EUA vão extraditar ex-presidente do Peru Alejandro Toledo
22 de fevereiro de 2023
Ex-mandatário está preso desde 2019 nos EUA, suspeito de crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de influência em licitações envolvendo a brasileira Odebrecht, em caso ligado à Lava Jato.
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O Departamento de Estado americano concedeu a extradição do ex-presidente peruano Alejandro Toledo (2001-2006), anunciou nesta terça-feira (21/02) o Ministério Público do Peru. O pedido havia sido feito pelo sistema judicial peruano por delitos de corrupção, entre outros crimes, envolvendo a construtora brasileira Odebrecht, num caso ligado a operação Lava Jato.
"A Procuradoria-Geral peruana, como autoridade central em matéria de extradições, informa que tomou conhecimento de que o Departamento de Estado dos Estados Unidos da América concedeu a extradição de Alejandro Toledo Manrique, pelos crimes de conluio e lavagem de dinheiro", anunciou a Procuradoria-Geral no Twitter.
O Ministério Público acrescentou que o Gabinete de Cooperação Judiciária Internacional e Extradições do órgão "está coordenando com as autoridades nacionais e estrangeiras a breve execução da sua extradição".
O ex-procurador Ivan Meini disse à estação de rádio peruana RPP que a extradição de Toledo para o Peru é "iminente, pois não há mais recursos a apresentar e o processo de extradição está terminado".
"O que deve acontecer nas próximas horas ou dias é os governos chegarem a um acordo sobre como organizar o retorno de Toledo ao Peru", analisou.
Meini também acha "provável" que o Ministério Público peruano solicite a prisão preventiva enquanto decorre o julgamento de Toledo. Ele poderá permanecer numa prisão em Lima, onde também estão detidos os ex-presidentes peruanos Alberto Fujimori (1990-2000) e Pedro Castillo (2021-2022).
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Propina envolvendo a Odebrecht
Toledo, de 76 anos, é acusado de receber dezenas de milhões de dólares em subornos da Odebrecht quando era presidente. Ele é suspeito de crimes de lavagem de dinheiro, conluio e tráfico de influência, em relação a licitações para a construção da Rodovia Interoceânica entre o Brasil e o Peru.
Em fevereiro de 2019, o Ministério Público peruano anunciou que havia firmado um acordo de delação premiada com o empresário peruano-israelense Josef Maiman, que admitiu ter ajudado Toledo a receber propinas distribuídas pela Odebrecht e a lavar o dinheiro em paraísos fiscais.
Maiman disse ao Ministério Público que a Odebrecht depositou em contas que pertenciam a ele cerca de 35 milhões de dólares em propinas para Toledo.
O ex-presidente passou a ser investigado quando Jorge Barata, ex-diretor da Odebrecht no Peru, revelou ter pagado propinas a Toledo para que a construtora vencesse as licitações da construção de dois trechos da Rodovia Interoceânica.
Barata disse aos promotores que o dinheiro foi depositado aos poucos, entre 2004 e 2010, nas contas de Maiman, usado como laranja pelo ex-presidente. Segundo o empresário, o dinheiro era posteriormente repassado à Ecoteva, uma companhia que tem a sogra de Toledo, Eva Fernenbug, como sócia.
Prisão nos EUA
Toledo foi detido em 2019 na Califórnia, onde viveu durante os últimos anos. Ele passou oito meses na prisão devido ao risco de fuga, mas foi colocado em prisão domiciliar em março de 2020, devido à pandemia de covid-19. Ele nega as acusações.
O capítulo peruano do caso Odebrecht, considerado o maior escândalo de corrupção na América Latina, envolveu também os ex-presidentes Alan García (2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016) e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), bem como a ex-candidata presidencial e líder do partido Força Popular Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, que foi derrotada por Castillo no pleito de 2021. García cometeu suicídio em 2019, antes de ser preso.
le/lf (Lusa, AFP, EFE, Reuters)
Dez ex-presidentes latino-americanos que já foram presos
A recente prisão de Pedro Castillo no Peru não é um caso isolado na América Latina. Líderes de outros países da região, como Argentina, Honduras e Panamá também já enfrentaram problemas com a Justiça.
Foto: Renato Pajuelo/AP/picture alliance
Pedro Castillo (Peru)
Pedro Castillo, destituído da presidência do Peru após ter ordenado a dissolução do Parlamento (07/12), foi detido e levado ao presídio de Barbadillo. Às acusações de corrupção que já enfrentava, o Ministério Público acrescentou a do alegado crime de rebelião "por violação da ordem constitucional". O ex-presidente Alberto Fujimori está detido na mesma prisão.
Foto: Renato Pajuelo/AP/picture alliance
Lula (Brasil)
Lula, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, passou 580 dias na prisão entre abril de 2018 e novembro de 2019, após ser condenado por corrupção. Em março de 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as duas sentenças por irregularidades processuais cometidas pelo Ministério Público e pelo juiz do caso. Assim, conseguiu disputar a eleição de 2022, na qual derrotou Jair Bolsonaro.
Foto: Reuters/R. Buhrer
Alberto Fujimori (Peru)
Alberto Fuijimori, que governou o Peru entre 1990 e 2000, deu um autogolpe em 1992. Seu governo foi marcado por vários casos de corrupção, e ele cumpre pena de 25 anos de prisão por homicídio qualificado, usurpação de funções, corrupção e espionagem, além de desvio de fundos e peculato.
Foto: Martin Mejia/AP/picture alliance
Ollanta Humala (Peru)
Ollanta Humala (2011-2016) completou seu mandato presidencial no Peru, mas, um ano depois, foi colocado em prisão preventiva. Ele e a esposa estão sendo investigados pelo suposto recebimento ilegal de dinheiro da Odebrecht para a campanha presidencial peruana em 2011. Em abril de 2018, o Tribunal Constitucional do Peru revogou a prisão preventiva, mas o processo continua.
Foto: El Comercio/GDA/ZUMA Press/picture alliance
Jeanine Áñez (Bolívia)
Jeanine Áñez assumiu a presidência interina da Bolívia em 12 de novembro de 2019 como segunda vice-presidente do Senado, dois dias após a renúncia de Evo Morales. Ela foi detida em 13 de março de 2021, e numa decisão polêmica, um tribunal a condenou a 10 anos de prisão pelos crimes de violação de deveres e resoluções contrárias à Constituição. Ela está presa em La Paz.
Foto: Juan Karita/AP Photo/picture alliance
Otto Pérez Molina (Guatemala)
Um tribunal condenou em 07/12 o ex-presidente Otto Pérez Molina, general aposentado que governou a Guatemala de 2012 a 2015, a 16 anos de prisão por liderar uma rede milionária de fraudes alfandegárias que o obrigou a renunciar em 2015. Pérez havia sido preso em 3 de setembro de 2015 após grandes protestos e está em prisão domiciliar desde novembro de 2021.
Foto: Luis Vargas/AA/picture alliance
Juan Orlando Hernández (Honduras)
O ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández (2014-2022) foi extraditado para os Estados Unidos em abril de 2022, onde é acusado de conspiração para importar cocaína, posse de metralhadoras e armas pesadas e conspiração para possuir tais armas. Ele está detido na Penitenciária Federal do Condado de Brooklyn e pode pegar prisão perpétua se for condenado.
Foto: Andy Buchanan/AFP
Ricardo Martinelli (Panamá)
Ricardo Martinelli, que governou o Panamá de 2009 a 2014, foi preso em junho de 2017 na Flórida. No ano seguinte, ele foi extraditado pelos EUA para ser julgado em seu país num caso sobre escutas ilegais, do qual foi posteriormente absolvido. O ex-presidente também enfrenta um julgamento por suposta cobrança de propina da brasileira Odebrecht.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Franco
Álvaro Uribe (Colômbia)
Acusado de fraude processual e suborno, o ex-líder colombiano Álvaro Uribe (2002-2010) ficou 67 dias na prisão em 2020 "devido a possíveis riscos de obstrução da Justiça". O Ministério Público, no entanto, anunciou que solicitará o encerramento da investigação, após concluir que não houve crime e que a responsabilidade criminal de Uribe não pode ser comprovada.
Foto: Long Visual Press/LongVisual/ZUMA Press/picture alliance
Carlos Menem (Argentina)
O presidente argentino Carlos Menem (1989-1999) enfrentou diversos processos. Em seu primeiro julgamento, em 2008, ele era acusado de tráfico de armas para o Equador e a Croácia entre 1991 e 1995. Ele passou seis meses em prisão domiciliar preventiva em 2001, e foi solto depois que a Suprema Corte anulou as acusações. Desde 2005 teve imunidade como senador, cargo que ocupou até sua morte em 2021.