Área perto da antiga Saigon armazenou tanques de agente laranja, o notório desfolhante usado pelas tropas americanas durante a Guerra do Vietnã. Operação para limpar o solo é avaliada em mais de 180 milhões de dólares.
Anúncio
Os EUA anunciaram no sábado (20/04) o início de uma operação de limpeza ao custo 183 milhões de dólares em uma antiga base no Vietnã. O local servia de armazenamento para galões do agente laranja, um desfolhante altamente tóxico que foi largamente usado pelas tropas americanas durante a Guerra do Vietnã. Décadas depois do conflito, o agente ainda é apontado como causa de graves defeitos congênitos e câncer entre a população do país asiático.
Localizada nas cercanias da cidade de Ho Chi Minh (antiga Saigon), a base aérea de Bien Hoa foi um dos principais depósitos do agente laranja usados pelos americanos e não foi alvo de nenhuma operação de descontaminação significativa quando os americanos abandonaram o conflito e se retiraram do antigo Vietnã do Sul, há mais de 40 anos.
As forças norte-americanas pulverizaram 80 milhões de litros de agente laranja sobre o Vietnã entre 1962 e 1971, para tentar conter e derrotar os guerrilheiros comunistas do Norte que agiam no Vietnã do Sul, privando-os de cobertura florestal e alimentos.
Acredita-se que parte do material na base de Bien Hoa atingiu o lençol freático e reios da região, provocando má formação física e mental em várias gerações de vietnamitas. O governo do país aponta que milhões de pessoas foram severamente contaminadas pelo agente, incluindo 150 mil crianças que nasceram com defeitos congênitos após o conflito.
A Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA (Usaid) estima que 500 mil metros cúbicos de dioxina penetraram o solo na área da base. A quantidade é quatro vezes maior do que o volume limpo na antiga base área de Danang, também utilizada pelos americanos no conflito, e cuja descontaminação custou 110 milhões de dólares e seis anos de esforços, finalmente concluídos em novembro.
"O fato de dois ex-inimigos estarem fazendo parcerias em uma tarefa tão complexa não é nada menos do que histórico", disse o embaixador dos EUA no Vietnã, Daniel Kritenbrink, no sábado de manhã, em um evento que contou com a presença de militares vietnamitas e senadores dos EUA.
As associações de vítimas vietnamitas reivindicam há anos compensações econômicas das empresas e do governo dos EUA, mas até o momento não tiveram sucesso em suas tentativas judiciais.
Enquanto isso, os veteranos americanos que sofreram sequelas pela sua exposição ao Agente Laranja recebem uma substancial compensação financeira do governo. Já as vítimas vietnamitas sobrevivem com esquálidas pensões miseráveis, muitas vezes sob cuidados de familiares em tempo integral.
Uma tentativa das vítimas vietnamitas para obter indenização dos Estados Unidos teve pouco sucesso. Em 2009, a Suprema Corte dos EUA recusou-se a aceitar o caso.
Em 1975, com a queda de Saigon, terminava a Guerra do Vietnã. Nenhum outro acontecimento mobilizou tanto a opinião pública nos anos 1970 como o conflito, que representou a maior derrota militar da história dos EUA.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Van Es
A entrada na guerra
As hostilidades começaram em 1956, quando o Vietnã do Norte, apoiado por China e União Soviética, decidiu não convocar eleições. Os EUA passaram a fortificar suas posições no Sul, com o objetivo de conter a expansão comunista. Em 1964, o bombardeio norte-vietnamita a barcos americanos, no Golfo de Tonquin, foi o estopim para o presidente Lyndon Johnson decidir entrar na guerra.
Foto: Getty Images/P. Christain
Opinião pública mobilizada
Nenhum outro acontecimento mobilizou tanto a opinião pública internacional na década de 70 como a Guerra do Vietnã (1964-1975). O conflito representou a maior derrota militar da história dos EUA. Pela primeira vez, as crueldades de uma guerra foram exibidas no horário nobre da programação de TV. Na foto, John Lennon e Yoko Ono: "A guerra acabou"
Foto: F. Barratt/Keystone/Getty Images
Selva e estratégia de guerrilha
Em 1969, no auge dos combates, 543 mil soldados dos EUA estavam nas frentes de batalha. Os norte-vietnamitas, vindos de uma guerra com a França, usaram melhor estratégias de guerrilha e aproveitaram a vantagem geográfica (selva fechada e calor de mais de 40ºC) para derrotar os americanos.
Foto: Getty Images
Bombas, minas e veneno
Milhões de hectares de terra, minados ou envenenados, se tornaram incultiváveis. Os EUA gastaram cerca de 200 bilhões de dólares com o movimento bélico e lançaram um milhão de toneladas de bombas por ano. O uso de substâncias como o agente laranja deixou sequelas que permanecem até hoje nos vietnamitas e nos soldados americanos.
Foto: picture-alliance/akg-images
Negociações de paz
O descontentamento da opinião pública americana forçou a abertura de negociações de paz, em 1971. Em 1973, um cessar-fogo foi assinado em Paris. O acordo não foi implementado, mas os EUA começaram a retirar suas tropas. Em 1975, completada a retirada dos EUA, o regime sul-vietnamita, já sem ajuda financeira americana, entrou em colapso. Na foto, tanque invade palácio presidencial em Saigon.
Foto: picture-alliance/dpa
A queda de Saigon
No dia 30 de abril de 1975, a cidade de Saigon (atual Ho Chi Minh), então capital do Vietnã do Sul, foi capturada pelo Exército norte-vietnamita e pelos vietcongues. Era o fim da guerra do Vietnã e o início de um período de transição para a reunificação do país, sob regime comunista.
Foto: AFP/Getty Images
Mais de um milhão de mortos
Após a queda de Saigon, a evacuação de nove mil americanos foi feita às pressas, na última hora. Mesmo assim, ainda foram resgatados cerca de 150 mil vietnamitas. A guerra deixou mais de 58 mil americanos mortos e 153 mil feridos; do lado vietnamita, um milhão de mortos e 900 mil crianças órfãs.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Fuga da cidade
Sob chuvas torrenciais, helicópteros dos EUA viajavam entre um porta-aviões e Saigon, em dramática operação de evacuação. O pânico reinava na embaixada americana. Além de cidadãos dos EUA, foram poucos os que tiveram acesso ao heliporto sobre o prédio da sede diplomática(foto), última chance para fugir de Saigon naquele 30 de abril.