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Europa se prepara para segunda onda do coronavírus

28 de julho de 2020

Série de surtos pelo continente, impulsionados pelas férias de verão, leva países a reimporem restrições de movimentação. Situação é particularmente crítica na região espanhola da Catalunha.

Aglomeração de turistas no aeroporto de Frankfurt: temor de novo surto
Aglomeração de turistas no aeroporto de Frankfurt: temor de novo surtoFoto: Getty Images/T. Lohnes

O temor de que uma série de surtos possa gerar uma segunda onda de infecções na Europa, onde a pandemia estava sendo mantida relativamente sob controle, levou países a reimporem algumas restrições de movimentação.

A pandemia levou a União Europeia à maior crise de sua história, e os países estão enfrentando dificuldades neste verão para encontrar o balanço entre liberar o turismo, vital para a economia em várias regiões, e evitar novos surtos de covid-19.

Espanha: situação preocupante

A Espanha, por exemplo, país que já pagou um alto custo em vidas e prejuízos econômicos durante a pandemia, sofreu um novo revés: a operadora de turismo TUI cancelou todos os voos até 9 de agosto com destino a cidades espanholas.

A decisão foi uma reação ao anúncio do governo britânico, no fim de semana, de exigir que os viajantes que retornem da Espanha se submetam a duas semanas de quarentena obrigatória. Há um temor na Europa de que a Espanha esteja mergulhando numa nova epidemia.

"Já houve cancelamentos e espera-se mais", disse Emilio Gallego, secretário-geral da associação de hotéis da Espanha. "Ninguém virá aqui para uma semana de férias e depois passará 14 dias trancado em casa".

Na segunda-feira, o governador da Catalunha – uma das áreas da Espanha mais atingidas pelo ressurgimento do coronavírus – disse que a situação já é semelhante à anterior ao confinamento nacional decretado em março.

"Estamos nos dez dias mais importantes do verão, e durante esse período veremos se somos capazes de resolver a situação através da solidariedade, cooperação e de um esforço coletivo", disse Quim Torra. "A situação é crítica e, se não conseguirmos, teremos que retroceder."

Cerca de 8 mil casos foram confirmados na Catalunha nos últimos 14 dias – quase metade das 16.410 infecções registradas em toda a Espanha no período.

Nesta terça-feira, o Ministério do Exterior alemão desaconselhou viagens turísticas não necessárias às regiões da Catalunha, Aragão e Navarra, no norte da Espanha, devido à alta das infecções e bloqueios locais.

Só no último fim de semana, foram 6.361 casos na Espanha, o que eleva o total de infecções no país para 278.782. Como comparação, quando a pandemia estava em seu auge, em 31 de março, a Espanha teve 9.222 casos em um dia.

Espanha tem ruas cheias durante o verão: popular destino de turista europeusFoto: picture-alliance/Zumapress/J. Merida

Testes obrigatórios na Alemanha

Outros países adotaram uma abordagem diferente em relação aos temores sobre o aumento das infecções.

A Alemanha, por exemplo, pretende tornar os testes de coronavírus obrigatórios para os viajantes que retornam de áreas de risco.

"Devemos evitar que os viajantes que retornam não percebam que estão infectando outros, desencadeando assim novas cadeias de infecção", afirmou o ministro da Saúde Jens Spahn na segunda-feira.

Até a introdução da alternativa, viajantes procedentes de regiões de risco precisavam cumprir uma quarentena em casa, a menos que apresentassem teste negativo realizado nas últimas 48 horas. Essa fórmula, no entanto, era considerada ineficaz, pois não havia monitoramento real do cumprimento e de como fazê-lo, principalmente devido ao número crescente de viajantes durante a época de férias.

Desde o fim de semana, alguns aeroportos alemães, como o de Frankfurt, já oferecem o teste de covid-19 aos que retornam ao país. A decisão de realizar o exame, porém, cabe ao passageiro, como uma alternativa à quarentena.

Na Alemanha, cresce o medo de que o país possa estar diante de um novo surto de coronavírus. Alguns especialistas dizem que a Alemanha está à beira de uma nova onda, outros afirmam que ela já teria começado, enquanto há os que falam em uma "onda permanente", que duraria até a chegada da vacina.

Surtos em partes específicas de grandes cidades, como em Berlim, e entre turistas etrabalhadores de matadouros e colheitas demonstraram a rapidez com que o vírus pode se manifestar, colocando regiões inteiras em risco de serem novamente postas em confinamento.

Bélgica: confinamento pode ser inevitável

A Bélgica anunciou que a partir desta quarta-feira os habitantes só poderão se encontrar no máximo com cinco pessoas fora de seu círculo familiar – até então, a "bolha social" permitida era de 15 pessoas.

As medidas vieram depois que o país registrou 1.952 novos casos na semana passada, mais de 70% acima do número da semana anterior. Autoridades descreveram a situação como preocupante.

As restrições na Bélgica foram anunciadas na segunda-feira pela primeira-ministra Sophie Wilmès, que deixou claro, no entanto, que um segundo confinamento obrigatório pode ser inevitável no país.

"Se não conseguirmos conter o coronavírus, será um fracasso coletivo", disse Wilmès. "Os especialistas dizem que é possível evitar outro confinamento. Mas é preciso lembrar que os principais cientistas do mundo são ainda incapazes de saber como a situação se desenvolverá. Não queremos assustar as pessoas, mas também não podemos abusar delas, fingindo saber tudo."

A cidade belga de Antuérpia anunciou um toque de recolher noturno na segunda-feira: bares e restaurantes terão que fechar às 23h, e os cidadãos terão que a chegar em casa no máximo às 23h30, permanecendo ali até as 6h da manhã.

França: mil casos por dia

A França, por sua vez, ordenou um toque de recolher obrigatório para o polo turístico de Quiberon, muito popular entre britânicos na costa atlântica do país, após um surto de coronavírus, com mais de 50 infecções.

Os parques e jardins da região também ficarão fechados à noite, numa tentativa de evitar grandes aglomerações, especialmente de jovens.

As autoridades estão em alerta máximo em toda a França devido às viagens durante as férias de verão. Na semana passada, as máscaras se tornaram obrigatórias em todos os espaços públicos fechados do país, e o governo já advertiu que bloqueios pontuais podem ser necessários.

No sábado, os testes para covid-19 foram tornados gratuitos em toda a França sem necessidade de receita médica.

"Os serviços estatais instam toda a população de Quiberon a reduzir drasticamente seus contatos sociais e a respeitar as medidas preventivas", disseram as autoridades.

A França, onde o vírus até aqui matou mais de 30 mil pessoas, está atualmente registrando mais de mil novos casos por dia em todo o país.

Agravando os temores, em muitos países do sudeste europeu, como Sérvia e Croácia, observa-se um aumento significativo de novas infecções pelo coronavírus. A OMS já alertou que a região pode fazer ressurgir a pandemia no continente inteiro.

A Europa registrou mais de 200 mil mortes desde o início da pandemia. Espera-se que a economia da União Europeia recue 7,4% em 2020, e uma recuperação está prevista apenas para 2021. Grécia e Itália, dois países altamente dependente do turismo, deverão ser as economias mais afetadas, com um declínio do PIB de 9,7% e 9,5%, respectivamente.

RPR/afp/ap/ots

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