Parlamentares alegam que acordo em troca de ajuda para conter fluxo migratório dá muito poder a Ancara. Críticos ressaltam que crise de refugiados não deve ser confundida com adesão da Turquia ao bloco.
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As principais lideranças do Parlamento Europeu se posicionaram nesta quarta-feira (08/03), em Estrasburgo, contra a proposta de acordo entre a União Europeia (UE) e a Turquia em troca de apoio para frear o fluxo migratório em direção à Europa. Os parlamentares acusaram a UE de estar entregando "as chaves do bloco" para Ancara.
"Esse acordo não pode ser uma forma de negociata na pele de refugiados", afirmou Gianni Pittella, o líder dos socialistas, ressaltando que a negociação sobre a crise migratória não deveria ser confundida com a adesão da Turquia ao bloco.
A mesma opinião foi defendida pela líder da bancada de esquerda, Gabriele Zimmer. "Não se pode negociar pessoas ou direitos fundamentais. Nunca estivemos tão longe de uma solução europeia", ressaltou.
Já o líder da bancada Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa, Guy Verhofstadt, afirmou que o acordo é altamente problemático, pois Ancara teria muito poder para determinar quem é refugiado e quem podem entrar na Europa. Um curdo do Iraque poderia ter o acesso negado, exemplificou.
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Syed Kamall, da bancada Conservadores e Reformistas, também criticou a proposta, que considerou não ser fundamentada em leis europeias. "Há um ou dois líderes negociando sem consultar os outros países. Tenho dificuldade em ver o quanto se esse acordo é legal ou prático", ressaltou.
Os parlamentares alertaram ainda sobre fazer muitas concessões à Turquia e sobre o crescente autoritarismo do presidente Recep Tayyip Erdogan, citando como exemplo as intervenções sobre meios de comunicação e os ataques contra os curdos.
Até mesmo o líder do grupo do Partido Popular Europeu, o alemão Manfred Weber, membro da União Democrata Cristã (CDU), partido de Angela Merkel, criticou o acordo. "Deve haver uma parceria e não uma dependência da Turquia", disse, ressaltando seu ceticismo sobre a adesão da Turquia ao bloco, devido, por exemplo, aos "inaceitáveis ataques a jornais".
Proposta polêmica
A Turquia apresentou na segunda-feira um plano em troca do apoio para frear o fluxo migratório, no qual solicitou mais 3 bilhões de euros à UE até 2018, além dos 3 bilhões já prometidos em novembro. Além disso, Ancara pediu a isenção de visto para cidadãos turcos na União Europeia e a aceleração das negociações para o ingresso do país no bloco.
Em troca, a Turquia se compromete a acolher todos os refugiados que chegarem à Grécia e não obtiverem asilo e está disposta a readmitir todos os imigrantes que não vêm da Síria e todos os que foram interceptados em suas águas territoriais, além de adotar medidas enérgicas contra os traficantes de pessoas.
A proposta está sendo analisada por líderes europeus. Muitos se mostraram favoráveis as medidas. Após a cúpula da UE com a Turquia, Merkel afirmou que foram "dados passos qualitativos" e ressaltou que um acordo entre o bloco e Ancara pode ser fechado no encontro marcado para os dias 17 e 18 de março.
CN/lusa/afp/dpa
A miséria de refugiados no norte da França
Cerca de 2 mil imigrantes padecem no frio e na lama num acampamento perto da cidade portuária de Dunquerque. Enquanto esperam por uma oportunidade de rumar para o Reino Unido, eles dependem da ajuda de voluntários.
Foto: DW/B. Riegert
No meio da lama
Estima-se que um acampamento próximo à comuna de Grande Synthe, perto da cidade portuária de Dunquerque, no norte da França, abrigue 2 mil pessoas em pequenas tendas. À noite, o frio é intenso, e, quando chove, o local fica repleto de lama.
Foto: DW/B. Riegert
Persistência
Lizman vem da região curda do Iraque. "Em casa estamos em guerra", diz ele, que tem como objetivo chegar à Inglaterra. O iraquiano montou um café numa das barracas do acampamento, onde os jovens matam o tempo.
Foto: DW/B. Riegert
Objetivo: Reino Unido
Para proteger a barraca da sujeira e do frio, o iraquiano Asis conseguiu um martelo emprestado. O jovem curdo quer atravessar o Canal da Mancha e chegar à Inglaterra. Para isso, ele teria que pagar até 5.000 euros a um traficante. "Tem que ser melhor do outro lado", espera.
Foto: DW/B. Riegert
Sopro de esperança
O número de crianças que vive no acampamento repleto de lixo e lama não é claro. Voluntários coletaram ursinhos de pelúcia e os distribuíram na "barraca das crianças".
Foto: DW/B. Riegert
Perspectivas
Uma criança perdeu esta boneca na lama. Da mesma maneira, a esperança de muitas pessoas acaba desaparecendo no acampamento. À noite é muito fria, e não há iluminação. Apenas alguns banheiros químicos e chuveiros funcionam.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários do Reino Unido
O britânico Chris Bailey serviu como soldado no Iraque. Agora ele ajuda migrantes que querem chegar ao seu país. "A situação aqui é pior do que a de alguns lugares que vi na guerra", diz o veterano. Ele distribui cobertores e botas de borracha que foram doadas.
Foto: DW/B. Riegert
Bem-vindos à França
Além de chá, Denise (à esq.) e Maryse oferecem um bom papo aos imigrantes. Elas moram em frente ao acampamento. Uma rua separa dois mundos completamente diferentes. "As autoridades não se importam", opina Denise. Muitos vizinhos querem que os migrantes saiam dali.
Foto: DW/B. Riegert
Onde está o governo?
Um voluntário batizou com nomes de políticos europeus algumas das vias que levam até o precário acampamento. Esta, por exemplo, é a "Avenida François Hollande", porque o governo francês não se importa com o local. A polícia não dá segurança alguma. Moradores relatam violência entre grupos de imigrantes, principalmente à noite.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários da Alemanha
O número de refugiados que chegam a Munique diminuiu. "Aqui nós seremos necessários", diz Sinan von Stietencron da Volxküche München, iniciativa que distribui alimentos a migrantes na cidade alemã. Com a cozinha móvel, ele viajou com amigos da Baviera para o Canal da Mancha.
Foto: DW/B. Riegert
Emergência
A organização de ajuda humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF) vacinou os moradores do acampamento contra sarampo e gripe. Especialmente as crianças acabam doentes, devido à umidade, ao frio e às péssimas condições de higiene. A MSF montou uma estação de emergência em Grande Synthe, a primeira unidade operacional da organização no coração da Europa.
Foto: DW/B. Riegert
Seguir adiante
Agachado dentro de sua barraca, Asim diz que fugiu do "Estado Islâmico" no Iraque. Ele se esforça para manter o pequeno espaço limpo e até oferece um chá para a repórter da DW. "Todos querem seguir adiante", diz o iraquiano.
Foto: DW/B. Riegert
A última estação
O porto de Dunquerque fica a 10 quilômetros do acampamento. As chances de conseguir chegar à Inglaterra partindo daqui são mínimas. Quase ninguém quer entrar com um pedido de asilo na França. O que fazer agora? Pagar um transporte clandestino para atravessar o Canal da Mancha? Recuar para a Bélgica ou Alemanha? Ou simplesmente esperar?