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Eumir Deodato na Alemanha

Felipe Tadeu15 de março de 2007

O consagrado arranjador de "Also sprach Zarathustra" realiza cinco concertos à frente de seu trio.

Foi a primeira excursão de Deodato pela AlemanhaFoto: Divulgation

Parece difícil de acreditar, mas é a pura verdade: Eumir Deodato, um dos músicos brasileiros de maior renome no exterior, teve que esperar 2007 chegar, para engatar sua primeira turnê pelo país de Richard Strauss e de Friedrich Nietzsche.

O artista carioca, de 63 anos, que na década de 70 perpetuou a composição Also sprach Zarathustra (Assim Falou Zarathustra), de Strauss – no imaginário das últimas gerações graças a um arrojado arranjo para a conhecida música da trilha sonora do filme 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, – veio só agora mostrar seu talento ao público alemão, se apresentando em Munique, Hamburgo, Dortmund, Mannheim e Berlim.

"A única vez em que tinha tocado aqui na Alemanha foi por volta de 1975, num concerto em Saarbrücken, com um monte de convidados, como Lou Rawls dentre outros", contou Deodato à DW-WORLD no camarim da Alte Feuerwache, em Mannheim, após o show naquela cidade.

O arranjador prestou homenagem a Tom JobimFoto: F.Tadeu

O pianista, arranjador, compositor e produtor radicado nos Estados Unidos há 40 anos, dividiu o palco com o baixista brasileiro Marcelo Mariano e o baterista Stefano Paolini, interpretando um repertório em que se destacaram clássicos de Antônio Carlos Jobim como "Wave", "Samba de Uma Nota Só" e "Dindi".

Zarathustra, o marco

Prestes a completar 35 anos de sua criação definitiva para Also sprach Zarathustra, Eumir Deodato não poderia deixar de tocar no assunto durante sua passagem pela Alemanha. O pianista afirmou que sua vigorosa versão jazz funk foi calcada exclusivamente na peça de Richard Strauss (1864–1949), e não no clássico literário do filósofo Nietzsche. "Meu produtor àquela época, Creed Taylor, me sugeriu trabalhar com alguma peça clássica, e dentre as que ele me mostrou, estava a de Strauss". Deodato não se intimidou diante da sinfonia, e resolveu mexer nela.

"Eu estava lá pelas duas horas da manhã na minha casa e fui para o piano. Como eu sempre deixo um gravadorzinho em cima dele, toquei um teminha nordestino que eu já tinha, um baião, e gravei. Depois, botei o disco com a peça de Strauss para rodar e toquei junto com o disco. Aí eu vi que sairia um negócio formidável, com um groove muito bom", afirmou . "Essa peça de Richard Strauss é interessantíssima, enigmática", louva Eumir Deodato.

Quando o pianista foi para os estúdios mostrar sua versão, ele só levou um esboço da melodia para dar aos músicos e começaram a ensaiar. "Demos uma passada na música para ver como ela estava e ficou bom. Acontece que o pessoal já tinha gravado de primeira, era o take 000", conta. Pego totalmente de surpresa, Deodato fez questão de aprimorá-la. "Eu insisti com o produtor para que fizéssemos outras gravações, porque eu não estava satisfeito com o meu solo de piano. E nós gravamos, mas nenhuma gravação ficou igual à primeira."

A versão deles, que chegava a durar até dez minutos e meio, foi editada então por um técnico da Califórnia, e acabou reduzida para quatro minutos e meio. "Aí a nossa Also sprach Zarathustra começou a tocar numa estação de rádio de lá e pouco tempo depois, estourou de vez."

Trilha sonora do filme de Kubrick foi mera coincidência, diz DeodatoFoto: dpa

A música foi incluída no terceiro disco solo de Deodato, o Prelude, e as vendagens bateram a marca estratosférica de cinco milhões de cópias. "É preciso esclarecer que eu não tive nada a ver com o filme de Kubrick. Foi só uma feliz coincidência", esclarece o artista radicado em Nova York. Quando a versão do brasileiro começou a ganhar o planeta, o filme já estava em cartaz há cerca de cinco anos.

Produtor de grandes astros

O sucesso de Deodato não parou por aí. Depois de ter trabalhado com diversos bossa novistas que viviam nos Estados Unidos, como Luiz Bonfá, Astrud Gilberto, João Donato e o próprio Tom Jobim, o pianista foi aos poucos cativando nomes como Frank Sinatra, Wes Montgomery, George Benson, Aretha Franklin, Kool and The Gang, Earth, Wind & Fire e Roberta Flack, gravando com eles discos de inegável importância. E não bastasse ter sido ele o principal responsável pela entrada de Milton Nascimento no complexo mercado fonográfico norte-americano ainda nos anos 60, Deodato chega aos dias de hoje trazendo um currículo invenjável, onde constam também a produção para astros do cenário pop da estatura de Björk, k.d.lang, e dos brasileiros Carlinhos Brown, Marisa Monte e muitos outros.

Em 2001, Deodato gravou com a banda alemã Mardi Gras.BB o disco Singlesmasher, onde constava uma nova leitura de Also sprach Zarathustra que também encantou os mais antenados. "O Mardi Gras veio pra mim através do produtor alemão Christian Kellersmann, que ligou para mim certa vez, explicou a idéia que ele tinha na cabeça e eu pedi para que ele me mandasse alguma coisa da banda, já que eu não a conhecia. Ele me enviou uns trabalhos antigos dela, e eu gostei, achei genial. No final, acabei fazendo no disco mais do que era esperado, já que apareceu a oportunidade de fazermos outra música, Down Down Down, onde toquei órgão”, afirmou Eumir Deodato.

A excursão européia que Deodato realizou a bordo de seu encantador teclado branco Motif 8, de 27 de fevereiro a 15 de março, passou também pela Turquia, Noruega, Hungria, Inglaterra e teve encerramento na França. Agora é a vez do Brasil, onde o músico estará se apresentando nos dias 28 e 29 de março com a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, e em outras datas com seu trio (mas sem o baterista italiano) em shows nos teatros do Sesc.

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