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Europa, o professor cuja opinião ninguém perguntou

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
3 de abril de 2024

Em missões oficiais na América do Sul, os europeus têm passado um vexame atrás do outro. Arrogância, ingenuidade, ou só incapacidade de aceitar outras opiniões? Entre Europa e Brasil, o desentendimento cresce sem parar.

Acordo União Europeia-Mercosul: um calo em muitos sapatosFoto: Adrian Burtin/Belga/dpa/picture alliance

Num jantar particular recente, um diplomata brasileiro deu nome aos bois: "Vocês, europeus, se manifestam sempre com uma arrogância insuportável", comentou, em tom amigável, porém decidido. E prosseguiu: em sua autoimagem, os representantes da Europa seriam os melhores parceiros do mundo, não só convencidos de que são melhores em muitos aspectos da política externa, mas "explicam o tempo todo o que a gente está fazendo certo ou errado".

As declarações dadas por ministros ou chefes de Estado europeus na América do Sul estão cheias de provas disso. Do ponto de vista sul-americano, é prepotente quando eles saúdam políticas, regulamentações ou ambições, ou louvam os potenciais de cooperação. Os representantes da União Europeia logo soam como uma instância moral superior, que distribui notas por bom comportamento ou dedicação.

Exemplo: representantes alemães não se cansam de enfatizar que uma meta da política ambiental europeia seria reduzir o desmatamento da Amazônia, a intenção seria "apoiar o Brasil nesse sentido". Por isso não se pode mais vender na União Europeia produtos como café, cacau, madeira ou azeite de dendê cultivados em áreas florestais desmatadas depois de 2020.

No entanto essa "ajuda e apoio" deixa também um gosto amargo. Pois, sem dúvida, há muitos na Alemanha que acham correto reduzir os incentivos ao desmatamento tropical. Só que as restrições são igualmente o resultado do conluio entre os agricultores europeus e seus lobbies com os dos ambientalistas. Para os brasileiros, a "ajuda" na proteção à Amazônia parece menos altruísta do que os europeus gostam de acreditar.

Combina com esse quadro o fato de o presidente da França, Emmanuel Macron, ter declarado agora no Brasil que almeja um acordo de livre comércio UE-Mercosul muito maior e mais abrangente, pois o atual, que vem sendo negociado há 20 anos, estaria ultrapassado.

Mas no Brasil todos os envolvidos bem sabem que Macron é contra o acordo sobretudo por interesses de política interna, para evitar contrariar os agricultores franceses, de cujos votos precisa. Isso resulta numa perda de confiança gradativa da América do Sul em relação à Europa.

O caso da BBC e o petróleo guianense

Um exemplo eloquente da arrogância europeia e da reação cada vez mais indignada dos sul-americanos é a entrevista da BBC com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, que no momento faz manchetes no mundo inteiro.

O jornalista britânico lhe perguntou se ele estava ciente de que a exploração das gigantescas reservas nacionais de petróleo também liberava grande volume de dióxido de carbono. Ou se os lucros com a extração não favoreceriam a população de origem indiana perante a africana.

As perguntas do correspondente britânico soam incrivelmente arrogantes, do ponto de vista sul-americano – mesmo que em parte se devam ao formato da entrevista. Pois, enquanto emissora pública, a BBC se beneficiou da exploração de petróleo no Mar do Norte pelo Reino Unido durante décadas. Além disso, foi essa potência colonial que levou para a então Guiana Britânica os africanos escravizados e os trabalhadores indianos, o que até hoje marca a população.

Ali explicou que, ao contrário da maioria dos Estados europeus, até hoje a Guiana tem preservado suas florestas quase inteiramente. "O mundo perdeu, nos últimos 50 anos, 65% de toda a sua biodiversidade. Mas nós mantivemos a nossa biodiversidade. Vocês estão valorizando isso? Estão prontos a pagar por isso?"

Os europeus deveriam descer do seu pedestal quando se apresentam na América do Sul. Pois isso parece cada vez mais anacrônico num mundo em que a influência da Europa míngua com a ascensão da Ásia.

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Há mais de 30 anos o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.

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