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"Europa é que deveria exigir bilhões de Trump"

13 de julho de 2018

Sigmar Gabriel rejeita críticas feitas durante cúpula da Otan e afirma que presidente americano fez com que europeus gastassem bilhões com refugiados gerados por fracassadas intervenções militares, como a no Iraque.

Ex-ministro Sigmar Gabriel rebate críticas de Donald Trump à Alemanha
Ex-ministro Sigmar Gabriel rebate críticas de Donald Trump à AlemanhaFoto: Getty Images/AFP/T. A. Clark,T. Schwarz

Após o mal-estar gerado na recente cúpula da Otan pelas acusações feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a seus parceiros europeus – em especial, à Alemanha –, o ex-ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel, pediu uma "resposta europeia dura, mas acima de tudo, conjunta" ao líder americano.

A Alemanha "não deve mais alimentar ilusões" quanto a Trump, acrescentou Gabriel em entrevista divulgada pelo portal de notícias Spiegel Online nesta sexta-feira (13/07).

No encontro da Aliança Atlântica realizado nesta semana em Bruxelas, o presidente americano pressionou os parceiros europeus a elevarem suas contribuições financeiras à Otan para 4% do Produto Interno Bruto (PIB) de cada país, percentual que corresponde ao dobro do que as nações aliadas prometeram atingir até 2024. O americano reclamou que seu país gasta bilhões de dólares para garantir a segurança da Europa, recebendo muito pouco em troca.

Trump adotou um tom agressivo durante a cúpula, questionando os valores da aliança, que definiu décadas da política externa americana, e chegou a pôr em dúvida as relações da Alemanha com a Rússia. Ele disse que a importação de gás russo faz com que a Alemanha seja "totalmente" controlada por Moscou, que teria Merkel como uma "prisioneira".

Gabriel disse que as acusações de Trump são inaceitáveis. "Se ele quiser ser ressarcido pelos bilhões de dólares das Forças Armadas dos EUA que foram gastos, temos então que exigir ressarcimento pelos bilhões de dólares que gastamos com os refugiados que as fracassadas intervenções militares americanas, no Iraque, por exemplo, geraram", afirmou.

O ex-ministro disse que os EUA sob o governo de Trump não são parceiros confiáveis. "Ele dá garantias de sobrevivência ao ditador da Coreia do Norte e, ao mesmo tempo, quer uma mudança de regime na Alemanha, o que não podemos aceitar", alertou.

Gabriel defende que a Alemanha deve buscar contatos diretos com governadores, senadores e com os jovens americanos.

"A América está mudando. Em poucos anos a maioria dos cidadãos americanos não será de raízes europeias, mas asiáticas, latino-americanas e africanas, o que fará uma América diferente da que conhecemos há 70 anos, e também diferente da América de Trump. Esta é uma grande oportunidade para nós", afirmou.

O social-democrata disse que o governo alemão deve encontrar soluções criativas para atingir a meta de dedicar 2% do PIB do país para a defesa.

"Poderíamos investir anualmente 1,5% [do PIB] na Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) e 0,5% na defesa da Europa, por exemplo, no Leste Europeu, através da Otan, disse Gabriel. "Até o momento, apenas os EUA fazem isso."

Assim, a Alemanha mostraria que "também assume a responsabilidade pela segurança no Leste Europeu, nos Bálcãs e na Polônia, por exemplo, que se sentem ameaçados pelo reforço da presença militar russa". "E nos tornaríamos mais independentes dos EUA", afirmou.

RC/dpa/afp

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