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"Europa precisa ser assertiva e confiante"

Max Hofmann jps
27 de novembro de 2019

Em entrevista à DW, presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fala dos desafios que a UE deve enfrentar, como a mudança climática, a crescente digitalização e o estado das relações com EUA e China.

DW-Interview Ursula von der Leyen, EU-Kommissionspräsidentin
Nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fala à DWFoto: DW/B. Riegert

O Parlamento Europeu deu luz verde, por ampla maioria, à nova Comissão Europeia, nesta quarta-feira (27/11), abrindo caminho para que a ex-ministra alemã da Defesa Ursula von der Leyen comece os trabalhos como chefe do Executivo da União Europeia (UE), ao lado de sua equipe, no próximo dia 1º de dezembro.

A composição da próxima Comissão foi aprovada por 461 votos a favor e 157 contra, com 89 abstenções. Em entrevista à DW, Von der Leyen afirmou que a aprovação é um "bom começo", sinalizando que o Parlamento é capaz de se unir em torno de uma "agenda construtiva".

DW: Como deve ser o olhar do resto do mundo sobre a Europa que a senhora deseja configurar com esta nova Comissão?

Ursula von der Leyen: Acho que é hora de a Europa tomar a iniciativa para ser assertiva e confiante. Temos que fazer muito pelo mundo. E se você olhar temas como o Acordo Verde Europeu [European Green Deal] ou a digitalização, há necessidade de uma voz europeia. Acho que é hora de posicionar a Europa num novo formato.

Tomemos um exemplo concreto: os Estados Unidos são concorrente ou parceiro, hoje em dia?

Nossos amigos nos Estados Unidos são parceiros. Quero dizer, formamos uma base sólida ao longo de décadas. Se você observar todos que mantêm amizade e contatos comerciais com nossos amigos americanos, é disso que trata o vínculo transatlântico e a amizade transatlântica. Claro que temos problemas. Mas, como acontece com bons parceiros, você precisa discutir esses problemas e resolvê-los.

E a China?

A China é uma questão diferente. O país está se movendo mais numa direção que nos obriga a descobrir como lidar com temas difíceis. Por exemplo, o sistema de pontuação social da China levanta muitas perguntas [o sistema prevê dar notas aos cidadãos conforme seus hábitos e conduta, sendo criticado como um gigantesco mecanismo de vigilância estatal].

A maneira como é estruturada a iniciativa da Rota da Seda [megaprojeto de investimentos em novas rotas comerciais, também intitulado Um Cinturão, Uma Rota] deixa muitas questões em aberto para nós. São temas que precisamos e vamos discutir.

Parece que a senhora tem objetivos muito ambiciosos, por exemplo, para o European Green Deal, de fazer a Europa chegar a uma economia neutra em carbono até 2050. Está estabelecendo metas assim de propósito, para, no final, conseguir algo mais modesto?

Acho que se precisa ser ambicioso, porque cinco anos é muito tempo. E a luta contra as mudanças climáticas não pode esperar. Quero dizer, elas não vão esperar até o mundo político tomar alguma iniciativa.

Ou avançamos agora, ou será muito ruim para o nosso planeta e para nós. O mesmo vale para a digitalização: o resto do mundo não vai esperar pela Europa. Portanto, é melhor intensificarmos a digitalização. Acho que vale a pena estabelecer metas ambiciosas porque, pela minha experiência de muitos e muitos anos na política, quanto mais ambiciosas são suas metas, mais se luta para ir adiante.

Então a verdadeira questão é: como vai fazer isso? A Europa está dividida. O atual Parlamento Europeu está dividido. Até a França e a Alemanha não estão se dando bem no momento. Então, como realmente vai fazer tudo isso?

Era muito importante obter essa maioria hoje. Na verdade, foi uma maioria absoluta de quase dois terços. Isso mostra que, com uma agenda positiva, este parlamento consegue formar uma maioria construtiva. Eles querem avançar. E esse foi um bom começo.

Mas e os líderes? Quero dizer, a França e a Alemanha não estão se dando bem no momento. Como vai colocar todo mundo na mesma sintonia?

Eu vejo as coisas de maneira diferente. Por exemplo, fui apoiada por todos os chefes de Estado ou de governo [da UE]. E acho normal que se defendam visões diferentes em questões concretas. Isso é democracia.

É preciso discutir sobre as coisas. Mas então tem-se que formular soluções e dar um passo adiante. Se olharmos para a Europa, acho que temos muito para nos orgulhar. É claro que há desafios pela frente. Mas, tendo em mente que esta União Europeia, com toda a sua diversidade, é um modelo muito bem-sucedido, devemos continuar seguindo em frente.

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