EUA, Vaticano e ONU condenam EI por destruição de mosteiro
21 de janeiro de 2016
Ruína de 1,4 mil anos próxima a Mossul era construção cristã mais antiga remanescente no Iraque. Segundo Unesco, extremistas do "Estado Islâmico" transformaram o local num campo de entulho.
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Os Estados Unidos, o Vaticano e a Unesco condenaram o grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) pela destruição do mosteiro cristão mais antigo do Iraque, construído há 1,4 mil anos.
Segundo a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, as ruínas do mosteiro de São Elias, próximo a Mossul, foram transformados num campo de entulho pelos jihadistas.
"Apesar de seus crimes impiedosos, os extremista jamais serão capazes de apagar a história", disse nesta quarta-feira (20/01). "Isso também nos mostra o tamanho do pavor que os extremistas têm da história, pois entender o passado abala os pretextos usados por eles para justificar esses crimes e os expõe como expressão de puro ódio e ignorância."
Bokova classificou a demolição do mosteiro, construído entre os anos de 582 e 590, como crime de guerra. Recentemente, ele foi restaurado por soldados americanos, após ter sido atingido por destroços de um tanque abatido pelos Estados Unidos, em 2003.
Washington condenou a destruição do local. "Eles [os extremistas] continuam realizando esses atos depravados, que simbolizam e exemplificam sua ideologia falida", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado americano, Mark Toner.
O Vaticano também lamentou a violência do EI. "Infelizmente há uma destruição sistemática de patrimônios preciosos, não somente culturais, mas também religiosos e espirituais. Isso é muito triste e dramático", afirmou o porta-voz Federico Lombardi.
O "Estado Islâmico" vem destruindo patrimônios históricos, que considera contrários à sua interpretação do islã, nas regiões por onde passa na Síria e no Iraque.
O mosteiro de São Elias entra agora para a lista das centenas de monumentos históricos e religiosos devastados pelos jihadistas. Entre eles estão o Arco do Triunfo e o Templo de Bel da histórica Palmira, na Síria, além das cidades de Nimrud e Nineveh, no Iraque.
CN/ap/ots
"Estado Islâmico" tenta apagar história
Militantes do EI estão destruindo artefatos culturais de milhares de anos no Iraque. O estrago foi condenado mundo afora e fez o Iraque pedir ajuda internacional.
Foto: Mohammad Kazemian
Acabando com o patrimônio
Militantes do "Estado Islâmico" (EI) saquearam e destruíram estátuas em museus de Mossul, no norte do Iraque. Acredita-se que as relíquias pertenciam à antiga civilização mesopotâmica. Os jihadistas, que tomaram grande parte do Iraque e da Síria, afirmam que sua interpretação do islã exige que as estátuas e artefatos culturais sejam destruídos. Muitos estudiosos do islã condenam a ação do grupo.
Estas são as ruínas de Hatra, construída há 2 mil anos pelo Império Selêucida, que controlava grande parte do mundo antigo. Segundo relatos, militantes do EI trouxeram escavadeiras para destruir a cidade. "A luta deles é por identidade, querem destruir a região, principalmente o Iraque, e seus patrimônios da humanidade", disse o ministro do Turismo do Iraque, Adel Shirshab.
Os membros do grupo militante também destruíram parte de Nínive, antiga cidade no norte do Iraque, considerada o berço da civilização por muitos arqueólogos ocidentais. "Já era esperado que o EI a destruísse", disse o ministro do Turismo iraquiano aos jornalistas. A ONU classificou a destruição de "crime de guerra".
"O céu não está nas mãos dos iraquianos. Por isso, a comunidade internacional tem que tomar uma atitude", disse o ministro do Turismo do Iraque ao pedir ataques aéreos contra os extremistas do EI. Bagdá afirmou que os militantes do EI estão desafiando "a vontade do mundo e os sentimentos de humanidade".
Os militantes do EI afirmam que as esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do islã, que proíbem a adoração de estátuas. E quando os jihadistas não as estão destruindo, estão lucrando com elas. Especialistas afirmam que o grupo está faturando no mercado internacional com a venda de estátuas menores, enquanto as maiores são destruídas.
Estudiosos costumam comparar a destruição do patrimônio cultural por parte do EI à demolição dos Budas Gigantes de Bamiyan, pelos talibãs afegãos, em 2001. Hoje, há somente um espaço vazio onde as grandes estátuas ficavam. Entretanto, alguns temem que o estrago causado pelo EI às ruínas da antiga civilização mesopotâmica, pioneira da agricultura e da escrita, possa ser ainda mais devastador.