Euro perde espaço para o dólar nas exportações alemãs
23 de março de 2015O euro vem perdendo terreno como moeda de negócios nas exportações alemãs. Segundo o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis), cerca de 62% dos contratos com nações fora da União Europeia (UE) foram firmados na moeda do bloco em 2014, indicando uma queda anual gradativa desde 2010, quando esse percentual era de 67%. No lugar do euro, usa-se cada vez mais o dólar. Em 2014, mais de 26% das exportações alemãs para fora da UE foram efetivadas na moeda americana. No ano anterior, esse índice era de 23%.
"Essa tendência mostra que alguns parceiros comerciais têm problemas em aceitar a moeda europeia", comenta Volker Treier, da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK). A menor aceitação do euro como moeda corrente se deve à "incerteza quanto ao desenvolvimento econômico da Europa", afirma o economista.
Treier argumenta que uma moeda só pode ser forte em longo prazo se ela se apoiar numa área econômica forte. Nesse aspecto, diz o economista, a Europa se encontra numa encruzilhada, "porque pesos-pesados como França e Itália ainda não conseguiram implementar verdadeiras reformas estruturais".
O Banco Central Europeu (BCE) reagiu aos problemas da zona do euro com uma política de dinheiro barato, enquanto o Banco Central dos Estados Unidos vai, aos poucos, abandonando a política de juros baixos. "Tudo isso faz com que o dólar ganhe em atratividade para os nossos parceiros comerciais. Além disso, há também o teatro em torno da Grécia", comenta Treier.
Gregor Wolfe, da associação alemã de comércio exterior BGA, lista outra desvantagem da política de dinheiro barato do BCE: "A necessidade de instrumentos de garantia contra a variação cambial aumenta". Ele conta que a recente desvalorização do euro pegou algumas empresas de surpresa, e elas tiveram perdas significativas nas suas exportações por causa da queda da moeda.
Mas Wolfe ressalta que há um aumento das exportações europeias para a América do Norte. A rápida recuperação dos Estados Unidos e a estagnação dos países do Brics – o grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – fazem com que mais negócios sejam fechados com os americanos e, assim, o dólar passe a ser mais usado.
Já Treier lembra que as exportações europeias também se beneficiam com o enfraquecimento da moeda, pois os produtos europeus se tornam mais baratos.
Wolf observa que, antes da crise da dívida, o euro estava no caminho certo para se estabelecer como uma alternativa ao dólar. "Mas quem mostra tão pouca determinação para sair da crise não deve se surpreender se os outros perdem a confiança e deixam de aceitar a sua moeda", comenta.