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Europa enfrenta aumento de moradores de rua

Ralf Bosen
21 de março de 2018

Estudo aponta que, nos últimos anos, todos os países europeus, com exceção da Finlândia, vivenciaram um crescimento drástico no número de sem-teto e no custo da moradia.

A Inglaterra registrou o maior crescimento no número de pessoas sem moradia: 169% entre os anos de 2010 e 2016Foto: picture-alliance/Photoshot

Eles podem ser vistos em quase toda parte em cidades da Europa: pessoas sem-teto obrigadas a viver nas esquinas, invariavelmente cobertos por sacos de dormir. Em alguns casos, a única proteção que eles têm contra o concreto frio das calçadas urbanas é um tapete térmico – mas há muitos que precisam recorrer a jornais ou papelão.

Para eles, chuva, neve e temperaturas contínuas abaixo de zero em toda a Europa são aspectos que trazem riscos de morte. E o problema está piorando – o número de pessoas deslocadas ou sem-teto na Europa cresceu nos últimos anos.

A Federação Europeia das Associações Nacionais que Trabalham com os Sem-Teto (Feantsa, na sigla em francês) confirmou a tendência crescente com um estudo recente, que aponta uma piora da crise social e um crescimento cada vez maior da desigualdade entre ricos e pobres.

Nos últimos anos, todos os países europeus – com exceção da Finlândia – vivenciaram um aumento drástico no número de sem-teto e no custo da moradia. Os dados de cada país são calculados de acordo com padrões diferentes e, portanto, são difíceis de serem comparados. No entanto, invariavelmente tudo aponta para uma tendência geral bastante inquietante.

Entre os países com o maior aumento de habitantes sem abrigo estão a Inglaterra (169% entre 2010 e 2016), a Irlanda (145% entre 2014 e 2017) e a Bélgica (96% entre 2008 e 2016). Os países que sofreram os aumentos mais extremos nos custos de habitação são Bulgária, Inglaterra, Portugal, República Tcheca e Polônia. Em toda a Europa, sem-teto vivem cerca de 30 anos menos do que o resto da população. Em média, eles moram nas ruas por 10,3 anos.

Índices preocupantes na Alemanha

A situação se deteriorou em um país particularmente conhecido por possuir um sistema de rede de segurança social que funcione bem: a Alemanha. De acordo com o estudo da Feantsa, aproximadamente 860 mil pessoas estavam desabrigadas ou não tinha uma residência fixa na Alemanha em 2016. Isso reflete um aumento de 150% entre 2014 e 2016.

Cerca de metade das famílias de baixa renda na Alemanha gastam mais de 40% de suas receitas em habitação. Apenas dois outros países – Bulgária e Grécia – exigem que os cidadãos gastem mais para ter um teto. A média europeia é de 42,1%. O estudo define como "pobre" aquelas pessoas que ganham menos de 60% da renda média nacional.

A Alemanha é um dos países em que existe a maior desigualdade quando se trata do acesso à habitação. "É particularmente chocante que um país tão rico como a Alemanha está entre aqueles com as taxas mais altas de exclusão de moradia", disse o diretor da Feantsa, Freek Spinnewijn, em comunicado.

Praticamente todos os países da Europa, incluíndo a Alemanha, registraram um aumento em pessoas sem-tetoFoto: picture-alliance/NurPhoto/E. Contini

Finlândia, um exemplo

"Durante anos, observamos uma diminuição da habitação social na Alemanha e isso levou ao desaparecimento de opções de habitação a preços acessíveis", explica Thomas Specht, presiente do Grupo Federal de Trabalho para Assistência de Sem-Teto (BAG, na sigla em alemão).

Seu instituto forneceu os dados da Alemanha para o relatório da Feantsa sobre a exclusão de habitação na Europa. Sprecht afirma que a demanda por moradia tem sido muito exacerbada nas áreas metropolitanas devido a um afluxo de residentes e também à reestruturação. Ambos os fatores levaram a uma explosão dos preços de moradias.

"E pouco foi feito para abordar as condições estruturais para a construção de moradias nos últimos anos", afirma. Acima de tudo, os jovens com pouca renda foram os mais afetados. Sprecht pede mais programas de habitação social e aponta para a Finlândia como um exemplo positivo a ser seguido. Segundo ele, o país iniciou um programa especial financiado por várias fontes diferentes – doações e subsídios derivados das indústrias de jogos de azar e de loterias estavam entre elas.

Por outro lado, Sprecht aponta que o pequeno país construiu somente entre "oito e dez mil apartamentos". O modelo é difícil de ser elevado a uma escala do tamanho necessário em países maiores como a Alemanha, onde a demanda não pode ser atendida com programas especiais, mas onde são necessárias medidas verdadeiramente abrangentes de regulação de mercado. No entanto, segundo Sprecht, a Finlândia avançou com a abordagem básica: todas as pessoas precisam ter um lugar para morar.

Pesquisadores alegam que uma razão pela qual o número de sem-teto disparou tão rapidamente na Alemanha é que os refugiados foram contabilizados nas estatísticas pela primeira vez. Sprecht estima que foram incluídos aproximadamente 440 mil refugiados. A maioria deles, segundo o especialista, não possui contrato de aluguel e vive em habitações de refugiados ou acomodações coletivas.

"Era evidente que a questão dos refugiados também criaria problemas no mercado imobiliário", afirma Sprecht. Sem os refugiados, o aumento do número de desabrigados na Alemanha entre 2014 e 2016 cresceriam apenas 25%, de 335 mil para 420 mi", e não para 860 mil pessoas, como apontou o relatório.

Segundo o diretor da Feantsa Spinnewijn, a questão imobiliária resultante do afluxo migratório é mais uma que a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e sua nova coalizão de governo terão de enfrentar. Para Spinnewijn, Merkel "precisa tornar a falta de moradia e sem-teto uma prioridade a fim de neutralizar essa bomba-relógio".

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