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Novas esperanças

Agências (av)25 de abril de 2008

Seis semanas após a eclosão dos tumultos no Tibete, governo chinês se declara disposto a dialogar com tibetanos. Uma reviravolta inesperada para salvar os Jogos Olímpicos ou mérito dos políticos ocidentais?

Dalai Lama: finalmente um motivo para sorrirFoto: AP
José Manuel BarrosoFoto: AP

Acaso ou não, o anúncio coincidiu com a presença em Pequim da comitiva de nove membros da União Européia. Trazendo surpresa e alívio aos observadores de todo o mundo, nesta sexta-feira (25/04) o governo chinês declarou-se disposto a iniciar conversações com um representante do líder espiritual tibetano, o Dalai Lama.

A informação é da agência oficial de notícias Xinhua. Trata-se de uma reviravolta dramática na situação, seis semanas após a eclosão dos tumultos no Tibete e pouco mais de três meses antes das Olimpíadas de Pequim. O evento está ameaçado de boicote internacional, em nome dos direitos humanos, e os protestos acompanham o caminho da tocha olímpica até o monte Everest.

Da capital chinesa, a comissária européia do Exterior, Benita Ferrero-Waldner, e o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, saudaram a decisão. Após conversa com o primeiro-ministro chinês, Wen Jibao, Barroso se declarou "encorajado pelo intercâmbio franco e aberto sobre o Tibete". "Espero em breve ver desdobramentos positivos. Reiterei a posição da UE nesta questão."

Sagrados Jogos Olímpicos

Tocha olímpica chega em Nova DélhiFoto: AP

O político português assegurou a Wen que a Europa considera a região do Himalaia como território chinês, e apóia a integridade territorial da China, "e isto naturalmente se aplica ao Tibete". Ao mesmo tempo, instou Pequim a rever sua presente política, permitindo livre acesso de jornalistas e visitantes àquela região.

Barroso é contra um boicote, mesmo que seja apenas da abertura, dos Jogos Olímpicos de Pequim em protesto contra as violações dos direitos humanos pelo governo chinês. "As Olimpíadas devem ser uma celebração da juventude do mundo e têm que ser um sucesso. Por isso sou contra um boicote."

A Eslovênia, que atualmente ocupa a presidência rotativa da UE, reagiu positivamente às novas intenções da China em relação ao Tibete. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, alegrou-se: "O diálogo retomado dá margem a esperanças verdadeiras".

Otimismo alemão

Frank-Walter SteinmeierFoto: AP

Nas últimas semanas, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, insistira junto a Pequim no sentido que conversações com os tibetanos seriam o caminho mais certo para uma solução pacífica.

"Ficaria feliz se o conselho encontrou ressonância na China", observou nesta sexta-feira, em Berlim. Segundo porta-voz do Ministério do Exterior, os chineses haviam informado a Alemanha com antecedência de sua intenção.

Para o vice-presidente da bancada democrata-cristã no Bundestag, Roland Koch, o anúncio é um "sinal importante e esperançoso", demonstrando que o governo chinês leva a sério a opinião da comunidade internacional. Koch tem relações amigáveis com o Dalai Lama.

"Hiena de roupão vermelho"

O porta-voz da bancada liberal-democrata para assuntos de direitos humanos, Florian Toncar, classificou a decisão como um "passo na direção certa", ainda que a oferta de Pequim não se dirija diretamente ao líder espiritual tibetano e Prêmio Nobel da Paz de 72 anos, mas sim a um seu "representante pessoal".

A China impôs três condições para um diálogo com o Dalai Lama. Este deveria "demonstrar com ações concretas que suspende todas as atividades em prol da divisão da China; que não planeja ou incita a atos de violência; e deve deixar de perturbar ou sabotar os Jogos de Pequim".

Por outro lado, o gesto de concessão surpreendeu desagradavelmente a muitos chineses, que desabafaram na internet. Um usuário escreveu no portal do jornal popular Qiangguo Luntan, dirigindo-se ao governo: "Há alguns dias vocês ainda o chamavam de 'hiena de roupão vermelho'. Agora querem negociar com esse lobo. Qual é a lógica?"

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