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Euro em baixa

Jennifer Abramsohn (ca)29 de outubro de 2008

Enquanto mercado de divisas reage à complexa crise financeira global, países da zona do euro observaram forte desvalorização de sua moeda perante dólar nos últimos dias. Especialistas divergem quanto às razões da queda.

As opiniões divergem quanto ao caminho do euroFoto: AP

A maior desvalorização do euro nos últimos dois anos e meio levou os analistas a conclusões conflitantes. Alguns dizem que a queda de cotação é um problema de curto prazo que poderia ajudar as exportações. Outros são da opinião que a forte desvalorização poderia ser sinal de uma séria discórdia na política dos 15 países da zona do euro.

Analistas atribuem a queda a um número diverso de fatores, incluindo a percepção generalizada de que o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, deverá em breve baixar as taxas de juros.

Uma questão de política

Cotação do euro é a mais baixa desde abril de 2006Foto: AP

Taxas de câmbio não são somente uma questão de economia. "É uma questão de política", comentou o economista alemão Ognian Hishow, que atualmente ensina na Universidade de Rochester.

Segundo Hishow, "quando o mundo começa a desconfiar de um determinado parceiro – como no caso atual da zona do euro – então ele procurará por uma alternativa para investir seu dinheiro", acrescendo que "agora, a única boa alternativa é o dólar".

Alexandra Boehne, especialista em finanças da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK) observou que o euro cada vez mais baixo reflete a crescente preocupação em torno da extensão da crise financeira européia.

Boehne disse que "ninguém sabe como a crise do mercado financeiro se desenvolverá, por quanto tempo ela irá continuar e qual será a piora da economia".

Parceiros financeiros já sabiam da crise econômica dos EUA desde o ano passado, mas a notícia de que a Europa está sendo seriamente afetada é novidade no mercado.

"Os mercados estão inseguros"

Boehne explicou que "as pessoas somente se conscientizaram do problema na Europa a partir deste outono europeu de 2008" e acresceu que "os mercados estão agora bastante inseguros".

Alguns analistas são de opinião de que a grande exposição de bancos europeus a mercados emergentes altamente endividados, em particular na Europa Oriental, deixou o câmbio vulnerável. Na última terça-feira (28/10), o serviço de notícias da Bloomberg anunciou que os empréstimos de bancos europeus a mercados emergentes correspondiam a 21% do PIB europeu. Em comparação: os EUA têm 4% do PIB em investimentos nesses países; o Japão, 5%.

Trichet deverá baixar juros, diz economistaFoto: AP

Por enquanto, existem outros indicadores de que a recessão está à porta – incluindo a notícia alarmante, divulgada na última segunda-feira, de que a confiança do consumidor alemão é a menor dos últimos cinco anos.

Para o economista Hishow, "investidores concluíram que os EUA são ainda o destino mais confiável quando se trata de guardar seu dinheiro em dias tão turbulentos".

Nem todos os analistas, no entanto, concordam quanto à extensão do problema do euro. Boehme, da DIHK, explicou que, em realidade, isto poderia dar um impulso à gigante economia exportadora alemã por tornar mais baratos produtos "Made in Germany", como automóveis e produtos químicos.

Pessimismo quanto ao crescimento das exportações

Na opinião de Hishow, no entanto, este poderia ser o caso se não fosse pelo fato de os maiores mercados compradores de produtos alemães – os EUA e o resto da Europa – estarem estagnados.

"Onde as firmas alemãs podem vender seus produtos? Nos Estados Unidos? Na América Latina?", questionou Hishow de forma retórica. "Na zona do dólar, isto é impossível, e a moeda da China está atrelada ao dólar, assim não se deve esperar ajuda de lá", explicou o economista, dizendo ainda: "Eu não sou otimista".

Para o economista do Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas (DIW) Christian Dreger, a queda do euro seria somente um problema temporário. Comparado aos 80 centavos de dólar que o euro valeu em 2002, a moeda européia ainda é forte, explicou.

Vantagem do dólar?

Dreger comentou discordar dos investidores que apostam que a Europa se recuperará mais lentamente que os EUA. Ele acha que isto seria uma reação exagerada à possível fraqueza das economias da Europa Central e acredita que o euro irá se impor porque "ele se beneficiará mais dos processos de recuperação em mercados emergentes como a China e a Índia, onde a UE está bastante presente".

Hishow discorda, no entanto, e é da opinião de que, com o passar do tempo, haverá uma correção na economia norte-americana e o dólar melhorará. Além do mais, ele acredita que a crise financeira e o euro decrescente são sinais de problemas elementares na zona do euro.

Integração européia em falta

"Esta crise é uma prova de quão incompleta está a integração européia", afirmou Hishow. "Quando os tempos são difíceis, não há uma resposta unificada", explicou.

Como exemplo, ele citou a controvérsia atual entre a França e a Alemanha de como responder à crise econômica, e enfatizou que os países da zona do euro estão, economicamente, caminhando em direções diferentes.

"Veja a Espanha, ela está quase afundando na crise", afirmou. Para Hishow, "ficou claro que a União Européia não é uma união, mas sim um leque de países com problemas próprios. Sobretudo, eles agem primeiramente em interesse próprio".

Hishow acredita que a alta do dólar perante o euro continuará até que a Europa encontre um caminho de fomentar seu processo de integração.

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