Europa não pode mais receber migrantes, diz premiê francês
25 de novembro de 2015
Em entrevista a jornais europeus, Manuel Valls afirma que países do bloco chegaram ao limite na crise migratória e defende o controle mais rígido das fronteiras externas da União Europeia.
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Os países da União Europeia (UE) chegaram ao limite na crise migratória e não podem mais receber refugiados, afirmou o primeiro-ministro da França, Manuel Valls, a diversos jornais europeus nesta quarta-feira (25/11).
"A Europa precisa dizer que não tem pode mais acolher tantos migrantes, não é possível", declarou o premiê na entrevista que foi publicada na Alemanha pelo jornal Süddeutsche Zeitung e alertou ainda que o destino da União Europeia será determinado pelo controle mais rígido da fronteiras externas do bloco.
"O controle das fronteiras externas é essencial para o futuro da União Europeia. Se não fizermos isso, as pessoas vão dizer: chega de Europa!", ressaltou Valls. A UE enfrenta a pior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial. Somente a Alemanha espera receber mais de 1 milhão de refugiados neste ano.
Valls reiterou que a Europa precisa encontrar uma solução com os vizinhos da Síria – Turquia, Líbano e Jordânia – no acolhimento a refugiados e registro de migrantes. Mesmo antes dos ataques que deixaram 130 mortos em Paris no dia 13 de novembro, o primeiro-ministro já defendia uma estratégia europeia mais ampla na crise migratória.
Críticas a Merkel
Alguns líderes europeus e, mesmo dentro da Alemanha, criticaram a postura de abertura da chanceler federal Angela Merkel perante ao intenso fluxo migratório e alegaram que a "Wilkommenskultur" e a decisão de abrir as fronteiras do país para refugiados sírios intensificou a crise.
Na entrevista, Valls evitou criticar diretamente Merkel pela decisão de suspender procedimentos europeus de requerimento de asilo, mas sinalizou que Paris foi pega de surpresa com a medida. "A Alemanha fez uma escolha louvável. No entanto, não foi a França que disse: venham!", destacou.
Valls alertou ainda que a Alemanha e a Itália também estão ameaçadas pelo terrorismo do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI). "Para mim está claro que é uma guerra. Rejeitar a palavra guerra significa negar a realidade", citou o Süddeutsche Zeitung.
A entrevista foi publicada horas antes do encontro entre Merkel e o presidente da França, François Hollande, em Paris. Após os atentados na capital do país, o líder francês está em busca de aliados no combate ao "Estado Islâmico".
Com a suspeita de que pelo menos um dos terroristas entrou na Europa como refugiado, os ataques em Paris também acirraram os debates sobre a crise migratória.
CN/rtr/dpa/afp
O poder das cercas
Muro que dividia a Alemanha caiu há 26 anos. Contudo, diante da onda de refugiados, o apelo por instalações fronteiriças é cada vez maior em diversos locais da Europa. Aqui, uma visão geral dessas barreiras pelo mundo.
Foto: picture-alliance/dpa
Hungria fecha portas
O governo do primeiro-ministro Viktor Orbán levantou uma cerca na fronteira com a Sérvia e também fortificou a com a Croácia, país-membro da União Europeia. A Hungria faz parte do Espaço Schengen, onde os controles fronteiriços foram basicamente abolidos. A maioria dos refugiados que chega da Grécia através da chamada rota dos Bálcãs, quer vir para a Áustria ou a Alemanha.
Foto: DW/V. Tesija
Posto avançado europeu
As instalações de fronteira em Melilla, enclave espanhol no norte do Marrocos, contam entre as mais modernas do mundo. Assim como em Ceuta, uma cerca de seis metros de altura e dez quilômetros de extensão circunda a cidade. Equipada com "arame farpado da Otan", câmeras infravermelhas e sensores de ruído e movimento, a fortificação visa desencorajar os refugiados africanos.
Foto: Getty Images
Ilha dividida
A chamada Linha Verde no Chipre consiste de cercas de arame farpado, escombros, torres de vigilância e seções de muro. Ao longo de 180 quilômetros, ela divide a ilha em uma parte turca no norte e uma grega, no sul. Vigiada por milhares de soldados em ambos os lados, desde a queda do Muro de Berlim Nicósia passou a ser a maior capital dividida do mundo.
Foto: picture-alliance/dpa/R.Hackenberg
Muro entre EUA e México
Cerca de 20 mil policiais controlam ininterruptamente a fronteira entre EUA e México. Apelidada "Tortilla Wall", a barreira se estende por 1.126 quilômetros. A construção é assegurada por câmeras de vídeo e infravermelhas, dispositivos de visão noturna, detectores de movimento, sensores térmicos e drones. Sua função é evitar a imigração ilegal e o contrabando de drogas.
Foto: dpa
Terra Santa entre dois povos
Somente em poucos pontos de controle é possível atravessar a fronteira entre os territórios palestinos e Israel, como aqui em Jerusalém. O objetivo das instalações fronteiriças é a defesa contra ataques terroristas palestinos. Apesar das fortificações e da vigilância, os palestinos conseguem contrabandear regularmente armas e outros bens, através de um sistema de túneis na Faixa de Gaza.
Foto: picture-alliance/Landov
"Zona desmilitarizada" na Coreia
Ela é considerada a fronteira mais fortificada e controlada do mundo. Um milhão de minas, arame farpado e torres de controle separam a Coreia do Sul da parte comunista da península. Em ambos os lados dos 248 quilômetros da linha demarcatória, encontra-se uma "zona desmilitarizada" de dois quilômetros de largura, onde é proibido entrar. Ela foi criada após o fim da Guerra da Coreia (1950-1953).
Foto: picture alliance/AP Photo
Linha de paz na Irlanda do Norte
Um total de 48 "linhas de paz" separa católicos e protestantes na Irlanda do Norte. Na capital Belfast, o sistema fronteiriço consiste de um muro de sete metros de altura, composto por tijolos, cerca de arame farpado, concreto e grades. O muro possui passagens para pedestres e portões para o tráfego, que são fechados à noite.
Foto: Peter Geoghegan
"Cerca de proteção" indiana
Trata-se da maior instalação de fronteira do mundo: a Índia decidiu construir 4 mil quilômetros de "cerca de proteção" na fronteira com Bangladesh, país considerado pelos indianos como reduto de terroristas. A "linha zero" é uma cerca elétrica de até dois metros de altura, guarnecida de arame farpado. Aprximadamente 50 mil soldados controlam o sistema fronteiriço.
Foto: S. Rahman/Getty Images
Muro de Berlim
Ele fez parte da recente história mundial e foi condenado durante décadas de "faixa da morte". A queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989 marcou o início do processo de Reunificação das duas Alemanhas e o fim da Guerra Fria. Contudo, o apelo desse evento histórico não pôde impedir que até hoje barreiras e demarcações dominem a política mundial.