declarou a cidade inteira como "capital eterna e indivisível". Depois que a Jordânia desistiu de reivindicar para si a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em 1988, foi conclamado um Estado palestino, com o leste de Jerusalém como sua capital.