Desembarque dos Aliados nas praias da Normandia, em 6 de junho de 1944, marcou o início do fim da Segunda Guerra Mundial. Até 20 anos atrás, Alemanha estava excluída das comemorações. Em 2024 é a Rússia que fica de fora.
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A Operação Overlord foi a maior manobra militar terrestre da história. Durante meses, na Inglaterra, o desembarque das tropas aliadas na França ocupada pela Alemanha fora planejado e treinado. O mau tempo ainda atrasou o início da operação, porém em 6 de junho de 1944, o "Dia D", milhares de navios partiram, com apoio aéreo, da costa inglesa em direção às praias da Normandia, levando 150 mil soldados dos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e outros países aliados.
Sua missão era libertar o país e então avançar contra a Alemanha, com o intuito de dar fim ao domínio nazista na Europa. No entanto, ao ser informado da invasão, o líder Adolf Hitler comentou, exultante: "Enquanto eles estavam na Inglaterra, nós não podíamos apanhá-los. Agora eles estão finalmente onde podemos derrotá-los."
De fato, a Wehrmacht alemã estava preparada para o desembarque: o litoral da França ocupada estava fortemente defendido pela "Muralha do Atlântico", uma rede de bunkers e postos armados. No entanto, ludibriadas por uma manobra de despistamento, as maiores unidades alemãs estavam esperando no local errado, em Calais, onde o Canal da Mancha é mais estreito.
O dia em que Hitler dormiu demais
A batalha que se seguiu foi sangrenta. A partir de seus postos, os alemães alvejaram os aliados que desembarcavam, e as lutas pesadas continuaram para além das praias, pelos lugarejos e cidades do interior francês. Em desvantagem pessoal e material, o único trunfo da Wehrmacht era sua reserva de tanques blindados, de cuja ordem de ataque Hitler queria se encarregar pessoalmente. Mas a deu tarde demais.
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Fatos que antecederam o fim da Segunda Guerra
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O historiador militar Peter Lieb explica que o motivo foi perfeitamente banal: o hábito do líder nazista de ficar acordado até tarde e só se levantar por volta do meio-dia. Também foi assim naquele Dia D: "Pela manhã, quando os tanques deveriam ter sido mobilizados rapidamente, Hitler ainda dormia. Ninguém ousou despertá-lo, nem o alto-comando da Wehrmacht teve coragem de passar por cima de uma ordem do Führer e acionar os tanques por conta própria."
Igualmente fatídica foi a diretriz de Hitler para se descartar uma retirada estratégica: "Aqui não há que recuar e operar, aqui é: ficar, resistir e morrer." Mas era inútil: as tropas alemãs foram obliteradas. "Os Aliados venceram porque tinham a superioridade aérea e marítima, a vantagem da surpresa, e porque tinham treinado durante meses para esse dia", resume Lieb.
Em 25 de agosto 1944 os Aliados libertaram Paris, pouco depois tinha fim a ocupação nazista da França. Mas o saldo mortal dessas poucas semanas foi extremamente elevado: dezenas de milhares de soldados de ambos os lados, além de milhares de civis. E a Segunda Guerra Mundial ainda se prolongaria por mais nove meses, custando milhões de vidas.
Comemorando junto com o ex-inimigo
A comemoração do Dia D tem sua própria história. Para os aliados ocidentais, o 6 de junho logo passou a ser uma data nobre. As cerimônias na Normandia reuniam regularmente veteranos, a rainha britânica, os presidentes francês e americano e outros chefes de Estado e de governo. Mas por muito tempo o consenso era que não havia lugar para representantes alemães.
Ainda em 1984, o chefe de governo Helmut Kohl (1982-98) comentava: "Para um chanceler federal alemão, não há motivo de festejar, quando outros marcam sua vitória numa batalha em que dezenas de milhares de alemães morreram miseravelmente." Por outro lado, o democrata cristão também não fora convidado.
Dia D: imagens da Normandia 75 anos depois
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"Kohl vinha de uma geração muito marcada pessoalmente pela guerra", explica o historiador Lieb. "Ao mesmo tempo, ele ainda estava estreitamente ligado à geração [dos veteranos] da guerra. E para esses, nos anos 80 – muitos ainda estavam vivos – era impensável celebrar junto com soldados americanos, britânicos, franceses."
Gradualmente, porém, impôs-se a narrativa de que "o desembarque também foi o começo do fim do Terceiro Reich e, com isso, também o início da democracia na Alemanha". O primeiro chanceler federal a comparecer à cerimônia do Dia D foi o social-democrata Gerhard Schröder (1998-2005), em 2004. Hoje em dia ninguém questiona a presença do chefe de governo da antiga inimiga Alemanha: na comemoração dos 80 anos, Olaf Scholz também comparecerá.
Desta vez sem a Rússia
Em 2024, durante semanas uma das questões mais delicadas foi se um representante da Rússia deveria estar presente no 80º aniversário. Até então nunca se questionara isso: afinal a Operação Overlord foi o começo de um "segundo front" na guerra que o chefe de Estado soviético Josef Stalin vinha reivindicando com ênfase crescente desde a ofensiva alemã de 1941, a fim de aliviar seu país em apuros. Calcula-se que o conflito custou à União Soviética 20 milhões de vidas – de longe as maiores perdas humanas, entre todos os partidos do conflito.
A fim de honrar a contribuição URSS para a vitória sobre a Alemanha nazista, em 2004 os anfitriões franceses convidaram o presidente russo, Vladimir Putin, para o 60º aniversário do Dia D. E novamente para o 70º, em 2014, mesmo poucas semanas após Moscou ter anexado unilateralmente a península ucraniana da Crimeia – uma manobra condenada em nível internacional.
"Depois de 1989-90, era grande a euforia de que o mundo se tornaria mais pacífico, de que a Rússia, enquanto Estado democrático, se integraria ao modelo comercial ocidental", explica Peter Lieb. "O mais tardar desde 2022, porém, é claro que as condições são totalmente outras." Ele se refere à invasão em massa da Ucrânia pelas Forças Armadas russas, iniciada em 24 de fevereiro daquele ano.
Ainda assim, apesar de não convidarem o próprio Putin, as autoridades francesas pretendiam ter no evento, por exemplo, o embaixador russo no país. O anúncio causou mal-estar em Washington, Londres e também em Berlim. Mas por fim Paris mudou sua postura: Moscou ficará de fora. "Diante da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, que nas últimas semanas ainda se agravou, simplesmente não há condições", justificou o Palácio do Eliseu.
Em vez disso, é o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que viajará para a França. Ele vai celebrar os 80 anos do Dia D no litoral da Normandia, ao lado de seus homólogos francês, Emmanuel Macron, e americano, Joe Biden, príncipe William do Reino Unido, chanceler Olaf Scholz e de outros convidados oficiais. Além de, é claro, alguns dos últimos veteranos da Segunda Guerra Mundial.
O Dia D foi decisivo para o fim da 2ª Guerra
No Dia D, as tropas aliadas desembarcaram na Normandia e abriram uma segunda linha de combate contra a Alemanha. Era o início do fim da Segunda Guerra Mundial e um momento histórico do século 20.
Foto: picture-alliance/dpa
O dia decisivo
O dia 6 de junho de 1944 entrou para a história como o "Dia D". Não se sabe se o D vem de "Day" (dia, em inglês) ou de "Decision" (decisão). O certo é que foi uma data decisiva. O desembarque dos Aliados na Normandia abriu uma segunda linha de combate contra Hitler. Era o início do fim da Segunda Guerra Mundial e do domínio nazista.
Foto: Imago
Operação Overlord
Esse era o nome em código da operação militar. As praias em que as tropas desembarcaram na Normandia também foram rebatizadas pelos militares como Utah, Omaha, Gold, Sword e Juno. Quatorze países participaram do histórico desembarque. Além de americanos, britânicos, poloneses, canadenses e franceses, a operação contou com a ajuda da Grécia, da República Tcheca e da Austrália.
Foto: Imago
Comandante supremo
O general Dwight D. Eisenhower foi o comandante supremo das Forças Aliadas no norte da Europa. Mais tarde, ele se tornaria o 34º presidente dos Estados Unidos. Nos meses anteriores ao Dia D, o general já havia comandado o desembarque das tropas aliadas na Sicília e na parte continental da Itália.
Foto: Imago
A manhã de 6 de junho de 1944
Pouco antes do início da planejada operação ultrassecreta Overlord, tempestades e chuvas fortes atingiram a Normandia. O mau tempo forçou os líderes a adiar a invasão para o dia seguinte. Nas primeiras horas da manhã de 6 de junho, começou, então, a maior operação de desembarque da história militar.
Foto: public domain
Muralha do Atlântico
Cerca de 160 mil soldados desembarcaram na Normandia no Dia D. Ao longo da costa, dividida em cinco setores, os homens invadiram fortificações da chamada "Muralha do Atlântico", por trás das quais se entrincheiravam as Forças Armadas alemãs. Desprotegidos, os soldados aliados tiveram de chegar às praias acessíveis por água, para, então, posicionarem-se ali contra a linha de inimigos alemães.
Foto: AP
Heróis paraquedistas
Vistos mais tarde como heróis, poucos paraquedistas sobreviveram. Eles foram os primeiros a desembarcar no interior do território inimigo, ainda no escuro, na noite anterior ao ataque. A missão era conquistar posições-chave. Além de pintar o rosto como forma de camuflagem, alguns deles também fizeram pinturas de guerra e de moicanos para trazer sorte.
Foto: Imago
Ataque vindo do céu e do mar
Inicialmente, as praias da Normandia foram bombardeadas pelos Aliados. No interior do país, pousavam milhares de paraquedistas. Em seguida, mais de mil navios de guerra e quase 4,2 mil lanchas de desembarque chegaram à costa francesa. Milhares de aviões e tanques também foram utilizados na operação, e uma chuva de bombas caiu sobre vilarejos, especialmente nas áreas ocupadas pelos alemães.
Foto: picture-alliance/akg-images
Suprimentos para os próximos dias
Como parte da bem-sucedida operação militar na Normandia, depois do desembarque, os Aliados instalaram dois portos para navios de transporte na costa da região. Um desses cais provisórios, cujas peças foram trazidas da Inglaterra, foi o porto de Mulberry, instalado em Colleville pouco depois da invasão (foto).
Foto: Getty Images
Pegos de surpresa
Entre os motivos para o sucesso da operação Overlord está o fato de o comando alemão ter sido pego de surpresa pelo desembarque dos inimigos na Normandia. Os Aliados haviam feito de tudo para que a Alemanha nazista pensasse que Calais, região mais ao norte, seria alvo de uma invasão numa data posterior.
Foto: AP
Líderes nazistas de férias
Sem saber o que estava por vir, algumas das lideranças das Forças Armadas alemãs estavam de férias quando ocorreu o desembarque na Normandia. O general Erwin Rommel, por exemplo, festejava o 50º aniversário de sua esposa no sul da Alemanha. Na foto, as tropas alemãs na costa da Normandia, em 1940 – sem fazer ideia de que, quatro anos mais tarde, seriam derrotadas no mesmo local.
Foto: Imago
A reação do Führer
Em 6 de junho de 1944, Hitler estava em Obersalzberg, no sul da Alemanha. De acordo com a revista "Der Spiegel", militares informaram o Führer sobre o desembarque dos Aliados somente por volta das 10h. Ninguém teria tido coragem de acordá-lo. Ao saber, Hitler teria exclamado euforicamente: "A notícia não poderia ser melhor. Agora os ingleses estão finalmente no local onde podemos derrotá-los".
Foto: picture-alliance/akg-images
Mais 11 meses
Apesar de o desembarque dos Aliados na Normandia ter sido um dos momentos cruciais para o fim da Segunda Guerra Mundial, ainda demorou 11 meses para que o conflito terminasse na Europa. Muitos dos soldados que lutaram no Dia D foram enviados depois para o conflito que teve como palco a região Ásia-Pacífico, onde a guerra se estendeu até setembro 1945.
Foto: AP
Heróis da guerra
Cerca de 57 mil soldados aliados foram mortos durante a Operação Overlord. Outros 155 mil ficaram feridos, e 18 mil, desaparecidos. Do lado das forças alemãs, 200 mil soldados morreram em combate. O dia em que os Aliados desembarcaram na Normandia é comemorado até hoje. Todos os anos, representantes dos países que protagonizaram a guerra e veteranos se encontram para celebrar o Dia D.
Foto: AP
Hoje vizinhos e amigos
A primeira vez que um chefe de estado alemão participou das comemorações do Dia D foi em 6 de junho de 2004. Durante o evento em Caen, o então chanceler federal Gerhard Schröder pediu que as vítimas da guerra não fossem esquecidas. E acrescentou: "Não é a velha Alemanha, daqueles anos sombrios, que eu represento", abraçando, em seguida, o então presidente francês, Jacques Chirac.
Foto: picture-alliance/dpa
Cemitérios de soldados
Vários cemitérios veneram os soldados mortos na invasão, tanto das tropas aliadas quanto de alemães. No cemitério americano de guerra de Colleville sur Mer (foto), perto de Omaha Beach, estão os restos mortais de 9.387 militares americanos. A maioria morreu durante a invasão propriamente dita e as operações militares subsequentes na Segunda Guerra Mundial.