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Europa intensifica guerra contra o coronavírus

15 de março de 2020

Com 100 milhões de pessoas em quarentena, países europeus anunciam série de medidas restritivas para conter pandemia no continente. Governos limitam a livre circulação de cidadãos e fecham fronteiras, escolas e comércio.

Homem é testado na fronteira da Polônia com a Alemanha
A Polônia fechou suas fronteiras com a Alemanha e outros países vizinhos na madrugada deste domingoFoto: DW/W. Szymanski

Em alerta máximo diante do avanço do coronavírus, países da Europa anunciam neste fim de semana uma série de medidas restritivas para tentar conter a pandemia no continente, onde mais de 100 milhões de residentes já estão em quarentena em suas casas.

O número de pessoas infectadas superou 162 mil neste domingo (15/03) em todo o mundo, com mais de 6 mil mortes. Especialistas alertam, no entanto, que a cifra real pode ser muito maior, pois exames não estão disponíveis para todos, e pessoas podem estar infectadas sem apresentar sintomas.

A Itália, que declarou quarentena em todo seu território no início da semana, registrou 368 novas mortes neste domingo, elevando o total para 1.809, informaram autoridades do país. O número de casos confirmados subiu de 21.157 no sábado para 24.747, indicando que o surto continua a se expandir no país europeu mais atingido.

Na Espanha, país europeu mais afetado depois da Itália, o número de mortos mais que dobrou em um dia: foram 152 novas vítimas desde sábado, chegando a um total de 288 no país – a maioria, 213, em Madri. O território espanhol conta ainda 7.753 casos confirmados da doença covid-19.

No sábado, o governo da Espanha declarou estado de emergência nacional e decidiu limitar a livre circulação da população em todo o país, colocando mais de 47 milhões de pessoas em quarentena parcial. Os espanhóis só podem deixar suas casas para fazer compras essenciais, buscar tratamento médico ou ir ao trabalho. Escolas, hotéis e quase todo o comércio estão fechados.

Em Barcelona, pessoas que se aventuraram a sair de casa para comprar pão neste domingo, primeiro dia da quarentena, enfrentaram longas filas nas padarias, com distâncias de um metro entre uma pessoa e outra, conforme recomendado pelas autoridades para reduzir o risco de contágio.

Na Espanha, pessoas em quarentena foram às varandas aplaudir o trabalho de equipes de emergênciaFoto: Getty Images/C. Alvarez

Na França, o primeiro-ministro Édouard Philippe impôs o fechamento da maioria das lojas, restaurantes e locais de entretenimento a partir da meia-noite de sábado para domingo, e pediu que os franceses fiquem em casa. O governo já havia decidido fechar as escolas a partir de segunda.

O país, contudo, decidiu manter as eleições regionais programadas para este domingo, mas sob diretrizes rígidas de saúde, com eleitores sendo instruídos a manter distância uns dos outros. O pleito elegerá prefeitos para 35 mil municipalidades e quase meio milhão de vereadores.

"Macron nos diz para ficar em casa para nossa própria segurança e depois nos diz que é bom votar. Não faz sentido. Não vou votar", disse Marie-Helene Corbellini, de 75 anos, uma entre muitos eleitores que devem se abster de ir às urnas neste domingo.

O presidente Emmanuel Macron decidiu na semana passada não suspender as eleições, apesar das preocupações de que as pessoas possam correr mais risco indo às zonas de votação. O líder francês justificou ser vital que o sistema democrático continue funcionando.

No sábado, autoridades francesas informaram que o vírus Sars-Cov-2 infectou mais de 4.500 pessoas no país, incluindo 300 pessoas internadas em terapia intensiva. Ao menos 91 pessoas morreram devido à doença.

Funcionária desinfeta urna de votação durante eleições locais na FrançaFoto: AFP/S. Bozon

A Alemanha, por sua vez, decidiu neste domingo fechar suas fronteiras com a França, Áustria, Suíça e Dinamarca a partir desta segunda-feira. O transporte internacional de mercadorias ainda será permitido, bem como a passagem de cidadãos que moram em um desses países e trabalham em outro.

Com tal medida, as autoridades alemãs visam não somente retardar a disseminação do vírus, mas também reduzir compras em massa, por cidadãos estrangeiros, para estoque de alimentos e outros artigos, que já têm causado problemas de abastecimento nas áreas próximas às fronteiras.

"A propagação do vírus precisa ser mais lenta. A regra básica deve ser: quem não precisa cruzar a fronteira com urgência não deve cruzar a fronteira", disse Thomas Strobl, secretário do Interior do estado de Baden-Württemberg, que faz fronteira com França e Suíça.

A agência de notícias AFP lista a Alemanha entre os países mais atingidos pelo coronavírus, com 3.795 casos registrados e dez mortes, incluindo duas neste domingo, na Baviera.

Enquanto as medidas alemãs atualmente se aplicam apenas a alguns países, outros países vizinhos, como Polônia e República Tcheca, também fecharam suas fronteiras ou introduziram restrições severas.

A Polônia fechou suas fronteiras com a Alemanha e outros países vizinhos na madrugada deste domingo. A medida, também voltada à contenção da covid-19, tem resultado em congestionamentos de até sete horas nas estradas.

"O afluxo é grande, porque muitos poloneses querem voltar a seu país, diante das novas regras", comentou uma porta-voz do controle de fronteiras polonês à agência de notícias DPA.

Ao todo, Varsóvia ordenou a introdução de controles em 58 postos de fronteira, também com a República Tcheca, Eslováquia e Lituânia. Voos e viagens ferroviárias internacionais estão igualmente suspensos.

Os poloneses que desejarem retornar ao país terão que passar 14 dias em quarentena, enquanto estrangeiros só poderão ingressar em casos excepcionais, aplicáveis a portadores de visto permanente, diplomatas e caminhoneiros. O tráfego de mercadorias se mantém ilimitado. O país conta 119 casos confirmados de contágio com o coronavírus, com três mortes.

Longas filas de carro na fronteira entre Polônia e AlemanhaFoto: picture-alliance/A. Gora

A Áustria está limitando a circulação de pessoas em todo o país. O primeiro-ministro Sebastian Kurz afirmou que cidadãos só deverão deixar suas casas por três motivos: trabalhos essenciais, compras essenciais e auxílio a outras pessoas.

As novas medidas foram anunciadas por Kurz em uma sessão parlamentar neste domingo. Elas ainda incluem o fechamento completo de restaurantes a partir de terça-feira e a proibição de voos para o Reino Unido, Ucrânia e Rússia. O país de cerca de 8 milhões de habitantes confirmou cerca de 800 infecções até o momento.

Na Holanda, o ministro da Saúde, Bruno Bruins, anunciou que escolas e creches ficarão fechadas em todo o país a partir desta segunda-feira até 6 de abril. Bares, clubes de esporte, sex shops e coffee shops também não abrirão suas portas a partir deste domingo. O total de infecções no país é de 1.135.

Já o Reino Unido planeja intensificar suas medidas contra o coronavírus, informou o ministro da Saúde britânico, Matthew Hancock, neste domingo, indicando que o país pode se render em breve a táticas já adotadas por seus vizinhos e às quais o país vinha resistindo.

Hancock disse que o governo britânico planeja estabelecer um plano de emergência nesta semana para lidar com o surto, incluindo exigir que os idosos entrem em isolamento voluntário e colocar em quarentena pessoas que estão doentes, mas se recusam a ficar isoladas, além de proibir grandes reuniões públicas.

"Faremos a coisa certa na hora certa", disse o ministro à BBC. Segundo dados divulgados no sábado, as mortes por coronavírus dobraram no Reino Unido em relação ao dia anterior, chegando a 21, e o número de infecções subiu de 800 para mais de 1.100.

Localizado dentro das fronteiras do país mais atingido da Europa, o Vaticano anunciou neste domingo que todas as cerimônias da Semana Santa ocorrerão sem a "presença física dos fiéis". Além disso, as audiências gerais de quarta-feira e as orações dominicais do papa serão somente transmitidas ao vivo pela internet até o Domingo de Páscoa, em 12 de abril.

Praça de São Pedro, no Vaticano, fechada para turistas e fiéisFoto: picture-alliance/Ropi

O fortalecimento das medidas restritivas europeias vem após a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmar, na última sexta-feira, que a Europa é o novo epicentro da pandemia de coronavírus, e não mais a Ásia.

"Neste momento, estão sendo registados na Europa mais casos todos os dias do que os reportados na China no auge da sua epidemia", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Desde que o Sars-Cov-2 surgiu pela primeira vez em dezembro, mais de 162 mil casos foram registrados em mais de 130 países e territórios, com o número de mortos superando 6 mil. Quase 75 mil pessoas se recuperaram, a maioria na China.

No Brasil, o Ministério da Saúde confirmou 191 casos até este domingo, sendo a maioria no estado de São Paulo, onde há 127 infecções confirmadas. Nas cidades de São Paulo e do Rio, há registro de transmissão comunitária, ou seja, quando pessoas contraem o vírus sem ter viajado a zonas de risco ou ter vínculo com outro caso confirmado.

EK/afp/dpa/ap/rtr/ots

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